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Orçamento Participativo e Autogestão: afinal, qual a relação?

Autor original: Felipe Frisch

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

A autogestão empresarial e o orçamento participativo não são apenas semelhantes quanto à forma de administração. "Onde, de fato, há participação popular, é muito mais fácil haver empresas em autogestão. A diferença é que, em um processo, a população se apropria do que já é dela, que são os recursos públicos. No outro, toma conta do que não era dela, a empresa falida". Essa é a opinião de Aparecido Faria, Diretor Técnico da Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária (Anteag).


Aparecido reconhece que o empresariado tem uma boa receptividade ao orçamento participativo, que não exclui das assembléias nenhum setor da sociedade. Segundo ele, a presença dos empresários é importante para gerar postos de trabalho. "No entanto, quando você fala em passar parte do poder da empresa, a coisa muda de figura", diz. Hoje, a Anteag apóia 223 projetos de autogestão, elaborando estudos financeiros sobre o futuro da empresa e dando assistência jurídica, já que se tratam normalmente de empresas em fase de falência, quando são assumidas pelos trabalhadores.


Ele ainda destaca que há uma tendência nas prefeituras participativas de estimularem empresas cooperativas a participarem de licitações públicas, competindo com empresas convencionais.


Ibase pesquisa autogestão no sul


O sucesso das empresas assumidas pelos trabalhadores não se limita à transparência das operações ou à divisão dos lucros. A liberdade para trabalhar e a cooperação entre colegas de trabalho também são apontadas pelos cooperados como pontos que ganham força na empresa assumida pelos operários. Numa pesquisa realizada com 363 trabalhadores de empresas apoiadas pela Anteag no RS, o Ibase detectou que 80% dos trabalhadores consideraram siginificativa a alteração na produção após a mudança.


Entre as principais alterações indicadas, os trabalhadores reconheceram o maior empenho e compromisso com o trabalho de cada um deles (29%) e a maior produtividade (29%). 15% apontaram melhorias na colaboração entre trabalhadores. Não estar sujeito ao autoritarismo de um patrão exagerado contou para 31% como o principal fator responsável pela alteração no jeito de trabalhar. Outros números elevados tratam da colaboração entre os diferentes setores da produção. 88% disseram que há. E, desses, 73% avaliaram que essa cooperação não existia antes.


De um modo geral, 78% disseram ver vantagens na nova forma de trabalhar. Desses, 41% consideravam como grande diferencial o sentimento de estarem trabalhando para si e não para o patrão. 25% acham que pesa mais poder simplesmente participar das decisões. 18% lembraram em primeiro lugar da participação nos lucros. Então, se tivessem proposta para trabalhar com carteira assinada em uma firma convencional, quantos deles deixariam a cooperativa? 76% disseram que não abandonariam a posição atual.


Infelizmente, a participação aceita como democrática não contempla a resolução de todos os conflitos sociais. O pesquisador João Roberto Lopes, responsável pela pesquisa, lembrou que questões de gênero continuam presentes nas relações profissionais. Na pergunta sobre mudança de emprego por condições mais estáveis em uma empresa convencional, apenas 10% dos homens disseram que mudariam, enquanto 55% das mulheres foram da mesa opinião. "Esses dados revelam que as relações de poder na empresa mudaram, mas na relação homem-mulher se mantém. A mulher continua se vendo explorada", considera Lopes. Para ele, parte da explicação passa por elas continuarem sendo minoria (70% dos cooperados são homens, em média) e, portanto, não ocuparem cargos de chefia.

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