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Liderança feminina é transformadora

Autor original: Felipe Frisch

Seção original: Novidades do Terceiro Setor






Luzia era líder sindical de um grupo de costureiras no seu município. Um dia, em assembléia, as trabalhadoras decidiram, por maioria absoluta, que ela deveria concorrer a uma vaga na representação regional, que já estava com eleições marcadas para o final do ano. A líder relutou. Além do tempo que devia dedicar à causa operária, ainda tinha que cuidar da família e da casa. Não só não aceitou a responsabilidade, como nunca mais voltou às sessões do sindicato.


Luzia não é real, mas sua história sim. Casos de lideranças femininas que deixam de concorrer a uma posição mais alta na estrutura que ocupam, para não abandonarem suas famílias, são freqüentes. E algumas chegam a deixar de lado até mesmo a luta de sua classe. Essa é uma das revelações que traz a publicação lançada na última quinta-feira, “Mudando o Mundo: A Liderança Feminina no Século 21”.


Lançado pela Rede Mulher de Educação e pela Cortez Editora, a organização do livro ficou por conta de um time formado pela jornalista e educadora social Denise Carreira, pela consultora internacional Menchu Ajamil, e pela jornalista e editora especializada em publicações de gênero e meio ambiente, Tereza Moreira.


A obra usou como uma de suas fontes os depoimentos das líderes e educadoras envolvidas no Projeto “Gênero e Liderança” desenvolvido pela Rede Mulher em nove estados brasileiros. O projeto capacitou mais de 340 mulheres de movimentos sociais, sindicatos, associações, ongs e universidades. O resultado dessa pesquisa é um perfil da liderança feminina nesse início de século, e a identificação dos obstáculos a serem superados.


Para Denise - uma das autoras e presidente da Rede Mulher de Educação, além de coordenadora do projeto do qual resultou o livro -, apesar do crescimento de participação na vida pública demonstrado por pesquisas recentes, as mulheres ainda têm tido maior expressão profissional nas áreas “tipicamente femininas”, ou nos setores sociais, onde às vezes quase não há homens e a remuneração é bem mais baixa. São exemplos o Serviço Social e as causas ambientais.


Segundo ela, uma das principais pedras no caminho da sociedade brasileira é a educação discriminatória entre meninos e meninas:


- As mulheres avançaram muito na ocupação do espaço público empresarial e governamental, mas não houve a contrapartida da ocupação doméstica por parte dos homens. As meninas deixam de receber uma educação voltada para a liderança, enquanto os meninos também não têm um ensino voltado para a família.


Para as organizadoras, o público-leitor não deve ser exclusivamente formado por mulheres, já que a proposta que o livro traz é de uma “liderança transformadora”. Essa nova forma descredibiliza a idéia de que “poder é coisa de homem”, e propõe que mesmo estes possam ocupar o poder fora dos formatos de autoritarismo e até de “grosseria” que, muitas vezes, as próprias mulheres exigem de outras para as reconhecerem como líderes.


A obra estará disponível nas livrarias do país, ou pode ser obtida pelo correio eletrônico da Rede Mulher de Educação, rdmulher@redemulher.org.br, a R$ 19.

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