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Rede DLIS - Documento Base

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

Seção original:

*Caio Silveira e Liliane da Costa Reis


Apresentação


Este documento trata dos antecedentes, objetivos, características e modos da funcionamento da Rede DLIS - rede de informação e conhecimento sobre desenvolvimento local integrado e sustentável.


Este documento é uma base de proposta e, ao mesmo tempo, constitui referência para um primeiro debate no âmbito da Rede DLIS, entre outros tantos que deverão se seguir.


1. Antecedentes


1.1. Do Fórum Nacional de Apoio ao DLIS à proposta de formação da Rede DLIS


A proposta de formação de uma rede em torno do desenvolvimento local integrado e sustentável não vem de hoje nem surge ao acaso, inserindo-se em uma trajetória que começou a ser desenhada cerca de quatro anos atrás, combinando esforços de articulação, acúmulos conceituais e implementação de iniciativas diferenciadas de apoio ao desenvolvimento local.


Como um componente fundamental desta trajetória, e um dos pontos de origem mais direta do projeto de formação da Rede DLIS, destaca-se a atuação do Fórum Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local, entre 1997 e 1999.


Começando a ser esboçado a partir de um encontro nacional sobre "Ação Local" promovido pela Ágora (Associação para Projetos de Combate à Fome) e instituições parceiras, no primeiro semestre de 1997, o Fórum foi criado em outubro daquele mesmo ano pelos 100 participantes do "Seminário Nacional sobre Metodologias de Apoio ao Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável", realizado em Recife/PE e promovido pela Banco do Nordeste, em parceria com a Ágora, a Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), o Projeto de Capacitação do Banco do Nordeste/PNUD e o SERE (Serviços e Estudos de Realização Empresarial Social da Fundação Friedrich Ebert), com o apoio do Conselho e da Secretaria Executiva da Comunidade Solidária.


Definiram-se então como principais objetivos do Fórum: i) a articulação de atores interessados em apoiar e promover o desenvolvimento local integrado e sustentável e ii) a sensibilização de organismos governamentais, empresariais, da sociedade civil e internacionais, visando à multiplicação de iniciativas voltadas para o desenvolvimento local.


Lançado publicamente em março de 1998, em Brasília, juntamente com a publicação de uma coletânea de trabalhos sobre o tema, elaborada por seus participantes, o Fórum promoveu mais seis encontros e eventos de diferentes proporções até maio de 1999 (Rio de Janeiro, Fortaleza, Florianópolis e Brasília). O último encontro correspondeu a uma Oficina de Planejamento que projetou alguns resultados esperados para junho de 2001, tais como: i) acervo de experiências de DLIS reunidas e sistematizadas; ii) metodologias de DLIS sistematizadas; iii) "prateleira" de ferramentas para implementação de DLIS criada; iv) instrumentos de apoio à capacitação elaborados/sistematizados; v) rede permanente de interlocução entre os diversos atores implantada.


O Fórum, como tal, não teve continuidade no período que se seguiu, o que envolveu fatores diversos a analisar: desde as dificuldades político-institucionais de manutenção de um núcleo de articulação até a ausência de uma estrutura de funcionamento e de meios práticos de ação permanente. Muitos avaliam que, nas condições de seu funcionamento, o Fórum foi uma instância adequada e capaz de atingir em grande parte os objetivos formulados na sua origem, particularmente o de sensibilização de organismos de diferentes setores e a implantação e multiplicação de iniciativas de desenvolvimento local no país.


No período que desde então se abriu, pode-se considerar que uma articulação daquela natureza e forma já não responderia às necessidades e aos resultados requeridos, inclusive aqueles planejados pelos atores que constituíam o Fórum Nacional. A ampliação do universo de organizações e programas envolvidos, bem como a diversidade de dinâmicas e características das iniciativas relacionadas ao desenvolvimento local, viria a colocar novas necessidades e impor novos formatos de articulação. É nesse contexto que veio a se constituir o projeto de apoio à formação de uma rede em torno do desenvolvimento local, incorporando e articulando, além dos atores que antes participavam do Fórum, o acúmulo diversificado daqueles que desde então vêm atuando em torno do tema, no campo dos programas, das experiências, da pesquisa e da produção conceitual.


