Autor original: Fausto Rêgo
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
São aproximadamente 600 milhões de pessoas deficientes no mundo – 15 milhões delas no Brasil. A humanidade não é, portanto, um modelo de perfeição e homogeneidade. Não é espartana, como argumenta Jorge Márcio Pereira de Andrade, presidente do DefNet, em um editorial indignado exibido no site da entidade. O artigo é uma resposta à entrevista de Peter Singer, professor de Bioética da Universidade de Princenton, EUA, publicada no jornal Folha de São Paulo em 22 de julho. Singer defende que os pais deveriam ser autorizados a permitir a morte de bebês com graves deficiências.
Descendente de avós judeus que foram mortos pelos nazistas na Áustria, o cientista diz que “nem toda vida humana é sagrada”. Jorge Andrade, que tem dois filhos com paralisia cerebral, reage: “Será que deveria ter tido a mesma visão eugênica e utilitarista do Professor Singer? Ainda somos tão profundamente segregadores que escolhemos quais cidadãos são mais ‘iguais’ que outros?”.
A jornalista Cláudia Werneck pretende que se discuta amplamente a proposta de uma sociedade inclusiva – a começar pelas escolas. Segundo ela, uma escola onde não haja qualquer portador de deficiência oferece aos alunos uma visão de mundo equivocada. Não se trata de “aceitar o deficiente”, tratá-lo como “bonzinho” ou imaginar que “todos são sensíveis e gostam de música”. Para ela, essas são idéias preconcebidas, preconceituosas, que as pessoas repetem às vezes sem intenção e sem perceber, mas que em nada ajudam. Criar escolas especiais para portadores de deficiência também não é solução.
“A pretexto de ser uma fórmula justa, acaba sendo uma forma de isolamento, de segregação. Parece um avanço, mas vira acomodação. Vamos criar subconjuntos de pessoas mal-preparadas para a vida. A questão é: o que vamos fazer para mudar esse paradigma?”, indaga. Ela insiste em que a idéia não é melhorar a sociedade apenas para o deficiente, e sim para todos. “Adaptar um banheiro às necessidades de uma pessoa deficiente é dar mais conforto para uma pessoa gorda ou baixa, é melhor para todo mundo”, diz.
Cláudia reconhece que aceitar pessoas com deficiência nas escolas é uma tarefa difícil, mas acredita que ela deve ser encarada como uma oportunidade de crescimento para alunos, pais e professores.
Marcelo Vitoriano, da Avape, concorda: somente com a inclusão dos portadores de deficiência nas escolas é que os colegas aprenderão a conviver com eles. Antes disso, porém, será preciso formar professores e educadores. “É preciso capacitar essas pessoas que vão lidar com os portadores de necessidades especiais”.
Embora se notem pequenos avanços, ainda está longe de uma transformação efetiva a realidade das pessoas com necessidades especiais. É verdade que hoje, como lembra Marta Gil, da rede Saci, os portadores de deficiência estão “perdendo a vergonha e falando por eles mesmos”. A grande mudança, porém, precisa começar com a própria sociedade. Enfrentar uma cultura de exclusão é o duro desafio que se apresenta. “A sociedade nunca está pronta para a mudança. Ela depende dos atores sociais, que são os seres humanos. E os seres humanos precisam ser estimulados ao desejo de mudança social. Não depende de um grupo, um estado ou uma entidade. É um conjunto de forças, depende de todos nós”, diz Jorge Andrade, que conclui: “O sonho, o desejo de mudança é o que nos estimula. É a vontade de que todos sejam diferentes, mas não desiguais”.
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