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Retrato da ação social das empresas no Brasil

Autor original: Marcos Lobo

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No último dia 28 de maio foram divulgados os resultados finais da pesquisa Ação Social das Empresas, realizada pelo Ipea nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul do país. A pesquisa ouviu cerca de 1.800 empresas privadas de cada região, levantando dados sobre o que o empresariado nacional tem feito para amenizar os sérios problemas sócio-econômicos nessas áreas.

Em entrevista à Rets, a coordenadora-geral do levantamento, Anna Maria Peliano, afirmou que as empresas estão cientes de sua função na sociedade. "A maioria acredita que tem realmente um papel a cumprir, mas sempre atuando em caráter complementar ao Estado".

Lançada em 1999 no Sudeste e em 2000 nas outras regiões, a Pesquisa Ação Social das Empresas procura responder a questões como qual o público as empresas atendem em suas ações sociais, quais atividades desenvolvem e quais recursos utilizam, entre outras informações.

Os dados divulgados revelam que no Sudeste, por exemplo, a área campeã de investimentos é a Assistência Social, com 57% das empresas privilegiando essa atividade. Em seguida aparecem as áreas de alimentação (39%), segurança, (17%) e esporte (16%).

As crianças são o público-alvo prioritário das empresas, recebendo dois terços dos investimentos. Do total de companhias pesquisadas, apenas 8% utilizou as deduções fiscais permitidas por lei. A maior surpresa, porém, é que 57% de todas elas declararam organizar ações sociais de forma habitual.

De acordo com Anna Maria Peliano, os resultados poderão ajudar o Estado na formulação de políticas públicas voltadas para a área social.

Rets – O que a Pesquisa Ação Social das Empresas pretende revelar?

Anna Peliano – A pesquisa faz um retrato da ação social das empresas no Brasil. É uma tentativa inédita de estudar o universo dessas empresas. Procuramos responder a diversas questões como, por exemplo, saber onde e a quem elas beneficiam, quais são as atividade que desenvolvem, que recursos utilizam em projetos sociais, se existe o envolvimento dos próprios funcionários nessas ações e se fazem uso de incentivos fiscais para realizar programas sociais.

Rets – Como a pesquisa foi desenvolvida?

Anna Peliano – Pesquisamos cerca de 1.800 empresas em cada região, o que corresponde a um universo de 700 mil empresas privadas. Toda a primeira etapa da pesquisa foi feita por telefone. Perguntávamos se as empresas praticavam algum tipo de ação social, e aí incluímos desde pequenas doações até a formulação de grandes projetos. Procuramos também conhecer um pouco mais de cada uma delas, saber seu tamanho e origem.

Já na etapa seguinte, enviamos questionários mais detalhados para as empresas e chegamos a fazer pesquisas qualitativas em algumas delas na região Sudeste.

Rets – De que forma a pesquisa pode ser útil ao governo, empresas privadas e entidades do terceiro setor?

Anna Peliano – Ela será útil ao governo na formulação de políticas públicas para a área social. Sabemos que o governo não consegue resolver todos os problemas sozinho, por isso a pesquisa poderá ser útil na procura do melhor parceiro para fazer determinado projeto.

A pesquisa servirá para estimular a reflexão dentro das empresas privadas, além de incentivar a realização de seminários, palestras e discussões em torno do tema. Para o terceiro setor, ela fornece idéias para as áreas que necessitam de maior atenção.

Rets – Qual a visão que as empresas privadas têm do papel do Estado e de sua própria responsabilidade na sociedade?

Anna Peliano – Elas sabem que a responsabilidade social maior é do Estado. Por isso, são muito críticas quanto à ineficiência do Estado em certas áreas. Com relação ao seu próprio trabalho, a maioria acredita que tem realmente um papel a cumprir na sociedade, mas sempre atuando em caráter complementar ao Estado. Essa percepção é nova, mas fica claro que nenhuma deseja substituir a função desempenhada pelo governo.

Rets – A introdução da pesquisa disponível na Internet diz que "a atuação das empresas em atividades sociais e a expansão do Terceiro Setor dão origem a uma esfera pública não-estatal". Por que só agora as empresas privadas se deram conta de sua função na sociedade?

Anna Peliano – Talvez a globalização tenha alguma influência nisso, pois a competição exige das empresas responsabilidades sociais cada vez maiores, o que acaba se tornando um grande diferencial para inserção no mercado. Outro aspecto seria a democratização do país e, com isso, o surgimento de movimentos da cidadania como o do Betinho.

Os programas de qualidade adotados por diversas empresas em busca da competição e a conscientização do consumidor também influenciam bastante.

Rets – Como foi utilizado o conceito de Ação Social Empresarial?

Anna Peliano – Ele foi utilizado de forma ampla, considerando como ações sociais desde pequenas doações até grandes projetos sociais. O que queríamos descobrir era com quem e como as empresas estão contribuindo.

Rets – Como a sra. observa os investimentos de empresas privadas brasileiras na área social em comparação com o que ocorre nos Estados Unidos ou na Europa?

Anna Peliano – São estudos diferentes, não tem como fazer essa comparação. A única coisa que sabemos é que um estudo feito nos EUA revelou que as 500 maiores empresas norte-americanas aplicaram no social uma quantia dez vezes superior do que as 500 maiores empresas que atuam no Brasil. O detalhe é que nos EUA elas costumam apresentar rendimento 35 vezes maior do que no Brasil.

Rets – O que os números revelam quanto às ações sociais praticadas dentro da própria empresa?

Anna Peliano – No Sul, a participação dos empregados é de 38%, já no Sudeste é de 36% e no Nordeste, 15%. Quer dizer, sem contar o Nordeste, as empresas das outras duas regiões envolvem aproximadamente 1/3 dos seus empregados. Outro fato interessante é que, geralmente, a maioria das empresas investe no atendimento à população da cidade onde está situada. Poucas realizam projetos fora da vizinhança.

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