Simultaneamente, foram sendo gestados os meios práticos de materialização desta iniciativa. Para o ano 2000, o Conselho da Comunidade Solidária - que havia sido um dos principais pólos de articulação do Fórum, além de ter promovido duas rodadas ampliadas de interlocução política sobre o tema - resolveu propor a alocação de recursos do Orçamento Geral da União para apoiar as ações previstas no âmbito do Fórum. A sugestão orçamentária veio a ser aprovada, sendo os recursos destinados para a proposta da Rede DLIS, a ser viabilizada a partir de parceria entre a Casa Civil da Presidência da República e a Rits - Rede de Informações para o Terceiro Setor, através de projeto que veio a ter início já ao final de 2000.


1.2. O papel da Rits


A Rits é uma organização sem fins lucrativos que tem por missão a democratização da informação, particularmente o acesso democrático à tecnologia de comunicação e à gerência do conhecimento.


A Rits tem se especializado no trabalho com redes de várias temáticas, agregando conhecimento sobre trabalho colaborativo ­ particularmente via Internet - e sendo capaz de facilitar novas formas de organização para a realização de interesses convergentes. Dispõe, ainda, de meios para fornecer instrumentos de comunicação via Internet, assim como para capacitar os interessados na utilização destes instrumentos. Estando envolvida na animação de redes em todo o país, a Rits já detém experiência acumulada nesta área, além de expertise e bases tecnológicas apropriadas para desenvolvimento de sites com múltiplos recursos.


A participação da Rits no Fórum Nacional teve início no segundo semestre de 1998, sendo que, no ano seguinte, por decisão do próprio Fórum, reafirmada na Oficina de Planejamento, delegou-se a esta entidade, com a colaboração de um dos atores vinculados ao Fórum Nacional, a construção de um primeiro site sobre desenvolvimento local integrado e sustentável. As bases e o acervo inicial deste primeiro site foram constituídos, mas sua recriação e desenvolvimento - já sob novas tecnologias, funcionalidades e conteúdos, com características de um portal - só vieram a ser possíveis através do presente projeto. O site passará a ser, nesta perspectiva, um elemento associado à constituição da Rede DLIS, cujos objetivos, características e modos de funcionamento são abordados no decorrer do presente documento.


2. Razão de Ser e Objetivos da Rede DLIS


A constituição dos atores locais como protagonistas de mudanças (o protagonismo local); a articulação entre organização/cooperação (ou construção de capital social) e aprendizagem/conhecimento (ou formação de capital humano); o fomento ao empreendedorismo integrado a redes e cadeias produtivas; a geração no território de novos padrões socioprodutivos e de reprodução ambiental; o exercício da indivisibilidade e exigibilidade dos direitos (econômicos, sociais, culturais e ambientais); a criação de novos espaços públicos de decisão e gestão; a mudança de cultura política - superando o setorialismo e desconstruindo o clientelismo; a busca de sustentabilidade dos processos locais.


A conjugação em maior ou menor grau destes elementos - sob diferentes ênfases e "portas de entrada" - está hoje presente em diversas formulações e iniciativas, constituindo a referência temática para a rede aqui proposta. Concebida, neste sentido abrangente, como uma rede em torno do desenvolvimento local integrado e sustentável.


Na trajetória brasileira, este tema se inscreve num esforço de construção trilhado em diferentes frentes - nos últimos anos sobretudo -, com avanços, obstáculos e desafios que se redefinem de um tempo para outro. Desde a segunda metade dos anos 90, desenha-se um ambiente que envolve, entre outros traços gerais: i) a constituição de espaços ampliados de articulação, debate e formulação em torno do tema; ii) o exercício de estratégias de apoio ao desenvolvimento local com alcance nacional ou macrorregional e iii) a emergência de uma gama policêntrica de iniciativas sob o enfoque do desenvolvimento local.


