Você está aqui

Mesoamérica: Ressuscitar a Natureza como Meio de Vida

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

Seção original:

Por Frank A. Campbell
Tradução por Regina Whitaker*


Imagine uma floresta começando na América do Sul, passando pela América Central e continuando até a América do Norte e você acabou de imaginar como era no passado. Hoje, infelizmente, esta rica manifestação da natureza está reduzida a um grande número de florestas isoladas enfrentando o fantasma da destruição.


Só na Mesoamérica – Sul do México e os sete países da América Central – 44 hectares de florestas são perdidos a cada 60 segundos, principalmente para satisfazer a demanda por madeira. Se isto continuar sem freios, a área ficará virtualmente sem florestas em uma década e meia. Pelo menos 42 espécies de mamíferos, 31 espécies de aves e 1.541 espécies de plantas altas (sem contar algas por exemplo) acreditamos estar correndo risco de extinção.


Esta é uma perda potencial da biodiversidade que nem a região nem a comunidade global podem suportar. Apesar de medir somente 768.990 km, ou seja, aproximadamente 1% das terras acima do mar, esta área constitue 8% da biodiversidade da Terra e está entre as mais ricas do mundo.


O Panamá sozinho tem 929 espécies de aves, mais que o Canadá e os Estados Unidos juntos. Belize tem somente 22.965 km2 em área, mas é o lar de mais de 150 espécies de mamíferos, 540 espécies de aves e 151 espécies de anfíbios e répteis. Costa Rica, com uma área menor que a Dinamarca, contém mais de 55 unidades de biotas distintas – comunidades de plantas e animais com formas de vida e condições ambientais similares. Esta região abriga mais de 365.000 espécies de arthropods (um grande número de invertebrados, variando de pequenas aranhas a grandes carangueijos). Sim, são 1.000 espécies para cada dia do ano! Há mais de 800 espécies de orquídeas na Nicarágua. Quase 70% da flora vascular das altas montanhas da Guatemala são endêmicas daquele país.


A América Central sozinha tem de 20.000 a 25.000 plantas da espécie vascular. A mesma quantidade é encontrada no Peru, que é quatro vezes maior, ou nos Estados Unidos, que é 15 vezes maior. Ainda mais, o principal centro arqueológico remanescente da civilização dos Maias está localizado no Corredor Biológico da Mesoamérica.


A notícia ruim é que a situação de conservação de um terço da Mesoamérica, ou seja 33 ecoregiões, está sendo considerada como "crítica", e outro terço está sendo visto como "em perigo". Sobra apenas um terço de área considerada como "aceitável" em termos de saúde ecológica.


Felizmente, um importante programa foi iniciado, denominado "Corredor Biológico da Mesoamérica" a fim de ajudar a salvar a biodiversidade deste importante pedaço da superfície da Terra. "Hoje", informa uma declaração de 11 de Abril de 2000, feita pelo departamento de comunicações do programa, "se inicia um dos mais ambiciosos programas sociais e ambientais da América Central e região do Sul do México". O objetivo do programa, a nota informa, é a recuperação da "cadeia de florestas que até poucos anos atrás ligava a América do Sul com a América do Norte e que agora se parece mais com uma série de conglomerado inútil ameaçada por sentimentos indiscriminados."


Este programa, com sede em Nicarágua, representa mais do de um projeto de esperança na área ambiental. Projeta uma nova América Central no cenário político. Na abertura oficial em 11 de Abril, o Ministro do Meio Ambiente e Recursos Naturais da Nicarágua, Roberto Stadhagen, declarou que "Esta iniciativa reintroduz a região da América Central aos olhos do mundo como uma região de progresso e desenvolvimento sustentável. Após ser conhecida por conflitos e guerras, emergimos agora como um exemplo brilhante de cooperação internacional para a paz, democracia e meio ambiente."


Sem dúvida, o programa do Corredor Biológico da Mesoamérica representa o estudo internacional de cooperação em altos níveis. Em seu discurso de abertura, o Presidente da Nicarágua Arnoldo Aleman expressou reconhecimento especial e apreciação pelo Global Environment Facility (GEF), o United Nations Development Programme (UNDP) e ao governo alemão pelo suporte ao programa. O GEF, por exemplo, está contribuindo com quase US$ 11 milhões e este investimento está sendo cuidado pelo UNDP. Entre outras fontes de suporte ao programa estão o Banco Mundial e o DANIDA, a agência de ajuda do Governo Dinamarquês.


