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O mundo no Timor Leste

Autor original: Felipe Frisch

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets






A solidariedade do terceiro setor não tem fronteiras. Mesmo que seja necessário atravessar o mundo e encarar um fuso horário de 14 horas de diferença para o brasileiro. Prova disso são as organizações que estão saindo daqui para ajudar na reconstrução da cidadania no recém-independente Timor Leste. A ajuda não vai só do Brasil: encontra parcerias internacionais de ongs tradicionais que estão ajudando a fortalecer a criação de um terceiro setor no novo país.


Nada poderia ser mais legítimo para uma população que, depois de 25 anos de dominação indonésia, escolheu por referendo popular a emancipação. Isso aconteceu em 1999. Se foi a população que optou pela independência, é essa mesma sociedade civil - organizada - que faz existirem hoje cerca de 140 ongs no país, entre instituições locais e estrangeiras, ou internacionais.


Uma das organizações pioneiras do Brasil que está exportando seus projetos é o Ibase, que está montando equipe na capital, Dili, graças a uma parceria com a Oxfam. “Nossa ação no Timor é trabalhar com as ongs locais, compartilhando experiências e trabalhando políticas de desenvolvimento”, diz Marcelo Carvalho, assessor do projeto Ibase Timor Leste, e parte da equipe já residente no país.


Depois do período de adaptação, o Ibase começa a entrar na segunda etapa da iniciativa: a partir de julho, vai estar promovendo oficinas sobre rádio comunitária, com orientação e produção da jornalista Taís Ladeira. “Todos os esforços, agora, são no sentido de conscientizar a população de que eles estão entrando no processo constituinte”, revela Taís, que aqui atua como consultora do Cemina há muito tempo. “Nem estamos pensando numa capacitação exclusiva para mulheres ainda”.


Também no próximo mês devem ter início os encontros do grupo de trabalho sobre orçamento. Para agosto, o Ibase está preparando uma delegação brasileira de observadores ligados ao terceiro setor para acompanhar as eleições dos membros da primeira Assembléia Constituinte na história do Timor Leste. Uma campanha intensiva está sendo planejada para o mês de setembro tendo em vista a conscientização da população jovem para a importância da Constituição, que irá garantir direitos e agendar a data da primeira eleição presidencial para o final desse ano ainda.


Outro projeto originalmente nacional que vem ganhando força no novo país é o Programa Alfabetização Solidária, que, a partir de agosto, vai expandir suas atividades. Dos 300 alunos da iniciativa piloto, o Alfabetização Solidária se estende para mais 130 salas, distribuídas pelos 13 distritos, onde atenderá mais 6.500 alunos durante um ano. Para isso, serão capacitados alfabetizadores locais em português. A Superintendente Executiva do Programa, Regina Esteves, festeja:


- A alfabetização vai além de simplesmente ensinar a ler e escrever. Vai fortalecer o português como marca da identidade da nação que ficou 25 anos sem poder falar a língua materna (o Timor Leste, colônia portuguesa até 1975, teve o tetum instituído como idioma oficial durante os anos de domínio indonésio). Queremos que, quando o Estado esteja constituído, o programa seja transformado num projeto nacional.


No âmbito das ongs internacionais, quem tem tido destaque pela atuação é o Médicos Sem Fronteiras, que atualmente conta com 57 voluntários estrangeiros, e 136 timorenses. A preocupação mais urgente da organização é com o tratamento de doenças relacionadas com a exposição às intempéries climáticas e com a imunização de crianças contra o sarampo. Quem pede muita atenção no momento são os ex-refugiados que retornam do Timor Oeste. O MSF promoveu, nos últimos meses, a restauração dos hospitais de Baucau, Bobonaro, Liquica e Viqueque. Os voluntários ainda executam cirurgias simples e promovem atividades educativas ligadas à saúde.


Nem tudo são flores


A sociedade civil está à frente de muitas batalhas para a reconstrução do pais, mas, durante o período de transição, o Timor vem sendo administrado pela Untaet: uma estrutura de administração criada pelas Nações Unidas, chamada localmente de Etta (Administração Transitória do Timor Leste). A Coordenadora do Projeto Ibase Timor Leste, Regina Domingues, questiona o talento da ONU para a administração:


- A ONU já teve uma experiência administrando uma nação, o Camboja. Ao que parece, com resultados discutíveis. Se, por um lado, ela promove encontros periódicos para monitorar o resultado do avanço do desenvolvimento social no mundo, por outro não tomou as atitudes necessárias para impedir a invasão do Timor Leste por parte da Indonesia em 7 de dezembro de 1975.


Regina contesta as “boas intenções” mundiais:


- Os conflitos no Timor Leste estiveram por muito tempo longe das preocupações do mundo, longe da midia e da mobilização internacional. A reconstrução hoje não está sendo promovida apenas por organizações interessadas no desenvolvimento sustentável do pais. Estão aqui também representantes de organizações financeiras internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, com outras visões sobre o que seria o desenvolvimento.

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