Autor original: Marcos Lobo
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
Se um dia você estiver andando por São Paulo e topar com uma multidão assistindo a uma sessão de cinema no meio rua, não se assuste. O melhor a fazer é ficar em silêncio, arranjar um lugar para sentar e curtir um bom filme. Pelo menos é isso que um número cada vez maior de pessoas vem fazendo durante as exibições do projeto Cinemam na Rua.
"A melhor propaganda é ver tanta criança junta durante as sessões. A participação das pessoas já começa na hora em que estamos montando os equipamentos. Em cinco minutos, surgem mais de 150 pessoas", diz Christian Saghaard, cineasta há nove anos e um dos organizadores do projeto.
Fruto de uma parceria entre o MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e o projeto Intervenções Urbanas, o Cinemam na Rua já realizou apresentações nos últimos dias 14 e 28 de julho na capital paulista.
De acordo com a organização do programa, a idéia promete revolucionar o acesso ao cinema nas áreas mais pobres da cidade. "Muito pouca gente costuma ir ao cinema nessas regiões. Alguns jovens conseguem em um ato de heroísmo, pois o circuito não chega à periferia", comenta Saghaard.
"Nossas duas primeiras exibições foram feitas em comunidades onde a Ação Comunitária do Brasil (ACB) atua", informa Maíra Spilak, integrante do Educativo MAM, programa que coordena o Cinemam na Rua.
Segundo Maíra, o interesse em levar o cinema para um público maior sempre esteve na agenda de atividades do MAM. "Tanto é que, desde 1998, o museu apresenta mostras de cinema nos finais de semana. Este mês, estaremos exibindo até o dia 12 somente filmes japoneses", justifica.
Cada exibição do Cinemam na Rua costuma ter uma hora de duração e, por enquanto, dedica-se apenas aos curtas-metragens. Geralmente, em uma noite, são exibidos cinco curtas.
A escolha desse formato não é aleatória. Segundo Saghaard, a cada ano, os curtas-metragens vão ganhando mais espaço no cinema brasileiro. "A presença de vários curtas nacionais na programação do projeto deve-se à importância cada vez maior do formato, tanto para o conjunto das obras audiovisuais do nosso país como para um público cada vez maior e mais interessado", explica o cineasta. "A cada ano temos mais festivais do formato, exibições na TV e espaço na mídia", completa.
Apesar desse crescimento, os organizadores concordam que o curta-metragem ainda é um formato desconhecido do grande público. "Daí a nossa intenção de levá-lo para quem não conhece, para quem não sabe como é uma projeção em 16mm", acrescenta Maíra.
Em todas as exibições, a preferência por filmes experimentais e independentes é explícita. "Nosso projeto dá atenção especial para a produção independente e filmes que, de alguma forma, contribuam para o desenvolvimento da linguagem cinematográfica", afirma Saghaard. Segundo ele, mesmo assim, a programação abrange desde filmes raros ou clássicos até produções recentes e novos lançamentos.
Na última apresentação, foram exibidos os curtas "Viver a Vida", de Tata Amaral; "Frankstein Punk", de Cao Hamburger e Eliana Fonseca; "Dizem que Sou Louco", de Míriam Chnaiderman; e "Fast Frames", de Leonardo Hallal.
"Todos os filmes são exibidos em película de cinema, que, além de assegurar uma maior qualidade de exibição, possibilita uma maior aproximação dos espectadores com o processo cinematográfico", destaca.
Para o futuro, os organizadores planejam ampliar o projeto para outras regiões de São Paulo. "Sabemos que o trabalho não é tão fácil quanto parece, tem que ter organização. Para os próximos meses, ainda não temos nada fechado, pois estamos à procura de patrocínio", explica Maíra.
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