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Greenpeace faz 10 anos de Brasil

Autor original: Felipe Frisch

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






O Greenpeace está comemorando 10 anos de atividades no Brasil com uma proposta, no mínimo, ambiciosa - mas que se levada a cabo, será uma vitória importante para a organização e para o país. Não necessariamente nessa ordem. O que os líderes da organização pretendem é alcançar o desmatamento zero na Amazônia, até 2010.


Para atingir essa marca, algumas iniciativas são urgentes, eles reconhecem. A principal delas, segundo o Diretor de Campanhas da organização, Délcio Rodrigues, é implementar os “parques de papel” existentes. “De papel” porque nunca foram implementados de fato, mas hoje servem de argumento para a proposta de reforma do Código Florestal do deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR). “Ele soma as áreas dos parques com áreas de manancial e áreas de proteção. Não leva em conta as sobreposições, e nem as áreas que não são protegidas na prática”, constata.


Outra discussão que faz o momento ainda mais grave é a crise energética. “Estão querendo reduzir os mecanismos de proteção ambiental para a construção de mais hidrelétricas”. A constatação é do diretor do escritório do Greenpeace em Manaus, Paulo Adário. Ele reconhece que, sem apoio federal, vai ficar difícil alcançar a meta. “Graças a Deus, o Avança Brasil ainda não saiu do papel. Uma pesquisa da Nature mostrou que o plano vai acabar com o que resta da Amazônia. São centenas de milhares de quilômetros de estrada previstos”, diz.


A lista de exigências a serem levadas ao governo até setembro inclui: que se cumpra com o compromisso de transformar 10% da floresta em parque e que sejam demarcadas as terras indígenas nos 20% a que elas correspondem, e não apenas os 12% de hoje. Outro ponto que tem que ser fortalecido é a fiscalização. “O fato de ser área de proteção atualmente não garante nada. O que acontece hoje é uma piada”, diz Adário, lembrando do caso do Parque Nacional da Amazônia, onde apenas dois fiscais têm de dar conta da área. Para ele, o que falta ao governo é ter uma proposta única e nacional:


- Os Ministérios não falam entre si. O do Meio Ambiente, claro, luta pela preservação porque essa é a sua função, mas o Incra e o Ministério da Agricultura continuam fazendo 82% de seus assentamentos na região, ainda que 90% das terras da floresta seja incultivável. Fora isso, cada estado que faz parte da floresta tem um projeto independente do outro. O governo federal não tem interesse de preservação. Tem interesse de marketing apenas.


Adário alerta que o governo tem que perceber que derrubar uma floresta para plantar soja ou para expandir a pecuária não compensa. Nem mesmo economicamente. “A rentabilidade por hectare é muito menor do que se fosse retirada madeira de forma sustentável. Fora isso, a grande riqueza do Brasil é a biodiversidade, que está dando lugar para vaca e soja”, diz. “O que queremos é um modelo econômico diferenciado”, conclui.


Na opinião do diretor do escritório do Greenpeace em Manaus, ainda não há motivos suficientes para comemorar:


- A conscientização ambiental no país cresceu, mas não foi acompanhada de políticas adequadas. O  brasileiro não tem idéia do que é a Amazônia e do que tem que ser feito. A preservação ainda não é parte do comportamento real, assim como a democracia. É tudo muito novo. O cara fala que tem que preservar, que a Amazônia é nossa, mas logo depois joga uma lata pela janela do carro.


A luta continua fora da floresta


Fora do território da Amazônia, as principais frentes de luta do Greenpeace Brasil são duas: uma, contra a utilização de transgênicos na agricultura; outra, pela maior fiscalização dos casos de poluição tóxica gerados pela indústria. Nesse último caso, para o Diretor de Campanhas, Délcio Rodrigues, “o que falta, do ponto de vista das atribuições do governo, é legislação clara e fiscalização. Do ponto de vista empresarial, o que falta é vergonha na cara”.


Segundo ele, o que acontece hoje é um regime de “duplo padrão”, ou seja, as indústrias produzem aqui o que foram proibidas de produzir no exterior. Ou seja, elas sabem que os produtos são poluentes. E ele cita empresas como Bayer e Gerdau, e casos recentes como o da Shell, que continuou produzindo os “drins” no Brasil, quando foram proibidos nos EUA e mesmo quando foram proibidos aqui, em 85. Quanto aos transgênicos, os casos de venda em supermercados que vêm sendo registrados acontecem quando as sementes vêm de contrabando, ou quando os produtos recebem matéria prima estrangeira, como lecitina de soja e glicose.

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