Você está aqui

Quando a solidariedade ajuda a ler e escrever

Autor original: Flavia Mattar

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

Imagine um Brasil das maravilhas. Nesse país de sonho, todos, sem exceção, teriam acesso a no mínimo oito anos de ensino básico. Se isso acontecesse, 13,1 milhões de pessoas, hoje abaixo da linha de pobreza, seriam resgatadas. Essa é uma das conclusões a que chegou uma simulação matemática feita pelo economista Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Muitas organizações do terceiro setor estão unindo esforços com a iniciativa privada e com o governo para tornar essa fantasia uma feliz realidade.


"É importante aproveitar a estrutura nacional do Estado, sua capacidade de alocar e captar recursos, e associar à capacidade de produção de serviços regionais das ongs, de comprovada qualidade, e aos recursos vindos do setor privado. Acho que essa é a fórmula para chegar mais perto dos anseios da população", acredita Ricardo Cunha, da equipe técnica do Instituto Paulo Freire.


O Programa Comunidade Solidária, por exemplo, começou a atuar no Brasil em 1997, a partir do Conselho Comunidade Solidária, para reduzir os índices de analfabestismo e desencadear a oferta pública de Educação de Jovens e Adultos. No início beneficiava 9,2 mil alunos, em apenas 38 municípios das Regiões Norte e Nordeste do país. Atualmente o programa atua em 1.244 municípios, é financiado por 93 empresas e instituições parceiras e tem o apoio de 180 universidades. Para 2001, a meta é ampliar a atuação para 1.500 municípios, com 200 universidades envolvidas, 120 empresas parceiras e atender a mais 800 mil jovens e adultos.


O modelo de atuação adotado pelo programa permite que o custo mensal para a manutenção de um aluno seja de somente R$ 34. Como isso seria possível? As prefeituras disponibilizam as salas de aula; as instituições de ensino superior - através do trabalho voluntário de seus professores - capacitam alfabetizadores oriundos da comunidade onde irão atuar e acompanham e avaliam os resultados do programa nos municípios. Os alfabetizadores são selecionados pelas universidades parceiras do projeto. A escolaridade mínima exigida é o primeiro grau completo.


"Os R$ 34 de que necessitamos são divididos entre o Ministério da Educação e empresas, instituições privadas e públicas, que adotam municípios na região Norte e Nordeste", explica Regina Esteves, Superintendente Executiva do Programa Alfabetização Solidária. As empresas assumem metade do custo de cada aluno de toda a rede de ensino pública do município. Já o Ministério é responsável por dar a sua parte com material didático e de apoio para alunos e alfabetizadores, além de estruturar bibliotecas nos municípios atendidos.  Pessoas físicas também podem contribuir com o projeto. Para adotar um aluno basta ligar para 0800-700017 e doar R$ 17 mensais por um período de um semestre. Os recursos são destinados para compra de merenda e pagamento da bolsa dos alfabetrizadores, entre outros exemplos.


"O período de alfabetização de um estudante é de seis meses. Nosso objetivo é promover a iniciação da vida escolar de jovens e adultos que não puderam ou não tiveram a oportunidade de fazê-lo quando criança. E isso não se limita à questão da escrita e da oralidade, mas sobretudo, desperta nos alfabetizandos o interesse pela leitura, o resgate da cidadania e o seu ingresso na sociedade", conclui Regina.

Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer