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SOS Água, SOS Verde

Autor original: Flavia Mattar

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

O Rio de Janeiro continua lindo? Quando o assunto é água e vegetação a música cantada por Gilberto Gil, que já encheu de orgulho tantos cariocas, desafina. Segundo a coordenadora de meio ambiente e desenvolvimento do Instituto de Estudos da Religião (ISER), Samyra Crespo, o capítulo Meio Ambiente e Sustentabilidade do Relatório de Desenvolvimento Humano revela que a situação das águas e das florestas do Rio de Janeiro é dramática e, como a grande vocação do estado é turística e o seu principal bem é a beleza, ela alerta: "O Rio está matando a sua galinha dos ovos de ouro".


Além da questão econômica está em jogo a qualidade de vida da população. O carioca pode estar ingerindo água poluída, ao mesmo tempo em que se banha em um mar que, mesmos nos considerados melhores pontos, apresentou um índice de até 29% de suas amostras reprovadas.


"Já foi constatado que em vários bairros, como Catete, Laranjeiras e Botafogo foram detectados problemas com a água potável. A Cedae não tem dados transparentes sobre o assunto. Eu acho que, se algo não é transparente, há indícios de que a qualidade da água que ingerimos não é boa", sugere Samyra.


O relatório constatou as condições críticas da água do Paraíba do Sul, responsável pelo abastecimento de 12 milhões de pessoas. "A carga poluente do estado do Rio nessa bacia não é nada desprezível: além dos esgotos sanitários de vários municípios fluminenses que ali chegam sem tratamento, o Médio Paraíba é cercado por indústrias de grande porte, como a Companhia Siderúrgica Nacional, Dupont e etc...Os resultados do monitoramento deste rio mostram que a contaminação de suas águas está acima dos padrões nacionais instituídos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para manganês e cádmio, coliformes fecais e fosfato, entre outros", explica Samyra.


Também foi realizada uma análise das condições da Baía de Guanabara, que recebe efluentes diários de 6 mil indústrias; 3 toneladas por dia de óleo da Reduc; 2,3 toneladas por dia de óleo de 16 terminais de petróleo; 465 toneladas diariamente de carga orgânica dos esgotos da região metropolitana; dois portos comerciais (Rio-Niterói); e vazadouros diversos de lixo. O resultado disso é o declínio da pesca comercial; a destruição de 50% dos manguezais; a violação de padrões nas 53 praias; o assoreamento crescente (81 cm a cada 100 anos), o que vai prejudicar que os navios atraquem nos portos, gerando problemas econômicos; e ocupação desordenada e precária nos 15 municípios do entorno.


Com relação as áreas verdes, o estudo revela que a Mata Atlântica ocupava originalmente 3.500 km ao longo do litoral brasileiro, cobrindo cerca de 12 % do território nacional. Estimativas apontam para o fato de que o Rio de Janeiro possuía, até 1.500, uma cobertura florestal em 97% do seu território. Os diferentes ciclos de ocupação de sua área reduziram drasticamente esta cobertura. A Mata Atlântica se resume hoje a fragmentos isolados de diversos tamanhos que, somados, chegam a menos de 8.8% de sua cobertura original. "É importante ressaltar também que os parques de conservação ambiental são de "papel", ou seja, eles existem sem a devida gestão, conservação e estão sendo invadidos, como o Parque da Cidade, que já foi alcançado pela Rocinha. De floresta nativa, o Rio tem apenas 15.6%, isso sendo muito generosa, pois a Floresta da Tijuca, secundária, foi incluída neste percentual", revela.


Outro ponto tocado no relatório foi a visão que a população do Rio tem dos serviços ambientais prestados. "O maior percentual de preocupação da população da Zona Sul e do Centro foi a poluição sonora. A Zona Norte ressaltou a poluição do ar. A Barra e Zona Oeste se preocupam mais com a questão dos córregos e dos rios poluídos. A questão do lixo, do esgoto e da água não foram citadas como prioritárias em nenhuma das localidades analisadas", relata.


O Relatório de Desenvolvimento Humano do Rio de Janeiro será publicado e apresentado à sociedade no mês de junho. Na mesma publicação serão encontrados estudos sobre violência, saúde e educação, entre outras. As pesquisas são resultado de uma parceria entre o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), a Prefeitura e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

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