O que torna esta rede desejável e possível, ou mesmo necessária?


Dois fenômenos, aparentemente contraditórios, podem ser identificados no período atual. De um lado, a diversidade: a realização de múltiplas iniciativas e formulações em torno do desenvolvimento local, a partir de atores diversos, com dinâmicas e características próprias.


De outro lado, o insulamento. Ou seja, informações e conhecimentos que pouco se integram e se falam, como que ilhados em universos institucionais semi-incomunicáveis, que nas suas distâncias parecem soar como uma babel do desenvolvimento local.


Face a este duplo fenômeno, um caminho também duplo deve ser perseguido: em um sentido, trata-se de facilitar o aporte de maior densidade e consistência à questão do desenvolvimento local; em outro, propiciar o trânsito e a comunicabilidade entre atores diferentes e locais diferentes. São processos inseparáveis, imbricados: a consistência supõe a comunicabilidade, a ampla circulação é ambiente gerador de conhecimento e mudança.


Nesta perspectiva, os objetivos gerais da Rede DLIS podem ser assim sintetizados:



  • gerar maior qualificação e consistência à questão do desenvolvimento local;

  • facilitar e ampliar a interlocução entre atores heterogêneos que trabalham e operam com o tema;

  • propiciar acesso a informações úteis e serviços relevantes para pessoas/organizações interessadas ou envolvidas na promoção no desenvolvimento local;

  • fomentar um cultura de trabalho cooperativo em amplo espectro - trabalho em rede.


  • 3. Natureza e Características da Rede DLIS


    Há redes e redes. Em que sentido esta rede é uma rede? Cabe a pergunta porque, assim como o "desenvolvimento local", também a idéia de "rede" vive o risco da banalização diluidora, como se dissesse tudo e, portanto, nada dizendo.


    Em primeiro lugar, propõe-se uma rede de informação e conhecimento em torno do desenvolvimento local. Seu foco, portanto, é o conhecimento compartilhado e expandido. Conhecimento que não prescinde - ao contrário, precisa - da contribuição teórica e da pesquisa. Porém conhecimento não dissociado dos processos e práticas que se dão, sobretudo, nos locais.


    O que se propõe como diferencial é a o tratamento sistemático de questões e pontos nevrálgicos relacionados ao desenvolvimento local. Isto significa, além de acompanhar o estado da arte em torno do tema, agregar e impulsionar a massa crítica existente, a partir das questões que mobilizam os diferentes participantes da rede.


    Em segundo lugar, a idéia proposta é de uma rede de trabalho em sentido lato ou, pode-se dizer, uma "rede que trabalha". Mesmo que pareça redundante, esta ênfase no movimento, no fluxo, na iniciativa e no intercâmbio é fundamental para clarificar os propósitos e a natureza da Rede DLIS. A otimização do uso da Internet é um aspecto essencial, mas as possibilidades do meio eletrônico não são, por si só, geradoras de participação. Esta rede não se define exclusivamente como uma rede virtual: é, antes de tudo, uma rede social. Portanto, uma rede movida por pessoas com suas densidades próprias, seus vínculos intra e inter-organizações e sua capacidade de iniciativa - como formuladores, multiplicadores, pesquisadores e agentes de processos de desenvolvimento local. Ou, simplesmente, como pessoas ativamente interessadas no tema e nas possibilidades de - em torno dele - agir em rede.


