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Sim para uma nova vida

Autor original: Fausto Rêgo

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

Quando o projeto Ser Menina começou a ser criado, foi preparado um cartaz para ser levado às escolas das comunidades da zona oeste do Rio de Janeiro. Nele, uma única frase: "O que é felicidade?". As crianças eram incentivadas a recortar de revistas imagens que correspondessem ao que imaginavam como resposta. Para surpresa geral, a maioria dos recortes colados no cartaz era de comida. Assim surgiu a idéia, logo divulgada por Betinho na campanha contra a fome, de que "Felicidade é um prato de comida".


Foi assim que o Ser Menina começou a despertar interesse: com uma abordagem positiva, sem impor regras, abrindo espaço para a participação. A ex-coordenadora do projeto, Cristina Gramling, notava que os programas existentes até então priorizavam a "linha do não" – "você não pode engravidar tão cedo", "não pode ter relação sem camisinha" –, o que só gerava desinteresse. "O discurso que se fazia para essas meninas não era atraente. Então resolvemos começar pelo 'sim'. E deu certo. Tanto, que hoje são 60 meninas sendo atendidas (30 pela manhã e outras 30 à tarde). "E ainda temos fila de espera", revela Márcia Alves, a atual coordenadora.


Criado em 1993 pelo IDAC (Instituto de Ação Cultural), do educador Paulo Freire, o projeto procura resgatar a identidade e a auto-estima, dar apoio à profissionalização e garantir acesso à saúde. "Estamos reforçando a questão da gravidez e das DST e formando multiplicadoras", diz Márcia. As jovens que participam do projeto normalmente chegam por indicação de outras participantes. Algumas são encaminhadas por órgãos públicos, como o Conselho Tutelar.


Oficinas de balé e dança são um estímulo à valorização do corpo, como primeiro passo para elas terem uma preocupação maior com a saúde. Freqüentemente as meninas se reúnem em grupos para reflexão a partir de temas trazidos por elas mesmas.


O Ser Menina oferece ainda atividades de profissionalização, como informática e cozinha experimental. "Também priorizamos a família, fazemos um acompanhamento regular e temos uma assistente social que vai às casas delas para conversar com os pais", lembra Márcia.


Uma chance de viver


O Centri (Centro de Reestruturação da Adolescência), uma das unidades da Casa de Passagem, em Recife, Pernambuco, realiza um trabalho com crianças e adolescentes em situação de alto risco social. Muitas meninas chegam grávidas, às vezes com doenças venéreas. Maria Cristina Mendonça, coordenadora do Centri, diz que, em 80% dos casos, o pai não assume a criança e abandona a jovem grávida. "Elas iniciam a vida sexual muito cedo. Existe muita falta de informação, elas não conhecem o seu corpo. O pano de fundo disso tudo é a miséria. A situaçao social é gravíssima", preocupa-se.


No Centri as meninas recebem atendimento médico e escolar. Elas chegam diariamente à instituição, tomam café da manhã, participam de atividades, depois tomam banho e seguem para a escola. "Nós adotamos um processo educativo através da fala", explica Cristina. "A gente procura sempre ouvir o que elas têm a dizer e trabalhamos em cima disso". As ações se completam com visitas às famílias.


Com satisfação, ela diz que as meninas logo começam a mudar de comportamento, adotam uma nova postura diante da vida e passam a pensar em trabalho. É quando elas são encaminhadas para outra casa, o Centit (Centro de Iniciação ao Trabalho).


"Nós procuramos dar a elas a chance de viverem a adolescência. Essas adolescentes chegam aqui achando que não servem para nada. Quando elas tomam conhecimento delas mesmas, despertam para a vida", diz Cristina.

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