Na década de 1990, alguns países em desenvolvimento começaram a despontar no cenário internacional e foram classificados por acadêmicos como as "potências do futuro". Hoje, essas nações ainda enfrentam desafios para assumirem um discurso comum, revela o estudo "Cooperação Sul-Sul: O mesmo velho jogo ou um novo paradigma?", de Melissa Andrade, do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo, do PNUD. Publicado na 20ª edição da revista Poverty in Focus, o artigo afirma que potências emergentes como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul tentam elaborar uma política própria mesclando traços do capitalismo e do socialismo, o que fica evidente principalmente na aposta por um Estado forte. Melissa ressalta que um dos desafios dos países é fugir do "caminho histórico rumo ao desenvolvimento capitalista", que, segundo ela, tende a reproduzir - em vez de substituir - os ideais de consumo encontrados nas nações mais ricas. A orientação adotada pelos emergentes acaba resultando na falta de uma base teórica ou analítica sobre o papel, a posição e a evolução do chamado "Sul", acrescenta a pesquisa."A construção de um novo consenso entre Brasília, Nova Délhi ou mesmo Pequim nesses assuntos seria um importante passo à frente na cooperação Sul-Sul e no discurso", destaca a pesquisadora, que completa que esses territórios devem absorver as influências ideológicas e forjar alianças para a obtenção de um acordo global. Esforços em busca de coesão O documento lembra que os Estados Unidos, ícones do capitalismo, foram bem-sucedidos em disseminar seus princípios ideológicos, principalmente ao uni-los aos projetos derivados do Consenso de Washington, um conjunto de medidas que visava a promover o "ajuste" econômico de países em desenvolvimento. "O 'sonho americano' conquistou os corações do mundo", acrescenta o texto. Já as nações do Sul, afirma Melissa, não têm o mesmo nível de coesão ou mesmo um sonho em comum. "Uma nova síntese vai exigir muita liderança, assim como pensar sobre a melhor forma de se seguir em frente", completa a pesquisadora. Uma maneira de alcançar isso seria por meio do estímulo a fóruns acadêmicos de grupos regionais. O primeiro passo nesse sentido foi a proposta de criação de uma versão da Organização dos Estados Americanos (OEA), mas sem Canadá e Estados Unidos, que são os únicos países desenvolvidos no continente americano. O estudo afirma também que a aliança entre Índia, Brasil e África do Sul (IBAS) e o grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) reforçam a organização política dos emergentes. Essa coesão esbarra em um empecilho, pelo menos na América do Sul, onde "o poder é contestado entre Venezuela e Brasil", de acordo com o artigo. "É importante para os países formarem seus próprios grupos tendo como base interesses comuns, mas há maiores custos transacionais em multiplicar o fórum para coordenação política, e os resultados são, na maioria das vezes, duvidosos", adverte.Além disso, a pesquisadora destaca que o Plano de Ação de Buenos Aires (1978) já havia ressaltado que a cooperação entre as nações em desenvolvimento deveria ser dirigida pelos princípios do respeito à soberania nacional, da propriedade nacional e da independência, da igualdade, incondicionalidade, não ingerência nos assuntos internos e dos benefícios mútuos. Ajuda ao desenvolvimento A forma escolhida para apoiar as nações mais pobres foi por meio da cooperação técnica ao desenvolvimento, respeitando a autonomia desses Estados menos favorecidos. Essa postura, segundo o texto, contrasta com a dos países do Norte, onde "estratégias são elaboradas e o apoio é, geralmente, enviado diretamente ao orçamento, como aprovado na Comissão de Assistência ao Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE)".O auxílio, sugere o artigo, pode ser mais bem empregado na área ambiental. "Alguns países do Sul estão fazendo experiências com fontes de energias renováveis, como o biodiesel. A Costa Rica anunciou seu objetivo de se tornar o primeiro país sem carbono até 2021, e o governo da China já destinou 3 trilhões de iuanes (US$ 440 bilhões) até 2020 para o desenvolvimento de uma nova fonte energética", exemplifica.Agora, alguns emergentes reavaliam a estrutura de cooperação técnica, e um encontro sobre o assunto no Quênia, em dezembro de 2009, teve como resultado uma declaração forte que enfatizou que "a cooperação Sul-Sul não deveria ser vista como ajuda oficial ao desenvolvimento".Potências emergentes como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mesmo seguindo políticas distintas, têm desempenhado, nos últimos anos, um papel novo em suas histórias: a de fomentadores do desenvolvimento das nações menos favorecidas. Por terem fortalecido sua base econômica, já <!-- @page { margin: 2cm } P { margin-bottom: 0.21cm } A:link { so-language: zxx } -->não precisam receber o mesmo nível de assistência que costumavam acumular no passado. Desafios Embora as potências emergentes tenham confirmado sua independência ideológica e política em relação a países mais ricos, optando por um Estado forte e escolhendo como destinar a ajuda ao desenvolvimento, ainda enfrentam desafios internos. "O infanticídio feminino ainda é um grave problema na China, as desigualdades diminuíram no Brasil, mas permanecem altas", alerta Andrade. Na África do Sul, a corrupção é um problema sério, enquanto na Índia 25% da população vivem abaixo da linha de pobreza. "As economias emergentes terão que mostrar que enfrentam desafios de desenvolvimento internos enquanto, ao mesmo tempo, tomam a liderança no debate e adotam práticas para o desenvolvimento global", ressalta a pesquisadora do PNUD. Melissa destaca que é importante identificar os desafios, assim como se faz necessário criar alternativas para a corrente principal do discurso sobre desenvolvimento. "Novos modelos devem ser inventados", conclui. Fonte: PNUD
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