    Em terceiro lugar, propõe-se não o uníssono, mas uma rede mista e plural. Mista no sentido de envolver pessoas e organizações de naturezas distintas, na sociedade civil, no setor produtivo e no âmbito estatal, nas três esferas. Plural no sentido de incorporar diferenças e trabalhar divergências. Como já se disse, somente uma morfologia de rede - à diferença de uma pirâmide, uma árvore, um círculo ou uma teia - pode conter uma verdadeira diversidade, funcionando como um todo, de modo que a polifonia não signifique pulverização ou cristalização de polaridades.


    Os laços flexíveis que caracterizam uma rede permitem a convivência de proximidades e distâncias entre seus participantes, de acordo com suas inclinações e interesses. Porém uma efetiva dinâmica de rede tende a fazer com que as relações construídas no processo prevaleçam sobre as disposições pré-existentes, ao gerar uma ambiente de ampla transparência, contrariando a lógica do "guardar para si" e estimulando a reciprocidade aberta.


    Produzir um deslocamento comportamental, face à "cultura da desconfiança" e ao "espírito de demarcação", não significa inibir conflitos e divergências. Ao contrário, o debate e a visibilidade dos diferentes enfoques são aspectos essenciais na vida desta rede. Contudo os palcos de consenso e as arenas de conflito - ainda que naturalmente constituídos no processo - não se sobrepõem ao diferencial próprio de uma rede como geradora de novos modos de produção e comunicação.


    A possibilidade de convivência ente atores heterogêneos significa também um esforço de perda de defesas, exercício de tolerância e despreendimento institucional, ainda que obviamente não dissociado das motivações e dos interesses reais das pessoas e organizações, tomadas individualmente ou como campos específicos de articulação. Esta abertura, mais do que uma questão de generosidade - que não brota artificialmente - é uma questão de inteligência estratégica, sobretudo diante da força potencial da temática do desenvolvimento local, como mudança paradigmática e cultural.


    Em quarto lugar, sem prejuízo da diversidade, uma rede supõe uma identidade própria, que é em boa parte uma identidade de propósitos ou um projeto comum que induz à participação. No caso da Rede DLIS, isto significa primariamente: i) a consonância com elementos e princípios associados à idéia de desenvolvimento local integrado e sustentável - sob uma perspectiva de aprofundamento democrático, cidadania plena e gestação de alternativas sustentáveis de desenvolvimento, no contrafluxo dos processos geradores de exclusão social e degradação ambiental; ii) a identificação com os objetivos gerais desta rede; iii) o compartilhamento de princípios básicos de funcionamento, esboçados no item a seguir.


    Em quinto lugar, é essencial ao espírito da proposta a necessidade de conectar esta rede a outras redes. Uma rede - enquanto tal - não ocupa lugar, nem trava lutas de alojamento e desalojamento. No caso da Rede DLIS pretende-se, mais do que conviver, contribuir para alimentar outras redes (principalmente aquelas com alto grau de densidade comum), sendo a recíproca igualmente verdadeira. Temos que ativar a lucidez estratégica e a capacidade prática neste sentido, ligando esta rede a outras redes e campos de articulação que envolvem mais diretamente o desenvolvimento local ou que com ele se conectam intimamente (a gestão local, o microcrédito, a socioeconomia solidária, a agenda socioambiental, as redes de capacitadores locais etc.).


    Nenhuma rede será a "rede das redes". Até porque uma coisa (uma rede) não combina com a outra (rede das redes). Mas um processo como o aqui proposto pode facilitar os elos entre diferentes campos de articulação, otimizar a navegabilidade nos meios virtuais e fomentar múltiplos espaços presenciais de produção e debate, nas diferentes regiões do Brasil. Tendo como horizonte a capilarização da informação gerada e disseminada, ou seja, o estímulo para que as realidades e experiências locais possam ter - crescentemente - acesso e expressão no âmbito da rede.


    4. Modo de Funcionamento da Rede DLIS


    4.1. Alguns princípios e referenciais elementares


    A questão dos modos de funcionamento subordina-se, antes de tudo, à questão dos princípios de funcionamento e à definição de referenciais mínimos, como os mencionados a seguir.



