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Alegria no rosto dos índios

Autor original: Felipe Frisch

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Quase oito mil índios do Alto Rio Negro (AM), a 858 quilômetros de Manaus, já podem sorrir com tranqüilidade, no que depender da iniciativa dos profissionais de saúde que compõem a equipe da Associação Saúde Sem Limites, que, desde abril do ano passado, vem prestando atendimento odontológico na região. De acordo com as estatísticas da organização não-governamental, a cárie pode ser apontada como a doença mais presente: atinge 90% da população, que não conta com saneamento básico, muito menos água tratada e fluoretada. Por isso, merece tratamento emergencial.


E é isso que está sendo dado. Aliás, é o que já foi feito pelos 1.493 índios que receberam aplicação de flúor e pelos 2.742 que passaram pelos processos de escovação supervisionada só no ano passado. Além disso, mais de 2 mil procedimentos curativos foram executados, entre eles, obturações contra as cáries. No total, são estimados 30 mil índios morando na região, distribuídos em 600 tribos, de 19 grupos étnicos diferentes, derivados das famílias Tukano, Arawak, Maku e Yanomami. O atendimento é feito de forma periódica e rotativa: de 60 em 60 dias, os profissionais de saúde voltam à mesma tribo. Fora isso, são 125 agentes de saúde, das próprias comunidades, capacitados no Centro de Saúde Escola. Estes, em geral, são escolhidos pelos próprios moradores.


A assessora da ONG, Nilda Rodrigues, lembra que o foco principal desse trabalho, assim como das demais atividades da SSL, é na prevenção, privilegiando reuniões e conversas nas escolas, além da distribuição de escovas e pasta de dente. Desde o ano passado, já foram 462 palestras de orientação. De um modo geral, o diálogo é produtivo, já que eles reconhecem que alguém está cuidando deles. “Como a necessidade é grande, são muito receptivos”, constata. Quanto à possibilidade de dificuldade de relacionamento com os índios, ela brinca: “Eles têm medo de dentista, como todo mundo”.


– A gente observou, por exemplo, que, para o índio, há uma série de rituais que o pai tem que cumprir quando nasce uma criança, entre eles um período de resguardo, quando ele não pode sair para trabalhar, nem comer antes da hora orientada pelo pajé. Caso deixe de cumprir essas regras, resultará para o filho numa dentição fraca, de pouca durabilidade e resistência. E eles interpretam como um caso sem solução. É aí que entramos, explicando como a pessoa poderá prolongar o tempo da sua saúde bucal – relata a assessora.


Se os obstáculos no diálogo com os indígenas praticamente inexistem, não se pode dizer o mesmo com relação à locomoção através da floresta, já que as equipes da SSL transportam os equipamentos pela Amazônia nas costas ao longo dos 3 mil quilômetros dos rios Uaupés e Tiquié, que delimitam a região. “Mas tem que ser dessa maneira, a nossa proposta é atender as comunidades”, conforma-se Nilda, que responde sobre as outras atividades que a ONG desenvolve, com foco na “valorização e no resgate das práticas tradicionais de cura”, uma das metas da missão que a SSL declara em sua home-page:


– Estamos realizando em Iauareté, distrito de São Gabriel da Cachoeira, os Encontros de Pajés. O objetivo é traçar um paralelo entre os dois tipos de cura e resgatar a cultura dos povos da bacia do Uaupés.


Presente na região desde 1996, e desde 1989 no estado do Acre, a SSL tem uma atuação que não se limita ao atendimento odontológico. A organização recebe apoio financeiro da Fundação Nacional de Saúde, que criou, em 1994, os distritos sanitários indígenas pela floresta, sendo o Alto Rio Negro um desses. Hoje, a ONG conta com 37 profissionais de saúde, entre dentistas, técnicos de enfermagem, médicos e enfermeiros, além de outros 15 nas áreas de logística, coordenação e administração.

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