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Médicos solidários

Autor original: Felipe Frisch

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Três anos é uma boa idade para sair de casa? Para uma turma de médicos que já atuam como voluntários há esse tempo, a resposta é sim. O grupo, criado inicialmente como um projeto dentro do Médicos sem Fronteiras, está buscando a sua independência, e acaba de formar uma ONG no Rio de Janeiro, o Médicos Solidários. Fundada no último dia 17, e já com mais de 150 associados, a possibilidade criada pela iniciativa é de os médicos darem atendimento voluntário em seus próprios consultórios, disponibilizando uma ou duas horas por semana para pacientes que não podem pagar o tratamento.


Para se filiar, o que importa, muitas vezes, não é o número de consultas por semana que o médico pode dar, mas a importância de ter mais aquela especialidade e uma clínica mais perto das diversas comunidades que serão atendendidas. Essa é a opinião do Secretário Executivo da nova organização, Henrique Peixoto, que já comemora a presença de mais de 20 especialidades nos quadros de voluntários. Segundo ele, a formação da ONG é mais um passo na direção da sustentabilidade, objetivo de cada iniciativa do Médicos sem Fronteiras. Por enquanto, eles ainda estão recebendo patrocínio do MSF.


A parceria com outras ONGs, associações de moradores e outras entidades é essencial para a realização do trabalho, lembra Peixoto. São elas - hoje num total de 43 - as responsáveis pela intermediação e marcação das consultas das quase 100 mil pessoas atendidas, de acordo com os números da instituição e das parceiras. A participação dessas entidades garante que terá a consulta marcada “quem realmente tem necessidade do atendimento”, como destaca Peixoto

Ou seja, só é atendido quem é afiliado a alguma das instituições parceiras, que ficam responsáveis por detectar as reais necessidades de quem se cadastra, pois, mesmo nas comunidades menos favorecidas, há o “capitalista”. Assim Peixoto chama o sujeito que tem diversas propriedades alugadas, ou mora em locais privilegiados e mais caros. Com toda essa seleção criteriosa, o número de consultas marcadas para esse mês ultrapassou 1 mil, um número bastante elevado, em vista da quantidade de médicos disponíveis e do total de público cadastrado.


A organização não pretende atuar como um serviço público, mas pode muito bem servir como exemplo do trabalho voluntário que os médicos podem fazer. “A rede pública não está dando conta e quem precisa de atendimento acaba parando na mão do balconista da farmácia”, constata Peixoto, que é homeopata, clínico geral e também atende como voluntário no projeto. “A principal condição para o médico se associar é que ele possa dar atendimento gratuito e dentro da ética médica”, destaca.


Uma das maiores dificuldades encontradas por quem busca atendimento é marcar a consulta próximo à sua residência, pois muitas vezes falta dinheiro para a passagem e conhecimento da própria cidade - quando o consultório é distante da comunidade onde vive o paciente. Outro desafio é ampliar a rede que fornece exames gratuitos a essa população. Atualmente, os médicos contam com o apoio de apenas cinco laboratórios bioquímicos e dois centros radiológicos particulares. Para ambos casos, apenas os exames mais simples são doados, e existe uma cota máxima mensal em cada um deles.


Curiosidade à parte é que, apesar de não haver restrições, em geral os profissionais que trabalham como médicos solidários não trabalham em outras frentes do MSF. Isso demonstra justamente que muitos médicos não atuam em causas sociais, mesmo voluntárias, por haver a exigência de deslocamento até a comunidade ou o paciente necessitado, o que demanda tempo de locomoção - que nem sempre eles têm disponível. “O pulo do gato é a coisa de atender no consultório. Quem atende 10, atende 11 num dia. Todo mundo tem um tempinho”, assegura Peixoto.


Quem quiser contribuir para a ampliação da rede voluntária de médicos ou cadastrar sua entidade para futuramente fornecer o atendimento médico, pode entrar em contato pelos telefones (21) 2516-3288/6459, e falar com a Cristiane, assistente social da organização.

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