Autor original: Fausto Rêgo
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
Mulheres de comunidades de baixa renda do estado do Rio estão unindo forças para combater a Aids. Em uma iniciativa do programa Comunicse (Consultoria Comunitária em Saúde e Educação), mantido pelo Cedaps (Centro de Promoção de Saúde), foi criada a Rede de Associações de Mulheres para o trabalho de prevenção da Aids e das doenças sexualmente transmissíveis, as DST. O objetivo é incentivar ações criativas e eficazes de prevenção e, com isso, reduzir a incidência das doenças nessas comunidades.
O trabalho começou com um seminário realizado nos dias 17 e 18 de julho, no município de Rio Bonito, que reuniu 24 representantes de várias comunidades. Durante esses dois dias, eles conheceram uma metodologia chamada Construção Compartilhada de Soluções em Saúde e receberam orientações básicas para definir as diretrizes do trabalho que pretendiam desenvolver. O seminário também foi importante para fortalecer a atuação dos líderes comunitários, preparando-os para a gestão e o planejamento de suas atividades.
Wanda Guimarães, coordenadora de projetos do Cedaps, informa que cada associação tem autonomia para decidir que atividades serão implementadas. “São elas que escolhem que programas vão organizar em suas comunidades. Nosso trabalho é apenas de assessoria técnica. Se a comunidade achar que deve incentivar o uso de preservativos entre casais, nós vamos promover reuniões de esclarecimento. Se achar que precisa de agentes multiplicadores de informação, nós vamos capacitá-los”, explica.
Ao final dos seminários, 20 projetos estavam elaborados, beneficiando quase 4 mil pessoas no Rio, na Baixada Fluminense e em Niterói. O Cedaps vai acompanhar o desenvolvimento de cada projeto até a sua conclusão.
Força e fragilidade
A decisão de envolver as mulheres das comunidades empobrecidas na luta contra a Aids foi tomada depois que a ONU, em uma Sessão Especial sobre HIV e Aids realizada em junho, reconheceu a importância da participação feminina na disseminação de informação sobre a doença e nas atividades de prevenção. Por outro lado, dados do Ministério da Saúde mostram que vem crescendo o número de mulheres infectadas no Brasil. Atualmente, a proporção é de uma mulher contaminada para cada dois homens. “As mulheres, hoje, continuam preocupadas com creche, educação, carreira, mas também estão voltadas para a questão da Aids. Já é uma nova bandeira”, diz Wanda. “E não só a Aids”, acrescenta. “As doenças sexualmente transmissíveis são uma porta de entrada para o HIV, aumentando muito o risco de contágio”.
Wanda conta que a Rede de Associações de Mulheres já estava sendo constituída informalmente há algum tempo. Ao perceber que as próprias associações estavam se organizando em torno do tema, o Cedaps, que sempre desenvolveu atividades relacionadas à saúde e ao desenvolvimento comunitário, resolveu montar o projeto. “A incidência de Aids começou a crescer nessas comunidades e nós acabamos nos especializando”, diz ela. Dez associações já estão envolvidas e iniciaram trabalhos interessantes com públicos diversos. Um deles é voltado para a conscientização de adolescentes em escolas. Outro tem como público-alvo os freqüentadores de bailes funk, que recebem folhetos, preservativos e participam de encontros educativos. Um terceiro pretende levar esclarecimentos sobre DST e Aids a homens da terceira idade.
A coordenadora de projetos do Cedaps revela a intenção de realizar encontros mensais das Associações de Mulheres, de modo a promover a reflexão, o debate e o encaminhamento de ações conjuntas para os problemas de saúde das comunidades. Outro objetivo é formar um fórum para discutir ações, limites, perspectivas, dificuldades e avanços no trabalho de prevenção da Aids e das DST.
Aprovado em licitação pública, o projeto Rede de Associações de Mulheres conta com apoio financeiro do Ministério da Saúde, por meio da Coordenação Nacional de DST/Aids. A Prefeitura do Rio de Janeiro também participa fornecendo preservativos. Dezesseis mil são distribuídos mensalmente. O projeto tem duração prevista de um ano, mas pode ser renovado, dependendo dos resultados. Wanda Guimarães torce por isso: “Nós entendemos que a informação, por si só, não basta. É preciso orientar a mudança de comportamento”.
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