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Cidadania faz gol de placa

Autor original: Marcos Lobo

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Ao longo dos últimos anos, o esporte tem sido visto como uma das alternativas mais eficientes para tirar crianças e jovens da condição de pobreza e risco social. Por todo o país, surgem iniciativas de estrelas do esporte nacional que desenvolvem projetos sociais em comunidades carentes - muitas vezes, suas comunidades de origem. O projeto "Bola pra Frente", do Centro Esportivo Educacional Jorginho (CEEJ), é um deles. Localizado em Guadalupe, zona norte do Rio e idealizado pelo jogador tetracampeão do mundo Jorginho, o centro atende cerca de 900 crianças, de 6 a 16 anos.


"O esporte contribui para a socialização da criança e do adolescente e dissemina valores positivos como união em torno de um objetivo comum", afirma Susana Moreira, coordenadora de Marketing do CEEJ, em entrevista exclusiva à Rets. Segundo ela, aos poucos o meio esportivo vai percebendo a sua responsabilidade em ajudar essas crianças. "Muitos atletas vêm das classes mais pobres. Eles já sentiram na pele o que estes jovens passam", explica.


Rets – Como surgiu o CEEJ?


Suzana Moreira – O Centro Esportivo Educacional Jorginho completou um ano no último mês de junho. O projeto surgiu a partir de uma iniciativa do Jorginho, tetracampeão mundial e jogador do Vasco. O Jorginho foi criado em Guadalupe e, ainda criança, jogava bola no campo onde hoje está localizado o CEEJ. O sonho dele sempre foi fazer algo por sua comunidade e, em especial, pelas crianças.


Rets – Quantos jovens freqüentam o CEEJ? Qual a faixa etária do público?


Susana Moreira – O "Bola Pra Frente" atende 900 crianças, de 6 a 16 anos. São crianças pobres, que vivem numa área muito carente, onde há tráfico de drogas e um alto índice de violência ligado a esta atividade.


Rets – De que forma o esporte pode ajudar essas crianças a saírem da condição de pobreza em que se encontram? O que muda no comportamento delas?


Susana Moreira – O esporte contribui para a socialização da criança e do adolescente e dissemina valores positivos como união em torno de um objetivo comum, nesse caso a vitória, a superação de desafios, o respeito ao próximo e o estabelecimento de metas. Tudo isso influencia positivamente no comportamento destas crianças. Além disso, elas gostam de praticar esportes, então fica mais fácil conseguir a sua adesão. O esporte ocupa o tempo das crianças, afastando-as das ruas.


Rets – O CEEJ oferece algum outro tipo de atividade além da esportiva?


Susana Moreira – Já temos o apoio de uma assistente social. Com a entrada de patrocinadores neste segundo semestre, vamos implementar novos projetos, como apoio pedagógico e aulas de informática, idiomas e atividades culturais, além da distribuição de lanche.


Rets – O esporte é suficiente para melhorar a qualidade de vida dessas crianças?


Susana Moreira – Nenhuma ação isolada é suficiente. O esporte é apenas o começo, e um bom começo, por sinal. Mas é preciso trabalhar outras questões, principalmente a família das crianças. No CEEJ, o que nós vemos é que muitos professores trabalham os valores das crianças, mas quando elas chegam em casa, acabam tendo que conviver com pais alcóolatras, violentos e até mesmo envolvidos no tráfico.


O esporte em si não vai resolver esse problema. Mas se nós juntarmos a ele o carinho e a atenção dos professores, as coisas começam a melhorar. O professor, além de ajudar a aumentar a auto-estima das crianças, acaba se tornando o ídolo delas. Nas favelas, nós sabemos que os traficantes começam a "doutrinar" os jovens desde cedo. Eles dão festas de aniversário, presentes, brinquedos no Natal. Com o "Bola pra Frente", estamos conseguindo dar um novo parâmetro para elas.


Rets – O CEEJ está localizado em um região bastante pobre da Zona Norte carioca. Se o Centro não existisse, como seria a vida das crianças e jovens nessa região?


Susana Moreira – Pelo menos no caso das crianças, elas teriam mais tempo ocioso e, portanto, mais disponibilidade para fazer coisas erradas. A simples presença do Jorginho já dá uma idéia de que elas também podem ser alguém na vida. Mas sabemos que nem todas serão craques da seleção. Daí a importância de investirmos em reforço escolar, informática, idiomas etc. Outro fato interessante é que as escolas da região estão usando o CEEJ para conseguir mais empenho dos alunos. Os diretores e professores "ameaçam" contar para o CEEJ se alguém anda faltando aula ou está mal na escola. Aliás, exigimos que todos os garotos estejam estudando.


Rets – Você poderia falar um pouco sobre o binômio "esporte-cidadania?


Susana Moreira – Muitos atletas vêm das classes mais pobres. Eles já sentiram na pele o que essas crianças passam. Está havendo uma conscientização maior no meio esportivo. E não só junto às grandes estrelas do esporte. Nós sabemos que muitos professores de Educação Física têm conseguido excelentes resultados sociais a partir de um trabalho esportivo com crianças carentes. A dobradinha esporte-cidadania não é apenas um termo. Ela expressa uma união que está dando muito certo, visto que torna mais fácil atrair as crianças. O esporte tem elementos muito ricos para trabalhar a cidadania, como jogo em equipe, vitória, vencer barreiras, ter visão, disciplina e por aí vai.


Rets – De que forma o CEEJ se sustenta?


Susana Moreira – O projeto é sustentado pelo próprio Jorginho. Há ainda uma fonte de renda que vem da locação do espaço para times de futebol de empresas da vizinhança. Para o segundo semestre, vamos contar também com o patrocínio de algumas empresas que se sensibilizaram com o projeto e têm interesse em contribuir. As crianças não pagam mensalidade.


Rets – Quais são os planos do Centro para o futuro?


Susana Moreira - Implementar as atividades pedagógicas e culturais neste segundo semestre. Para 2002, queremos implementar cursos profissionalizantes para adolescentes e iniciar um trabalho de apoio à comunidade como atendimento psicológico, cursos profissionalizantes, ginástica para a terceira idade etc.

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