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Christopher Flavin, em entrevista exclusiva

Autor original: Felipe Frisch

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets






Em passagem pelo Rio de Janeiro para uma palestra durante o evento "Experiências de Sucesso em Desenvolvimento Sustentável" (6 e 7 de junho), o Presidente do WorldWatch Institute, Christopher Flavin, deu uma entrevista exclusiva à Rets sobre a publicação Sinais Vitais 2001. Durante o encontro, promovido pela Petrobrás e pela Fundação Getúlio Vargas, ele destacou a importância de investimentos em mecanismos de produção de energia renováveis, como vento, energia solar e hidrogênio. Para ele, "a era do óleo e dos combustíveis fósseis acabou. Nada dura para sempre. A idade da pedra acabou, e essa também vai acabar, mas por causa das suas conseqüências ecológicas".


Rets – Michael Renner disse recentemente que "cada vez mais, as escolhas do estilo de vida consumista do mundo desenvolvido são freqüentemente tão insalubres para nós mesmos quanto para o planeta que habitamos". E parece que estamos importando esse estilo de vida, mas sem uma igual distribuição de benefícios e prejuízos. Essa má distribuição é uma característica inevitável da globalização?

Christopher Flavin - Eu acho que nada é inevitável. O que você encontra é as pessoas mais ricas nos países em desenvolvimento adotando muito do mesmo estilo de vida e padrões de consumo dos países industriais. No caso do Brasil, que tem uma renda per capita de um décimo da americana, quem consome no mesmo nível dos EUA são os 5% mais ricos. Esses problemas que Michael apontou no Sinais Vitais são questões ligadas ao superconsumo. São problemas globais, mas também problemas ligados à saúde pessoal: as pessoas estão comendo muita carne, por exemplo, e os problemas de saúde, como a obesidade - que estão sendo muito mais divididos entre a população dos países em desenvolvimento e a dos países industrializados.

Rets – Estamos importando esse estilo de vida no que ele tem de mais prejudicial, então?

Christopher Flavin - De alguma forma, existe uma globalização formal, que já vem de muito tempo, desde que os EUA abriram para a cultura européia e para essas idéias - que vieram para a América do Norte e para a América do Sul. É muito mais um fenômeno global. A única forma que temos para combater esses problemas não é impedir a globalização de idéias, mas dar preferência para outras idéias, sobre um estilo de vida sustentável, um padrão de consumo sustentável.

Rets – O Brasil e a Califórnia estão hoje enfrentando uma grave crise de energia elétrica. Mais do que falta de chuvas, isso seria um reflexo desse mau uso dos recursos naturais por parte dos consumidores?

Christopher Flavin - Eu acho que é, claramente, uma combinação entre isso e questões de política econômica. Existe um problema com a regulamentação dos setores elétricos no Brasil e na Califórnia. Eu penso que a solução para o problema é regular de uma tal forma que o setor privado esteja investindo pesadamente em recursos de energia renováveis e em tecnologias de micropotência (que consomem um nível muito baixo de energia). Atualmente, existe muito pouco investimento em energia renovável e muito pouco investimento em desenvolvimento de micropotência, tanto no Brasil quanto na Califórnia, e eu acho que essas fontes de energia podem ser construídas a um custo muito baixo e muito rapidamente, e poderiam ter evitado ambas as crises de energia elétrica. Mas, para isso, você deve ter uma lei para o setor estruturada de uma forma que você encoraje esse investimento privado. Você tem que ter contratos rígidos disponíveis, preços justos para a energia produzida e impostos estimulantes. O desafio agora é revisar essas leis, para que isso não aconteça de novo.

Rets – É possível tirar algo de positivo de uma crise como essas?

Christopher Flavin - Eu acho que a cultura da energia e o investimento em eficiência são importantes lições para serem retiradas de uma crise como essa.


Rets – Que perspestivas essa edição de Sinais Vitais traz para os leitores?


Christopher Flavin - O que Sinais Vitais mostra é que existem muito boas alternativas para altos níveis de consumo, como dietas mais saudáveis, sistemas de transporte menos danosos, mudanças que as pessoas podem fazer em seus estilos de vida e que são também mudanças que o governo pode fazer - em termos de incentivar sistemas que vão permitir que nos tornemos indivíduos mais saudáveis em um mundo mais saudável.

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