  • A Rede DLIS deve partilhar do princípio da ampla acessibilidade. Ou seja, deve produzir uma informação pública, que possa ser produzida e apropriada nos mais diferentes lugares, entendendo que a democratização da informação é elemento necessário de mudança cultural, enquanto a exclusão informativa é condição para a manutenção da cultura do privilégio e do clientelismo, nas suas mais diversas formas.

  • A Rede DLIS não comporta discriminações socioculturais, ideológicas ou político-partidárias, tendo como única fronteira o seu horizonte temático e o compartilhamento de valores básicos ligados à universalização da cidadania (conquista de direitos indivisíveis) e ao aprofundamento da democracia, inerentes à associação entre desenvolvimento sustentável e protagonismo local.

  • A Rede DLIS é essencialmente um espaço de visibilidade e desconcentração da informação (ou seja, de informação compartilhada), capaz de suscitar formas diversas e simultâneas de intercâmbio. Não é em si um fórum político, ainda que seja ambiente de germinação de fóruns específicos de debates, virtuais ou presenciais, e de articulação com fóruns existentes ou que venham a ser constituídos, independentemente desta rede.

  • O funcionamento da Rede DLIS supõe a construção progressiva de uma cultura de relacionamento, tendo por base uma realidade operacional (meios práticos de ação) e a existência de conteúdos substantivos que os participantes querem e podem compartilhar.

  • A Rede DLIS não é apenas uma rede na Internet: o virtual e o presencial podem ser mutuamente estimulados, sendo cada qual insubstituível nas suas potencialidades e nos seus efeitos.


  • 4.2. O site rededlis como facilitador do processo


    Como ambiente de referência comum, a construção e aprimoramento de um site próprio (o site rededlis) é condição fundamental para a consolidação e o desenvolvimento dos trabalhos desta rede. Particularmente neste aspecto, a Rits - em termos de experiência, base tecnológica e recursos de gerência de conhecimento - assume um papel relevante como facilitador e gerador dos meios práticos de consecução da rede, em especial no âmbito da Internet.


    Um site que nasce articuladamente à formação de uma rede deve se constituir, mais do que em um repositório de informações, em local de intercâmbio e fluxo de conhecimento. A idéia é que, pouco a pouco, o site se transforme em uma oficina permanente sobre desenvolvimento local, possibilitando expansão contínua de seu acervo, espaços sistemáticos de debates e utilização de ferramentas de comunicação e produção coletiva.


    Não se pretende que o site reúna em si mesmo a vastidão das contribuições hoje existentes ligadas à questão do desenvolvimento local - mas que seja uma porta de acesso a este universo. Neste sentido, o site deverá estar dotado de alicerces tecnológicos que permitam constituí-lo como um portal vertical (ou portal temático), possibilitando a alimentação descentralizada e o acesso facilitado a páginas relevantes já disponíveis na Web, no Brasil e no exterior.


    Assume-se a idéia de que, em uma rede, como em qualquer organismo vivo, o fluxo é mais importante que o estoque. Portanto, a animação do processo comunicativo - a ação de propor e informar -, desencadeada a partir de diversos nós, é seu elemento essencial. Para tanto, é necessário dispor de ferramentas apropriadas, sem perder de vista que estas são apenas veículos facilitadores, e não o móvel das ações. Incluem-se aqui mecanismos de inserção de artigos, notas e dados - pelos diversos participantes da rede; ambientes de intranet para arquivamento de conteúdos e outras funções; ferramentas de ciberfórum para compartilhamento e otimização de debates; sistemas ágeis de demandas-respostas para questões técnicas e práticas.


