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Bolsas de estudo para os alunos do pré-vestibular

Autor original: Marcos Lobo

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

‘Perseverança’ é a palavra-chave nas salas de aula dos cursinhos de pré-vestibular comunitários. Frei Davi lembra que, em 1993 - quando o primeiro núcleo ainda estava para ser aberto no Rio -, um pré-vestibular particular da região iniciou aquele ano com uma turma de 50 alunos e terminou com apenas 15. Segundo ele, o curso de São João de Meriti iniciou com 98 alunos e chegou ao final do ano com 50. "Consideramos este um alto índice de perseverança", compara.


Apesar de terem interesse em passar para instituições públicas, muitos também prestam vestibular para universidades particulares. Em 93, 34% dos estudantes foram aprovados para universidades públicas e quatro passaram para a PUC-RIO.


Pensando justamente em oferecer a oportunidade de estudo para jovens carentes é que muitas instituições particulares passaram a conceder bolsas de estudo para os alunos do cursinho pré-vestibular. A própria PUC, por exemplo, concedeu bolsas de estudo integrais. Para isso, o aluno bolsista não pode apresentar média abaixo de seis ao longo do curso na faculdade.


Em São Paulo, o número de bolsistas oriundos do Educafro cresce a cada ano. De acordo com a instituição, em abril deste ano já somavam 87 bolsistas na Universidade São Francisco de Assis, 26 na PUC-SP, 65 na UNISA e 25 na ESAN, entre outras. No caso da USP, o Educafro teve que abrir 49 processos para conquistar a isenção da taxa de inscrição para seus alunos.


Quem pensa que os alunos dessas comunidades costumam ser aprovados apenas para universidades brasileiras, está muito enganado. Após uma parceria com a Embaixada de Cuba no Brasil, os pré-vestibulares para negros e carentes também enviam alunos para a Universidade de Havana, em Cuba. No ano passado, 8 jovens arrumaram as malas e foram passar cinco anos estudando naquele país. Geralmente, as bolsas são concedidas para a área médica.


"No final do curso, todos devem retornar ao Brasil para trabalhar na área de saúde em comunidades da periferia das grandes cidades", lembra Frei Davi.


Como funciona


Um núcleo como o Pré-vestibular para Negros e Carentes, de São João de Meriti, ou o Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), em São Paulo, costuma abrigar, em média, 60 alunos. Para manter tudo funcionando, é preciso dispor de um quadro de 15 pessoas, entre funcionários e professores. Com cerca de 55 núcleos na região metropolitana de São Paulo, o Educafro conta com um efetivo de 850 voluntários trabalhando para mais de 3.300 alunos.


Sustentar um núcleo não é tarefa difícil. Mensalmente, cada aluno contribui com 10% do salário mínimo, valor que é revertido para a compra de apagador, giz, apostilas e fotocópias. Frei Davi, responsável pelo projeto no Rio, salienta que não há necessidade de realizar campanha financeira entre os membros. "Os próprios estudantes têm assumido com consciência a sustentação interna do núcleo", explica. Segundo ele, a existência do pré-vestibular comunitário acaba "combatendo a indústria do pré-vestibular", beneficiada pala baixa qualidade do ensino brasileiro.


As aulas são no estilo "intensivo", ou seja, costumam ocorrer somente aos sábados, das 8h às 20h, mas alguns núcleos também funcionam durante à noite ao longo da semana, com aulas das 19h às 22h.

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