Autor original: Fausto Rêgo
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
No último dia 11 de agosto, durante um seminário realizado na favela Nova Brasília, foi feito o lançamento oficial do Movimento Popular de Favelas. A idéia surgiu há cerca de um ano, quando líderes comunitários resolveram se unir para refletir sobre os problemas das suas regiões, dar voz às reivindicações dos moradores, ampliar o diálogo com outros segmentos da sociedade e com o poder público e superar as desigualdades sociais. Nesse primeiro encontro, que teve a participação de cerca de 300 pessoas de 70 comunidades, foram discutidos temas como desenvolvimento comunitário, a imagem das favelas na mídia e, principalmente, a violência policial.
Desde novembro, Flávio Minervino, presidente da Associação de Moradores do Morro dos Prazeres, acompanha o Movimento Popular de Favelas. A iniciativa vinha sendo pouco divulgada, mas deve ganhar impulso a partir de agora. “A gente está procurando divulgar mais, porque nós fomos percebendo que seria uma maneira de conseguir melhorias nas comunidades. Durante o seminário, várias idéias surgiram. Agora vamos preparar um documento com propostas para as questões que foram debatidas e encaminhá-lo aos governos municipal, estadual e federal”, revela.
O documento fornecerá os argumentos necessários para o debate com as autoridades e com a sociedade civil. O texto final será apresentado e submetido à aprovação no próximo dia 30 de agosto, às 10 horas, em nova reunião, na Portelinha. De acordo com Itamar Silva, coordenador da Agenda Social, do Ibase, e um dos articuladores, a idéia é que uma comissão vá a Brasília para entregar o documento ao governo federal.
“A nossa expectativa é que o Movimento obtenha reconhecimento e se legitime como um espaço autônomo de reflexão crítica, produção de propostas para políticas públicas democráticas e inclusivas que, implementadas nas favelas, visem a acabar com as desigualdades”, planeja Itamar.
O Movimento Popular de Favelas realiza encontros abertos à participação de todos. À coordenação cabe a responsabilidade pela dinâmica desses eventos e pela sistematização das propostas encaminhadas. As comissões vão sendo criadas gradualmente – até o momento, há três: a de redação, a de eventos e a de ética.
No dia 20 de novembro, será organizado um evento especial para celebrar a integração entre favela e asfalto. “Pretendemos reunir os moradores da cidade num ato alegre de afirmação da nossa cidadania”, adianta Itamar.
A sede provisória do Movimento Popular de Favelas fica na Rua Aires de Casal, 100, Cidade Cultural, no Jacarezinho. Em breve estará no ar o site, em www.mpfbr.com.br. Está sendo sendo negociada ainda uma parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) para formar profissionais capazes de lidar com rádios comunitárias, que serão importantes para a divulgação de idéias e propostas. “O tema da comunicação é fundamental. Desde a circulação interna até – e principalmente – o diálogo com a sociedade”, esclarece Itamar.
Engajado na política comunitária desde 1978, Itamar Silva recorda que, naquele tempo, havia mobilização e consciência política no movimento de favelas. “Temos que lembrar que foi o movimento de favelas organizado, apoiado num processo de redemocratização que estava em curso, que derrubou a política de remoção e conquistou a política de urbanização de favelas no início da década de 80. O vazio de conscientização política e a baixa participação nos processos de interesse público não são um 'privilégio' de quem mora na favela. Até pelo contrário, os moradores de favela, talvez de uma forma desarticulada e pontual, tiveram que continuar se juntando, ora para resistir ora para pleitear. A falta de apetite na participação política está disseminada em todos os setores da sociedade. Talvez a evidência da violência e a carga negativa que vem sendo jogada sobre as favelas venham provocando uma reação em cadeia de defesa desse patrimônio construído, literalmente, pedra sobre pedra. Hoje não há para onde ser removido, a cidade dita formal se agigantou para a periferia, que estaria reservada para o deslocamento dessas favelas”.
Itamar enfatiza que o Movimento Popular de Favelas pretende ter um discurso próprio de reivindicação de políticas públicas inclusivas e democráticas, sem fisiologismo e acha que essa iniciativa reflete um amadurecimento das lideranças das favelas. “Se não de todas, de uma parte que deve fazer a diferença”.
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