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Arte para superar a dor

Autor original: Daniela Muzi

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Levar as artes plásticas para os hospitais e colorir a realidade dos pacientes que estão internados. Superar os momentos angustiantes e dolorosos que eles passam durante o tratamento clínico, transformando-os em oportunidades de ampliar o conhecimento, promover a percepção dos potenciais talentos expressivo, criativo e artístico de cada paciente. Esta é a proposta do Projeto Carmim, um programa que atua com crianças, adultos e idosos hospitalizados e possibilita o contato semanal dos pacientes com pintura, desenho, modelagem em argila, colagem, aquarela, técnica mista (mistura de várias técnicas artísticas) e História da Arte.


O projeto surgiu em abril de 1996, cinco anos depois de uma experiência de hospitalização vivenciada pelo artista plástico Eduardo Cômodo Valarelli - criador do projeto. Foram os 25 dias internado num hospital que o fizeram pensar na função social do artista plástico. Depois do período de internação, Eduardo começou a pensar como ele poderia melhorar o estado de espírito das pessoas que estão internadas. "Depois deste período eu pude perceber a falta que faz um atendimento mais humanizado nos hospitais, e pensei em como eu poderia mudar o triste quadro dos quartos de hospitais onde encontramos pacientes tristes olhando para um ponto fixo na parede", lembra Eduardo.


Se antes os pacientes olhavam fixamente as paredes brancas e verdes do hospital, agora podem observar o carmim, o amarelo, o azul, o verde, todas as cores da aquarela nos quadros que eles mesmos pintam. Uma ou duas vezes por semana, dependendo do acordo firmado com o hospital com que estabeleçam a parceria, a equipe do Carmim visita os pacientes durante cerca de duas horas e meia a três horas. Segundo o fundador do projeto, 90% dos pacientes atendidos nunca tiveram contato com artes. "O papel do artista e do arte-educador não é apenas ocupar o paciente durante algumas horas e sim promover o crescimento do paciente nos aspectos criativos, estimulando-o a produzir, refletir sobre seu trabalho, conhecer novos meios e materiais, desenvolver e concretizar sua idéia e dessa forma, resgatar a dignidade e auto-estima dos pacientes", explica o artista plástico.


Assim que os médicos e enfermeiros com bandejas de seringas e remédios saem dos quartos, entram em ação os artistas do Carmim - com uma bandeja de aquarela. Eduardo conta que no início os pacientes estranham um pouco, mas com o tempo liberam o artista que vive dentro deles. "Eles começam com o desenho da casinha, de patinhos e depois se espantam com as belas obras que produzem. As respostas dos pacientes são vigorosas, eles usam cores vibrantes. Alguns deles possuem grande potencial artístico. Chegam até a pintar releituras de Van Gogh!", conta com satisfação Eduardo - que teve que bater na porta do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (SP) para implantar em caráter experimental o Projeto Carmim. Aos poucos, a iniciativa foi comovendo as pessoas e, depois de um ano de existência, o projeto ganhou os seus primeiros aliados. O que era para durar três meses, já acontece há cinco anos e meio.


Atualmente, são 31 voluntários, dos quais 21 ajudam na parte estrutural do projeto. Os outros dez são artistas plásticos e arte-educadores que atuam diretamente nos seis hospitais parceiros do projeto, ensinando e orientando os "novos" artistas em suas pinturas. "A gente começa com muita paciência até o paciente se sentir à vontade. Tem dias que eles não estão bem, devido ao tratamento clínico - e nós respeitamos isso. Quando eles começam a pintar, corrigimos apenas as técnicas de pintura. Quando eles começam a ver o resultados, percebem que podem ser úteis", orgulha-se Eduardo. O Carmim, durante os seus cinco anos e meio de atuação, já atendeu aproximadamente dez mil pessoas. Ao todo são cinco mil trabalhos produzidos pela criatividade dos pacientes. Desta produção, 500 quadros foram doados ao projeto Carmim e compõem o acervo da instituição.


Com resultados tão positivos, o Carmim acaba se tornando um terapia para as pessoas que convivem com a dor, a ociosidade e a sensação de inutilidade. Esta situação - como o próprio Eduardo vivenciou - pode ser um "ambiente fértil para o crescimento artístico". Dessa forma, ele explica que o Carmim acaba contribuindo para a melhora física do paciente: "o paciente que participa do Carmim acaba ficando mais receptivo aos médicos e enfermeiros. O paciente fica ali pintando, toma o remédio e nem percebe".


A iniciativa que começou bandeirante, já possui cinco hospitais na fila de espera, o que significa que o programa vai precisar de mais voluntários. Os interessados em participar do projeto podem encontrar todas as informações necessárias no site da instituição. Mas há outras formas de participar. Como o Carmim ainda não conta com um patrocinador, o projeto vive de sócio-matenedores. Estas pessoas físicas ou jurídicas podem ajudar o projeto doando quantias em dinheiro ou doando materiais artísticos. Os doadores recebem a isenção no Imposto de Renda, pois o Projeto Carmim é beneficiado pela Lei n.º 8.313 de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). O procedimento para associação também está disponível no site. O correio eletrônico do Projeto Carmim é p.carmim@zaz.com.br e o telefax é (11) 285-6601.

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