Você está aqui

Lápis e papel na mão e muita disposição para entrar na universidade

Autor original: Marcos Lobo

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






A população negra brasileira corresponde a 44% do total da população do país, é o que revela um recente levantamento feito pelo IBGE. Na mesma pesquisa, descobriu-se que os negros representam menos de 5% da população universitária e ocupam menos de 2% das vagas nas instituições públicas de ensino superior.


Além de chocantes, esses números revelam as verdadeiras condições de ensino a que estão submetidas milhares de crianças e adolescentes de baixo poder aquisitivo em todo o Brasil e comprovam aquilo em que muitos preferem não acreditar: a existência de um racismo disfarçado na cultura brasileira.


"O governo tem outras prioridades e o acesso dos pobres às universidades não é prioridade dos governos estabelecidos", afirma Frei Davi, responsável pelo funcionamento dos cursos de Pré-vestibular para Negros e Carentes no Rio e em São Paulo.


A história dos cursinhos para populações menos favorecidas surgiu na Bahia e funcionou como um instrumento de conscientização, articulação e apoio aos jovens negros da periferia de Salvador. O bom desempenho dos alunos nos vestibulares seguintes revelou que a experiência poderia ser ampliada para outras cidades brasileiras.


Foi assim que, em 1993, criou-se o Pré-Vestibular para Negros e Carentes, localizado em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Durante as reuniões da Pastoral do Negro, o núcleo foi ganhando forma e logo se deparou com grandes dificuldades.


"A questão era saber como, sem dinheiro, faríamos surgir uma revolução educacional que possibilitasse o ingresso dos pobres e afrodescendentes às universidades", explica Frei Davi. Segundo ele, assim que um grupo de jovens envolvidos com trabalhos populares se reuniu disposto a dar continuidade à idéia, o curso passou a ter problemas para encontrar nomes do movimento negro que pudessem assumir o cargo de professores.


"O número de pessoas do movimento que tiveram oportunidade de se formar em uma universidade era insignificante", revela. "A opção foi recorrer a todos os setores da sociedade", acrescenta, lembrando que, meses depois, o núcleo de São João de Meriti conseguiu formar o seu primeiro quadro de professores voluntários.


No ano seguinte, o curso ampliou de 100 para 150 as vagas disponíveis e, no último dia para as inscrições, mais de 700 pessoas já estavam inscritas para as aulas. "Fomos surpreendidos pela grande procura e então começamos a animar a abertura de novos núcleos", explica o Frei. De fato, daí para a criação de novos pré-vestibulares foi um pulo. Ao longo daquele mesmo ano surgiram 23 novos cursos no Rio de Janeiro.


Já em 1997, surgia em São Paulo o primeiro núcleo de pré-vestibular comunitário voltado para a população de baixa renda: o Educafro – Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes. Os bons resultados e o reconhecimento do trabalho impulsionaram a abertura de 19 novos cursos em 98, atingindo a meta de 30 núcleos em abril de 1999. De acordo com Frei Davi, hoje existem experiências similares em todo o Brasil. "Estimamos em mais de 800 os núcleos presentes no país", revela.

Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer