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Commodities Ambientais representam democratização do capital e preservação do meio ambiente

Autor original: Marcos Lobo

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Ao entrar em um supermercado e comprar um produto qualquer - uma garrafa de água mineral, por exemplo - o consumidor está levando para casa um produto commoditizado. É claro que muita gente nem se dá conta disso, pois são poucas as pessoas que conhecem o termo commodity. No entanto alguns produtos que aparecem nas prateleiras dos supermercados têm uma imagem social – ainda invisível para a maioria das pessoas.

"A garrafa de água mineral que você compra está commoditizada, ou seja, ela tem um padrão de qualidade e passou por todo um processo de industrialização para chegar ali. Nesse caso, o lucro da venda do produto vai para a empresa. A nossa proposta é outra: queremos que o dinheiro seja revertido para a conservação do meio ambiente local", afirma Amyra El Khalili, economista e coordenadora do projeto do Sindicato dos Economistas do Estado de São Paulo que cria a Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais.

Lançada em meados da década de 90, a idéia do grupo é comercializar em Bolsa todas as mercadorias originárias de recursos naturais. São as "commodities ambientais". "No caso da garrafa de água, o dinheiro não só poderia ser aplicado na preservação da mata como também no desenvolvimento de comunidades carentes da região, beneficiando o maior número de famílias possível", completa.

Ainda sem data para ser colocada em prática, a Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais (também conhecida como Brazilian Environment Commodities Exchange – BECE) é mais do que uma proposta. "É uma provocação. Ela será a materialização do mercado dos pequenos agricultores", prevê.

Inspirada na Veiling Holambra, uma Bolsa de Flores criada por uma comunidade de holandeses no Estado de São Paulo, a BECE pretende proteger a fonte do produto por meio do investimento dos lucros em pesquisas de espécies ameaçadas ou em extinção.

Também figuram entre os outros objetivos da BECE a preservação do ecossistema local, a reversão de todo o lucro para os cultivadores e suas comunidades e a possibilidade de financiamentos de longo prazo até que a produção adote totalmente um modelo sustentável.


Recentemente, um estudo feito pelo Instituto Worldwatch revelou que 14 milhões de empregos foram gerados com o surgimento de uma economia ambiental e sustentável no mundo.

As sete matrizes


De acordo com Amyra, as commodities ambientais dividem-se em sete matrizes: água, energia, biodiversidade, madeira, minério, reciclagem e controle de emissão de poluentes. Esta última ainda aparece dividida em três elementos: solo, água e ar.

Dentre todas as commodities, a água aparece como a mais importante.

Em um desenho semelhante a um candelabro de sete velas, a economista explica por que a água ocupa a vela central. "Sem ela não há vida. Ela é escassa, mas ao mesmo tempo pode ser racionalizada, renovada. Todos os outros elementos dependem dela", aponta.


Para o lado direito, do centro até a ponta, aparecem os seguintes elementos: minério, reciclagem e controle de emissão de poluentes. "Esses são os elementos não-renováveis", ressalta. Já do lado esquerdo, surgem a energia, a biodiversidade e, na ponta, a madeira. Todos eles representando os elementos renováveis.

A garrafa de água mineral, por exemplo, não é o único produto que poderia receber o selo "commodity ambiental". Em junho de 99, quando foi realizado um estudo de caso para a comercialização de orquídeas da Mata Atlântica, descobriu-se que outros itens, como bromélias, erva-mate, xaxim, palmito e plantas medicinais, entre outros, também poderiam ser incluídos na lista.

"Fomos colocando novos elementos e, quando percebemos, tínhamos toda a Mata Atlântica na Bolsa", lembra a economista.

Muito mais que uma simples mercadoria, as commodities ambientais podem significar a melhoria na qualidade de vida da população. Para Amyra, essa é a principal distinção entre as commodities ambientais e as já tradicionais.

"No supermercado, onde tudo é commodity tradicional, o desempregado nem passa na porta, pois não tem como consumir. Com as commodities ambientais, eles serão incluídos, pois o povo é o dono das sete matrizes ambientais", aposta.

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