A necessidade de colaboração internacional para salvar a natureza daquela região se tornou mais evidente com o passar dos anos, cada vez que cada país criava uma instituição, normalmente em nível ministerial, visando a união de esforços para enfrentar os dois problemas gêmeos: a economia pobre e a degradação ambiental. No curso dos últimos 30 anos, os governos da Mesoamérica estabeleceram 461 área protegidas. Esta região compreende quase 31% do território (em Belize) e 2% (em Honduras, Nicaragua, El Salvador e México).


Regionalmente, estas áreas totalizaram 18 milhões de hectares. Somente metade das áreas protegidas tem funcionários. Cerca de 88% encontra-se sem qualquer espécie de projeto de administração. A maior parte do território ainda não foi demarcado. Apenas cerca de 40 dos 461 hectares foi beneficiado com programas de pesquisas. Poucos têm à sua disposição os benefícios legais e institucionais para facilitar a conservação da biodiversidade ou a produção sustentável de produtos e serviços para manter o desenvolvimento da demanda da região.


Ainda mais, 270 hectares – mais da metade – é muito pouco para causar um impacto significativo na biodiversidade, se não se unir a outras área protegidas. Então a importância do trabalho de cooperação regional conjunta da Mesoamérica. Esta iniciativa se volta para 1989, quando os Presidentes da América Central assinaram o Acordo de Proteção Ambiental da América Central e estabeleceram a Comissão Ambiental de Desenvolvimento da América Central (CCAD). Desde então, uma cultura de cooperação caracterizou os trabalhos dos ministérios na região. Hoje a região fala em uníssono a respeito de assuntos ambientais, o que tem sido imprescindível para o desenvolvimento da Agenta Ambiental da América Central. Esta Agenda formou as bases para o trabalho regional no Rio Summit 1992.


O CCAD, elevado à categoria de secretaria ambiental dentro do Sistema de Ingtegração Ambiental da América Central (SICA), um movimento de integração regional, foi instrumental na coesão das vozes regionais e internacionais. Também ajudou a fortalecer os ministros do meio ambiente dos países e foi o marco inicial de várias atividades regionais, incluindo a iniciativa do Corredor Biológico Mesoamericano.


Enquanto dirigido à revitalização do corredor natural do norte do México ao sudoeste do Panamá, a iniciativa, de acordo com sua fonte no web, "não está focada exclusivamente na proteção de animais, plantas e microorganismos que habitam as florestas tropicais, mas acarretará em benefícios numa sequência de prioridades ao povo que lá habita, a todos os Mesoamericanos e, por extensão, a todo o mundo".


Para conseguir todas estas coisas, o programa está sendo construído sobre dois pilares mestres. O primeiro e mais conhecido, a conservação da biodiversidade. Isto inclui o fortalecimento das áreas protegidas e a construção de integração entre elas.


O segundo pilar é o uso sustentável dos recursos da região. Mais do que criar normas de política informando ao povo o que não devem fazer com as florestas, por exemplo, o programa vai educá-lo em como e o quê podem fazer sem causar danos ecológicos. Tanto a agricultura ambiental – incluindo produção de produtos orgânicos – como também ecoturismo, proteção à pesquisa farmacológica e reflorestamento foram identificados como possíveis áreas de atividades e investimentos.


O governo da região espera que, com a revitalização das florestas, venha a contribuir com um "grão de areia", para citar as palavras do Ministro Stadthagen, a fim de reverter a tendência de aumento da temperatura global.


Resumindo, os patrocinadores e responsáveis pelo programa acreditam que, com seus esforços para recriar o futuro, ele se torne mais fácil. Carmelo Angulo do UNDP pensa ter capturado a visão do futuro, já benefíciando os participantes do lançamento do programa.


"Pessoalmente", disse Angulo, "quero acreditar que muitos estarão presentes nos próximos seis anos, quando será feita uma avaliação do sucesso e dos benefícios conseguidos por este grande programa regional que está sendo desenvolvido. Estou totalmente confiante de que naquele momento a região terá mudado para melhor, o panorama do desenvolvimento humano ficará mais nítido e novas oportunidades se abrirão para que afinal uma melhor e mais longa vida seja acessível a todos."


Regina Whitaker* é Advogada ambientalista especializada em Mudanças Climáticas. Estre artigo foi publicado na Rede CTA-UJGOIAS/CES FAU.

Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer