Você está aqui

Pensando o futuro da mulher negra no Brasil

Autor original: Marcos Lobo

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor

Reestruturar e discutir a organização das mulheres negras no Brasil: este é o principal tema a ser levado para o III Encontro Nacional de Mulheres Negras, que será realizado de 26 a 29 de julho, em Belo Horizonte (MG). Para a coordenadora do evento, Denise Pacheco, as mulheres negras já demonstraram que não estão isoladas.


"Elas estão participando em sindicatos, ONGs e movimentos negros. O que queremos é reestruturar a nossa organização", afirma. Segundo ela, a agenda de debates do encontro será bem extensa. "Vamos discutir coisas que vão desde o início do seqüestro, na África, até os dias de hoje", completa, referindo-se à vinda de escravos negros africanos para o Brasil.


O 3º Encontro Nacional das Mulheres Negras está sendo realizado pelo Fórum Nacional de Mulheres Negras e conta com o apoio do Ministério da Justiça, da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, do Ministério da Cultura, da Fundação Palmares, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e do CFEMEA. Para muitos, será um ensaio para a Conferência Mundial contra o Racismo, a Intolerância e a Xenofobia, marcada para o final de agosto, em Durban, na África do Sul.


Na pauta dos debates do encontro estará presente a preocupação dos organizadores com a grande incidência de negras trabalhando como empregadas domésticas, a brutal diferença de renda entre as mulheres negras e as não-negras, a qualidade da sua saúde e a baixa escolaridade, entre outros temas.


"Nós ganhamos 55% menos do que as mulheres não-negras. Quando pensamos na mulher negra que trabalha, vem logo à cabeça a idéia de trabalho doméstico. Nossa taxa de desemprego é maior e nossa renda é bem menor. Queremos levantar essa questão e discutir esses dados", explica.


O fato de as reivindicações do movimento negro não terem sofrido grandes modificações desde 1995, época em que foi elaborado o Plano Nacional de Combate ao Racismo, comprova que muito pouco foi feito para reverter o quadro de desigualdade social entre negros e não-negros no Brasil.


"Por isso achamos que não há necessidade de se elaborar um Plano Nacional de Combate ao Racismo. Aquilo foi uma farsa. O governo podia ter feito muitas outras coisas", protesta Denise. Segundo ela, o que mudou ao longo desses seis anos foram as estatísticas e o tamanho do movimento.


"O governo tinha tudo para assumir e cumprir o que havia proposto. Nós chegamos a acreditar nisso. No entanto parece que tudo não passou de uma farsa", lamenta.


Sobre a ação afirmativa, Denise é cautelosa: "Temos que discutir políticas públicas, pois o povo negro não precisa se afirmar. Isso já ocorre. O que precisamos é de políticas para a saúde e educação, por exemplo".


"Queremos saber por que muitos negros têm diabetes, por que são tão hipertensos", completa. Segundo ela, o governo federal perdeu a oportunidade para discutir esses e outros assuntos durante a Conferência Nacional de Saúde, realizada em Brasília, em dezembro do ano passado.


"Eles poderiam ter feito uma mesa dedicada à saúde da população negra, coisa que não aconteceu. Na verdade, o governo não quis se comprometer com o tema", afirma.


A desigualdade em números


Exemplos de discriminação racial são corriqueiros no Brasil. Vão desde a prisão de uma adolescente negra que entrou em uma loja, em Belo Horizonte, carregando um bebê branco e acabou sendo acusada de seqüestro até revistas feitas pela polícia somente em jovens negros. Quando se trata de discriminação contra a mulher negra, as estatísticas falam por si só.


De acordo com a publicação "Mulheres negras – um retrato da discriminação racial no Brasil", produzido pela Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), 56% das empregadas domésticas eram negras, em 1998.


A pesquisa também revela que 60% das famílias chefiadas por mulheres negras têm renda inferior a um salário mínimo.


No campo da saúde, os números mostram que a proporção de histerectomias no caso de miomas é quatro vezes maior em mulheres negras do que em brancas. Sem contar que elas têm 50% a mais de chances de se tornarem diabéticas.


Quando o tema é educação, a discriminação racial também se faz presente: enquanto a taxa de analfabetismo, em 1999, era de 8,3% para os brancos, entre a população negra ela chegava a 20%. Segundo o levantamento feito pela AMB, se a distribuição de vagas nas universidades espelhasse a diversidade étnica do país, o número de negros que se formam no ensino superior deveria ser quatro vezes superior ao que é atualmente.


Para quem quiser mais informações sobre o evento, a secretaria do III ENMN funciona na Rua da Bahia, nº 573, sala 307, em Belo Horizonte. Os telefones de contato são (31) 3222 6257 e 3222 9995.
O site do Encontro está em www.mulheresnegras.ongnet.org.br e o e-mail para contato é mulheresnegras@encontro.org.br.

Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer