Organizações sociais, movimentos sociais, sindicais e centenas de entidades da sociedade civil brasileira, lançaram em maio uma campanha em defesa do texto original para o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), publicado em dezembro de 2009. O Plano prevê 25 diretrizes, com diversas ações programáticas.Fruto de debates com ampla participação da sociedade civil, as diretrizes originais do Plano sofreram alterações com o decreto n° 7.177/10, assinado pelo presidente Lula e pelo Ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, e publicado em 13/05/2010.Reunidas no Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH) as organizações estão construindo um fórum para pleitear a revogação do decreto. Para o Movimento, a garantia dos direitos da pessoa humana estabelecida nas diretrizes, agendas e ações programáticas do Plano, fica seriamente comprometida com os ataques de setores conservadores da sociedade, como a igreja, proprietários de grandes meios de comunicação, setores antidemocráticos do exército e latifundiários. Foi justamente para atender a estes grupos que o presidente assinou o decreto, alterando nove pontos do Plano.Além da revogação do decreto, as entidades que integram o MNDH querem a imediata instalação do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3 com ampla participação da sociedade civil, a abertura de processo público e participativo para a elaboração do primeiro Plano Bienal e a aprovação do projeto de lei que cria o novo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) em tramitação no Congresso Nacional.Pontos alterados - Os militares, que demonstraram maior resistência, foram os mais contemplados. Foram amenizadas as referências ao golpe de 64 e a expressão “repressão ditatorial” foi suprimida. Também ficou garantido que não serão alterados nomes de ruas, praças e prédios públicos batizados com nomes de pessoas “que praticaram crimes de lesa-humanidade”. O novo texto diz apenas que, a partir de agora, esses logradouros não devem receber nomes de pessoas que, comprovadamente, atuaram como torturadores. O atendimento aos pedidos das forças armadas inclui também uma mudança nas referências ao período militar no material pedagógico a ser usado nas escolas. As expressões “regime de 1964-1985 e “resistência popular à repressão” foram substituídas por “graves violações de direitos humanos ocorridas no período fixado no artigo 8 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988.Para os ruralistas o ponto mais polêmico, a previsão de realização de uma audiência coletiva envolvendo invasores de terra, fazendeiros e poder judiciário, antes da concessão de liminares de reintegração de posse, foi excluído do texto. A concessão de rádios e canais de televisão condicionada a programações que promovessem, obrigatoriamente, o respeito aos direitos humanos, também foi suprimida pelo decreto assim como a punição para quem veicule ou publique conteúdo que atente contra os direitos humanos. Para atender a igreja católica foi excluído o trecho em defesa da descriminalização do aborto e revogado o artigo que proibia a presença de símbolos religiosos em locais públicos.Manifesto nacional - O manifesto de lançamento da campanha, assinado por aproximadamente 250 entidades, propõe a realização de atividades para ampliação da base de apoio à revogação do decreto, entre as quais que os estados e municípios que já possuem Programa de Direitos Humanos expressem publicamente sua adesão ao PNDH-3 e se comprometam com a atualização e/ou instituição de programas nas respectivas esferas administrativas; criação de comitês que reúnam diversos agentes sociais e públicos na construção de espaços de mobilização da sociedade brasileira; promoção da informação sobre o PNDH-3, da defesa de sua integralidade e da exigência de sua implementação como forma de fazer frente aos ataques conservadores; e capacitação de lideranças sociais e públicas para a defesa do Plano através de processos de educação social e de educação popular, além de debates em instituições educacionais e em diversos espaços e instituições públicas.Diretrizes - O PNDH-3 é fruto das diretrizes aprovadas na 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, realizada em dezembro de 2008, e da sistematização de resoluções de mais de 50 conferências nacionais sobre diversos temas ligados aos direitos humanos (segurança alimentar, saúde, educação, cultura, cidades, meio ambiente, igualdade racial, direitos da mulher, segurança pública, entre outros), com participação direta da população, das organizações sociais e populares, dos gestores públicos das três esferas de governo, dos legislativos e de setores do judiciário, permitindo a pluralidade e diversidade na construção de propostas de políticas públicas.O Plano articula diretrizes, objetivos estratégicos e ações programáticas em seis eixos estratégicos que expressam o conjunto dos direitos humanos, atendendo ao recomendado pela II Conferência Mundial de Direitos Humanos (Viena, 1993): fortalecimento permanente da democracia, desenvolvimento econômico calcado na linha social, educação em direitos humanos, segurança pública e direito à memória e à verdade.Presidenciáveis – As entidades afirmam que procurarão os candidatos à Presidência da República para que se manifestem quanto às ações propostas no Plano. Enquanto as entidades da sociedade civil acreditam que existe espaço para avanços nas negociações com estes grupos, o governo declarou que o recuo era necessário e que com o decreto lei o PNDH tornou-se o documento possível para o momento.Além de procurar os presidenciáveis, as entidades pretendem fazer mobilizações em todo país em favor do PNDH, buscar apoio político de estados e municípios, debater o programa no Congresso Nacional e procurar as Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA). Fonte: Jornal Surgente - Imprensa do Sindipetro-RJ
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