    Mas os fluxos partem de estoques e geram estoques. Neste sentido, o acervo a ser constituído é também um aspecto básico. Que elementos devem fazer parte deste acervo? Alguns componentes parecem particularmente relevantes, introduzidos diretamente no site ou via navegação intersites: i) cadastros dinâmicos sobre pessoas e organizações participantes da rede; ii) registro de reuniões e seminários; iii) catálogo de publicações com acesso direto aos documentos já disponíveis; iv) conhecimento sobre estratégias de apoio ao DLIS; v) catálogo de experiências relacionadas ou não a tais estratégias e vi) acesso ao instrumental existente de apoio ao DLIS (metodologias de capacitação e planejamento; informações para diagnósticos locais; sistemas de monitoramento e avaliação). Como exigênca básica, é preciso que sejam produzidas chaves de leitura e caminhos simplificados para localização de informações, incluindo links explicativos com páginas relevantes, garantindo acesso "direto ao ponto".


    Uma ação desta natureza só será exeqüível com um amplo trabalho cooperativo de seleção e disponibilização de informações. Isto supõe uma motivação neste sentido, a partir da clareza dos benefícios que a estratégia-rede pode trazer, como um salto à frente nas condições de formular, decidir e gerir, tendo o desenvolvimento local como foco temático. Este é também um objetivo básico desta rede: estimular uma cultura de trabalho em rede entre atores heterogêneos, em um ambiente interorganizacional, capaz de gerar um ganho de inteligência coletiva e plural.


    4.3. As linhas de ação e a utilidade da Rede DLIS


    Uma rede só funciona se for útil, isto é, se servir, se gerar um diferencial que potencialize o conhecimento e a ação de seus participantes. Neste sentido, sinteticamente, alguns diferenciais podem ser destacados na presente proposta:


    Integração da informação - possibilidade de coleta e sistematização do acervo hoje existente em diversas organizações envolvidas com o desenvolvimento local, a partir de um ambiente integrado e conectado a outros sites e páginas na Internet.


    Visibilidade da informação - possibilidade de disponibilizar informações produzidas pelos participantes da rede.


    Facilitação da navegação - ordenação lógica e identificação de trilhas simplificadoras, no âmbito do site rededlis e nos links intersites.


    Acesso a instrumental de apoio ao desenvolvimento local - disponibilização de conteúdos relacionados a informações para diagnósticos locais, metodologias de planejamento e capacitação, sistemas de monitoramento e avaliação.


    Compartilhamento de bases de dados - acesso e produção compartilhada de informações sobre pessoas, organizações, experiências e publicações relacionadas ao tema; links com bases de dados já existentes e afins.


    Divulgação de notícias - disponibilização de meios de propagação de fatos relevantes e eventos diretamente associados ao tema desenvolvimento local.


    Espaços de debates e co-formulação - disponibilização de ferramentas de interação e trabalho cooperativo (como ciberfórum e intranet).


    Ambientes de aprendizagem - criação de oportunidades de aprendizagem de competências - sobretudo tecnológicas - e aprendizagem relacional (formas de convivência e sociabilidade próprias a uma rede com as características pretendidas), através de oficinas de capacitação e da prática progressiva do trabalho em rede.


    Produtos em meio não virtual - produção de conteúdos com circulação independente da Internet, em mídia eletrônica (cdrom, vídeos) e não eletrônica (publicações impressas).


    Encontros presenciais - criação de oportunidades de reuniões, seminários e eventos relacionados ao tema desenvolvimento local.


    4.4. As formas de participação na Rede DLIS


    A participação das pessoas/organizações nesta ação em rede pode tomar muitas formas e graus variáveis de intensidade. Algumas modalidades de participação, não excludentes entre si, podem ser citadas:



  • proposição de caminhos estratégicos para a consolidação e o o desenvolvimento da rede;

  • contribuições para a gestão da rede;

  • contribuições para o aperfeiçoamento do site rededlis em seus componentes básicos (design, navegabilidade, conteúdos, interatividade);

  • disponibilização e produção de conteúdos a serem inseridos ou apontados a partir do site rededlis.

