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A luta dos povos indígenas pela terra

Autor original: Flavia Mattar

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets








Quando os colonizadores chegaram ao Brasil encontraram uma população com uma cultura totalmente diversa da deles – os índios. Esse povo, que tinha todo o território brasileiro a seu dispor, ironicamente, nos dias de hoje, têm como principal reclamação a falta de terra.


"Apesar das demarcações ocorridas nos anos 80 e 90, ainda não há políticas de vigilância e fiscalização satisfatórias, o que faz com que as terras sejam constantemente invadidas e ameaçadas por exploradores, interesses minerários, fazendeiros, entre outros", avalia Renato Sztutman, antropólogo que trabalha no Programa Brasil Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA). Segundo ele, há muitas terras a serem demarcadas, como a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, por exemplo. "Ali, a demarcação vem sendo obstruída por interesses locais. Isso sem falar na ocupação predatória nas redondezas do Parque Indígena do Xingu", completa.


Kátia Vasco, assessora de imprensa do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), afirma que a origem de tudo está na terra. "Os índios vivem basicamente da agricultura, da caça e da pesca. Os que entram em contato com a sociedade costumam vender artesanato cuja matéria prima também é tirada da terra, como sementes, por exemplo. Sem a terra eles se vêem impossibilitados principalmente de produzir o próprio alimento e entram em grau de miséria".


Recente publicação elaborada pelo ISA - Povos Indígenas no Brasil 1996/2000 – declarou o crescimento global da população indígena. "Acredito que isto esteja ocorrendo porque os índios estão se mobilizando e fazendo avançar as demarcações, além de estarem lutando por melhores políticas públicas. Fazer avançar as demarcações, ainda que em ritmo lento, significa terra para plantio, o que assegura a sobrevivência. Além disso, existem povos ressurgidos, que viviam escondidos e agora estão mostrando a sua cara", avalia Kátia Vasco.


Atualmente, existem 358 mil índios em aldeias. Cerca de 900 vivem sem contato com a sociedade – os chamados povos isolados. Cerca de 261 mil habitam em cidades, apesar de continuarem mantendo viva a sua cultura – são conhecidas como aldeias urbanas.


"A grande questão que esse contato coloca é que os índios, em muitas circunstâncias, têm de aprender a lidar com um mundo que não conheciam. Passam a ter de se definir por termos jurídicos, passam a lidar com limites de seu território, passam a ter de compreender outro idioma e passam a ter de conviver com doenças jamais conhecidas. Tudo isso é novo, traz impactos enormes, mas não necessariamente ameaça a cultura desses povos, cultura essa que preferimos definir como um sistema de pensamento e práticas que pode muito bem coexistir com outros modos de vida. Hoje muitos índios têm se mostrado aptos a dialogar de igual para igual com setores da sociedade brasileira, sem ter, com isso, de deixar de lado seus costumes, ritos e etiquetas", conclui Renato Sztutman.

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