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Aprendendo a conviver com pacientes esquizofrênicos

Autor original: Marcos Lobo

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Com apenas um ano de funcionamento, um tratamento de ressocialização de pacientes esquizofrênicos, em Porto Alegre (RS), já começa a dar resultados.


O Vivendo & Reaprendendo, como é conhecido na região, é um projeto que hoje atende cerca de 30 pessoas e busca oferecer um algo mais, além da já conhecida medicação aplicada em pacientes que sofrem de esquizofrenia.


"Temos jovens que tiveram que sair do colégio, mas que agora já estão de volta à sala de aula", conta a entusiasmada Marília Cruz, mãe de um paciente e presidente da Agafape - Associação Gaúcha de Familiares de Pacientes Esquizofrênicos e Demais Doenças Mentais.


"Sempre converso com outras mães e elas me dizem que os filhos que não costumavam sair de casa agora já estão voltando a conviver com a família. Eles estão passando a garantir um espaço no mundo", completa Marília.


Com aulas todas as segundas e quintas-feiras, o Vivendo & Reaprendendo promove a ressocialização de pacientes esquizofrênicos por meio de reuniões bem variadas. Na grade de programação do grupo há aulas de música e relaxamento, atividades físicas e passeios culturais feitos uma vez por mês, na cidade de Porto Alegre.


"Temos também uma equipe que trabalha diretamente com os pais do paciente, dando um apoio psicológico", acrescenta a presidenta da Agafape. Segundo ela, o apoio da família nessas horas é fundamental para a recuperação do paciente.


Sintomas


O ambiente familiar ou de trabalho pode ser decisivo em pessoas que já têm tendência à esquizofrenia. Isolamento, alucinações auditivas ou visuais (as pessoas costumam ouvir objetos e sons inexistentes), delírios e sentimentos discordantes com a realidade (alegria em momentos de tristeza e vice-versa) são as principais características da doença.


"Muitas vezes eles têm a sensação de estarem sendo perseguidos por alguém. O ambiente onde vivem é que pode ser o responsável pela manifestação ou não dos sintomas. O estresse, por exemplo, pode provocar a esquizofrenia", informa Marília.


O tratamento para pessoas com esquizofrenia é longo e bastante complexo. O uso de medicamentos é fundamental para o controle da doença. Normalmente, a medicação utilizada costuma causar efeitos colaterais nos pacientes, como boca seca, visão borrada, tremores, rigidez muscular, entre outros.


Além do uso de remédios, o trabalho psicológico também é de extrema importância para a recuperação dos pacientes.


"Sabemos que a esquizofrenia não tem outra saída senão a medicação. O que procuramos fazer aqui é um trabalho externo de ressocialização, o que já ajuda bastante", explica ela.


Olhando para trás, Marília Cruz observa que o tratamento de pacientes esquizofrênicos vêm sofrendo algumas modificações ao longo dos anos. Para ela, a situação hoje é bem melhor do que a vivida algumas décadas atrás.


"Percebemos que houve uma mudança muito grande, se compararmos com anos anteriores. Antigamente existia o tratamento com choque e o isolamento do paciente. Alguns hospitais fazem isso até hoje. O que nós queremos é o fim desse tipo de tratamento", afirma.


Segundo ela, a grande preocupação do Vivendo & Reaprendo e da Agafape é trazer as famílias dos pacientes para as sessões. "Procuramos mostrar como eles devem conviver com essas pessoas", completa.


Por ser um projeto novo, com apenas um ano de vida, o Vivendo & Reaprendendo ainda não possui um local próprio para as sessões - os pacientes costumam ser atendidos em um sala cedida por uma igreja em Porto Alegre. Mesmo contando com trabalho voluntário de pais, professores e psicólogos, o programa costuma arrecadar R$ 5 por mês de cada um para a manutenção de suas atividades.


Para o futuro, Marília Cruz já tem vários planos. "Nossa meta é abrir um espaço para trabalhos com informática e tecelagem, já que emprego para eles é muito difícil. Estamos lutando para que todos se sintam capazes", conclui.


Encontros


Não são apenas sessões para pacientes com esquizofrenia que estão na pauta das atividades do Vivendo & Reaprendendo. Todas as segundas quartas-feiras de cada mês o grupo organiza palestras com temas variados, geralmente ministradas por médicos, nutricionistas e psicólogos.


Os encontros são realizados na sede da Federação das Empresas do Rio Grande do Sul (Federasul), que fica na Rua Visconde do Cairu, 17, sala 505, das 15 às 17 horas.


Já as sessões para os pacientes ocorrem todas as segundas e quintas-feiras, sempre das 14h30 às 17 horas, na Rua São Vicente, 180, Petrópolis, em Porto Alegre (RS). Mais informações pelo telefone (51) 225-0395 e pelos correios eletrônicos agafape@uol.com.br ou agafape@agafape.org.br.

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