Você está aqui

Crianças esperando por um lar

Autor original: Flavia Mattar

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

Adotar um filho, depois da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), não é mais um processo incerto e desgastante. Não é preciso que o indivíduo seja casado e rico para estar habilitado a ser pai ou mãe adotivos. Hoje, são mais consideradas as condições psicológicas daqueles que estão se propondo a viver essa experiência. Apesar de todas as facilidades, é grande o número de crianças acima de três anos, negras, vivendo em abrigos, à espera de um lar. À medida que a faixa etária vai aumentando, esse percentual cresce ainda mais.


No Brasil, há carência de estatísticas sobre o assunto, mas profissionais que lidam cotidianamente com a questão afirmam que a preferência é por meninas brancas e recém-nascidas. O juiz Fermino Magnani Filho, que atua na Vara da Infância e da Juventude do Foro Regional da Lapa, em São Paulo, confirma essa tendência: das 30 famílias que esperam por adoção na vara onde atua, 21 querem uma criança com essas características. O grande problema é que são poucas as crianças recém-nascidas disponíveis para adoção.


"A preferência demonstrada pelos pais adotivos não retrata a realidade nacional do abandono das crianças e adolescentes em nosso país. Aí entra o trabalho dos Grupos de Apoio à Adoção em parceria com o Poder Judiciário e os mais diversos organismos em uma tarefa de conscientização de nossa sociedade sobre a realidade das crianças disponíveis para adoção – a grande maioria afro-descendentes e acima de três anos", explica Paulo Sérgio Pereira dos Santos, presidente da Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção e Vice-Presidente do Projeto Acalanto.


A Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH) atua há 15 anos promovendo a adoção tardia e interacial junto aos juizados da infância e juventude do Estado do Rio de Janeiro. Cerca de 300 crianças foram adotadas por meio dessa instituição, que hoje em dia atua também com capacitação sobre a metodologia que utiliza e oferece palestras e debates para defender o direito das crianças e dos adolescentes a um ambiente familiar.


"Uma das nossas maiores dificuldades é encontrar famílias interessadas na adoção de crianças acima de cinco anos. Por isso focamos o atendimento nos casos mais difíceis e específicos. É verdade que a fase de adaptação de um bebê é mais fácil. No entanto, o que determina o sucesso da relação adotiva harmônica é a certeza dos pais em relação a paternidade e maternidade adotiva e a confiança que passam para a criança ao falar de seu passado como parte integrante do processo", conclui Cláudia Cabral, diretora-executiva da ABTH.

Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer