Autor original: Marcos Lobo
Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor
É grande a dose de otimismo entre entidades da sociedade civil e o governo quando o assunto é Internet. O motivo para tanta expectativa é a realização nos próximos dias 14, 15, 16 e 17 de maio da Oficina para Inclusão Digital, em Brasília.
O evento marcará o ponto de partida para uma série de debates e palestras sobre a questão da universalização do acesso à Internet no Brasil. Trata-se da ampliação de uma discussão em favor da igualdade de oportunidades na nova sociedade da informação.
Com o apoio de entidades da sociedade civil como a Rede de Informações para o Terceiro Setor (RITS), Sampa.org e o Comitê para Democratização da Informática (CDI), a Oficina de Inclusão Digital divulgará, ao final do encontro, um documento que servirá de base para as futuras políticas do governo na área de informação.
"É uma iniciativa muito positiva, tanto para a sociedade civil como para o próprio governo. A expectativa quanto ao seu sucesso é grande", comenta Joachim Knoop, diretor da Fundação Friederich Ebert, entidade alemã que também faz parte do projeto. Segundo ele, a Internet deve ser encarada como uma ferramenta prática na vida das pessoas.
Devido à complexidade do tema e à necessidade de estabelecer metas para a implementação do projeto, a grade de programação da Oficina de Inclusão Digital foi dividida em três frentes: cidadania, educação e infra-estrutura.
Para o governo, a universalização do acesso à Internet facilitará a interação entre os órgãos públicos e a população, garantindo uma participação mais ativa da sociedade. De acordo com o texto divulgado no site do evento, a intenção é transformar a Internet em "instrumento de fortalecimento da cidadania e da eficiência do Estado".
Para o diretor de desenvolvimento da RITS, Carlos Afonso, trata-se de uma boa oportunidade para que seja discutida a extensão do acesso às Tecnologias de Comunicação e Informação para uma parcela maior da sociedade. Informatização e conectividade em escolas, hospitais e postos de saúde públicos, bibliotecas públicas e organizações do terceiro setor - são vários os projetos. Carlos Afonso cita também o "e-governo, que pode contribuir para reduzir a corrupção", ressalta. "Se tudo isso for bem conduzido, o impacto será grande", prevê.
No campo da educação, o programa de Inclusão Digital é bastante ambicioso: informatizar todas as escolas públicas do país num período de dois anos e possibilitar aos estudantes o acesso gratuito à Internet . Outro projeto que se destaca é o Projeto Bibliotecas na Sociedade da Informação, que prevê a criação de 10 mil centros de informação para as comunidades, nos próximos dois anos, em todo o Brasil. Estes centros serão compostos de Bibliotecas e computadores ligados à Internet. Cinco mil deles, poderão ser criados ongs que disponham de bibliotecas abertas à comunidade - o que significa um golpe efetivo na exclusão digital que conhecemos hoje. E um passo adiante na democratização do acesso à Informação, como nunca se viu no país. Através do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, o governo espera destinar mais de R$1 bilhão para o funcionamento destes projetos.
Apesar destas iniciativas, setores do governo, iniciativa privada e ONGs reconhecem que serão grandes os desafios para informatizar todo o Brasil. Num país formado por aproximadamente 5 mil municípios, dos quais apenas cerca de 300 dispõem de acesso à Internet, a preocupação com o desenvolvimento de uma infra-estrutura adequada é cada vez maior. Para solucionar o problema, a parceria com empresas privadas parece imprescindível. Carlos Afonso lembra que as operadoras assinaram contratos de concessão com o governo federal para operar os serviços de telecomunicações, nos quais estão embutidas exigências de universalização a serem cumpridas em etapas, sendo que a primeira termina em dezembro de 2001. Também é necessário definir os responsáveis pelo financiamento da capacitação de pessoal e manutenção dos equipamentos em toda a rede. Até agora, os recursos para garantir a segunda etapa do projeto permanecem desconhecidos.
Ao mesmo tempo em que participam da Oficina para a Inclusão Digital, em Brasília, muitas entidades da sociedade civil ainda não desfrutam totalmente dos benefícios oferecidos pela presença da Internet no Brasil. Após seis anos de uso comercial no país, a rede mundial de computadores ainda é muito pouco explorada pelo Terceiro Setor. "Entre as 170 mil entidades formalmente registradas, há pelo menos 20 mil ONGs que trabalham com público mais
abrangente - entre as quais, muito poucas usam a Internet", diz Carlos Afonso.
Em pesquisa realizada recentemente pela Fundação Friederich Ebert junto a 56 entidades da sociedade civil, 67% das organizações consultadas utilizam parcialmente a Internet em suas atividades, enquanto 19% considera-se precariamente informatizada. A pesquisa aponta também que muitas passam por dificuldades para investir na área de Internet: 49% reclama do alto custo oferecido pelas empresas do mercado. A falta de investimentos reflete-se na própria capacitação dos funcionários: cerca de 80% das entidades ainda não ofereceram cursos sobre Internet para sua equipe.
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