  • proposição e animação de debates virtuais e presenciais;

  • divulgação de notícias de interesse relacionados ao tema;

  • constituição de núcleos geograficamente referenciados e articulados à Rede DLIS;

  • contribuições para a capilarização da rede nas comunidades locais;

  • contribuições para a articulação desta rede com outras redes/sites afins e conexos;

  • proposição e encaminhamento de iniciativas diversas, que possam fortalecer e ser fortalecidas pela rede.


  • 4.5. A prática de gestão da Rede DLIS


    A prática da gestão de redes é uma necessidade estratégica que ainda requer muito caminho a trilhar e, sobretudo, rupturas comportamentais, pois não é verdade que estamos acostumados a trabalhar em rede. Todo o cuidado é pouco para, sob uma aparência de rede, não reproduzir as formas tradicionais de administração e encaminhamento político - piramidais, tayloristas e dirigistas.


    A Rede DLIS nasce a partir de um projeto de apoio, já com uma estrutura executiva em funcionamento, sediada na Rits e, assim, baseando-se na expertise e nas condições técnicas desta organização e da equipe de coordenação constituída. Mas a construção orgânica da Rede DLIS - inclusive no que tange à sua estrutura de gestão - é algo a ser constituído no próprio processo.


    Uma rede com as características pretendidas supõe uma constante formulação político-estratégica para sua condução e gestão, requerendo um coletivo que agregue atores e organizações diferenciados - um núcleo de articuladores vinculados ao tema DLIS. Este não se confunde com a coordenação operacional e com o núcleo técnico-executivo ligado à Rits, cujo papel é a facilitação do fluxo de comunicação e a produção/organização do acervo da rede. Além de uma base executiva com ação diária e ininterrupta, alia-se ao processo o estímulo a uma dinâmica multicêntrica de animação, liderança e produção de conteúdos.


    Considerando tais necessidades, alguns elementos constitutivos podem ser identificados como essenciais na próxima etapa de consolidação da rede, cujos contornos, interfaces e padrões relacionais tendem a se desenhar progressivamente:



  • núcleo de articuladores/formuladores - elemento de sustentação orgânica e sistematização de orientações estratégicas;

  • núcleo de coordenação executiva e manutenção (conteúdo e comunicação) - elemento de animação permanente e produção/organização do acervo da rede;

  • núcleos regionais - elementos de articulações geograficamente referenciadas (municipais, microrregionais, estaduais, interestaduais, macrorregionais), constituídos como fóruns, ambientes de interlocução ou grupos de trabalho;

  • animadores de debates temáticos - elementos de dinamização e aprofundamento de questões de especial interesse para um elenco de participantes, de maior ou menor amplitude;

  • geradores de conteúdos e links - elementos de expansão do acervo da rede e da acessibilidade no âmbito na Internet.


  • 5. Observações finais


    Acreditamos que a concretização desta rede - também ao fortalecer outras redes - pode melhorar imensamente nossos trabalhos e contribuir para mexer com a vida de um número incontável de pessoas. É esta a inspiração subjacente à proposta, que precisa da contribuição de todos para ser aprimorada.


    A efetivação e multiplicação desse processo - onde se conjugam a capacidade de disseminar, ouvir e compartilhar - depende da nossa motivação e da nossa confiança. Não sobretudo a confiança nos outros, mas a confiança em cada um de nós.


    Sair dos labirintos, conectar as ilhas, acender as lanternas vindas das pessoas e organizações, cruzar os fachos de luz e gerar novas clareiras. Um efetivo trabalho em rede pode ser também isto, uma ultrapassagem de dificuldades aparentemente irremovíveis, uma possibilidade efetiva de iluminar nossas ações e, especialmente, de fazer avançar no país a questão do desenvolvimento local, como tema de trabalho, reflexão e prática transformadora.


    *Caio Silveira e Liliane da Costa Reis são coordenadores da Rede DLIS.







    A Rets não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões emitidos nos artigos assinados.

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