Aniversário em Sampa

Autor original: Felipe Frisch

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Ampliando a visibilidade do debate sobre inclusão digital, o projeto sampa.org comemora um ano de vida com jeito de gente grande. Foram diversos encontros e conquistas que fortaleceram o sentimento da sociedade civil organizada com relação à importância da democratização da informação. Entre as principais atividades, está a implantação de telecentros que formam a Rede Pública de Comunicação e Informação, na cidade de São Paulo. A iniciativa inaugurou suas atividades em 13 de julho do ano passado em Capão Redondo, região da grande São Paulo que apresenta extensos bolsões de pobreza e violência.

- Não temos como mensurar em números, mas certamente a familiarização com o computador, os principais aplicativos e a Internet, auxiliou tanto na educação como na inserção de jovens daquela comunidade no mercado de trabalho - define Maurício Falavigna, um dos responsáveis pela construção da rede. Maurício é um dos jornalistas responsáveis pela agência de notícias Capão Online, criada e formada por moradores que queriam acabar com os estigmas que a sociedade e os meios de comunicação reproduzem.

Para Falavigna, a intenção dos moradores é "mostrar a todos que sua região também faz parte da cidade. Na mídia convencional, Capão e Jardim Ângela são sinônimos de chacinas e tráfico de drogas. São espaços que estão duplamente à margem da sociedade. Além do abandono do Estado, há uma marca pública e visível de exclusão divulgada para toda a sociedade".

Atualmente, são dez pontos de presença (computadores ligados à Internet) espalhados pela zona sul, distribuídos entre Capão Redondo, Jardim Ângela e Campo Limpo. A meta é comemorar antes do próximo aniversário - mais especificamente, até o fim desse ano -, a instalação de outros dez telecentros na região e mais dez no centro da cidade. Em cada um deles, monitores (pessoas capacitadas pelo sampa.org) facilitam a circulação das informações "socialmente relevantes", como ofertas de trabalho, agenda cultural, serviços públicos e outras iniciativas na região. Nos pontos de presença, o acesso é livre e gratuito. Por mês, as sessões de acessos, de uma hora cada, já chegam a 14 mil - o equivalente a 3,5 mil horas por semana. Cada morador pode comparecer ao telecentro mais de uma vez por semana.

As empresas e instituições parceiras recebem um dos primeiros pedaços do bolo. "Elas se dispõem a investir em idéias, know-how tecnológico, capacidade gerencial, experiência, credibilidade, recursos humanos e outras contribuições para a efetivação da Rede", diz Maurício. Ele ainda lembra da aproximação que o projeto está tendo com a Prefeitura de São Paulo. "Estamos recebendo cerca de uma centena de pessoas beneficiadas pelos programas sociais Começar de Novo e Bolsa Trabalho e elas já estão recebendo capacitação e se integrando ao Projeto sampa.org de várias formas: como monitores em pontos de presença, agentes de notícia, agentes de rede e técnicos de manutenção em informática", contabiliza.

Justamente para fortalecer os laços, a comemoração da última sexta-feira, no ponto de presença do Jardim Rosana, marcou o lançamento do Comitê de Desenvolvimento de Campo Limpo, que reunirá empresas, entidades sociais, universidade, governo e comunidade, articulados para o desenvolvimento local, estimulando práticas geridas pela própria população - como cooperativas e centros de serviços, mini-usinas de lixo, criação de áreas de convivência da comunidade, reciclagem de materiais, compra e entrega de encomendas e núcleos de produção cultural. A base destas ações locais são os pontos de presença e os recursos de infra-estrututra, material e humana do Projeto sampa.org.

Maurício acredita que, com o estreitamento de laços, a população caminhe para uma participação mais efetiva nas decisões do próprio poder público:

- Uma população capaz de utilizar a Rede Pública para incrementar sua participação cidadã, aumentar seu nível de conhecimento e ganhar mais condições de se inserir no mercado, certamente terá mais condições de construir uma ordem social mais próspera e menos excludente.