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Um "outro mundo possível" e cada vez mais necessário

Autor original: Daniela Muzi

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

No dia em que estava sendo lançada oficialmente a segunda edição do Fórum Social Mundial, na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, os Estados Unidos sofriam os ataques terroristas contra o World Trade Center e o Pentágono. Um contraponto contundente que gerou reações e uma justificada insegurança quanto aos caminhos que serão traçados até a realização do evento, no início do ano que vem.


Segundo o sociólogo Cândido Grzybowski, diretor do Ibase e membro do Comitê de Organização Nacional e do Conselho Internacional do Fórum, os compromissos da agenda preparatória do evento continuarão a ser cumpridos, “mas, devido à atual conjuntura, é muito cedo para prever o que vai acontecer até o Fórum Social Mundial, tudo está ainda muito incerto”, alerta.


Durante o lançamento, os representantes do Comitê de Organização e do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial manifestaram-se publicamente diante dos trágicos acontecimentos ocorridos nos Estados Unidos. Os representantes condenaram os atentados e o sacrifício inaceitável de vidas humanas e prestaram total solidariedade ao povo americano.


Cândido acredita que a recente tragédia vai influir muito na realização do FSM 2002. Para ele, as divergências econômicas são muito mais problemáticas do que as divergências étnicas, religiosas e culturais. “O fundamentalismo mercantil isolacionista é a força principal que gera os demais conflitos, a religião se torna um instrumento para potencializar esta força. O problema só será sanado quando houver a descentralização do poder dos Estados Unidos. Algo está muito errado no mundo”, desabafa o sociólogo.


A estrutura do evento


O Fórum será dividido em 24 temas (no ano passado foram 16) de relevância mundial, com a participação de atores sociais em movimento. Para cada tema haverá um “puxador” - que pode ser uma rede ou um conjunto de redes, mais dois debatedores. Essas mesas de discussão deverão produzir propostas de duas páginas sobre o tema debatido. “A nossa intenção," explica Cândido, "é analisar as propostas divergentes e somá-las, usando a pluralidade de forma positiva. E, assim, dar um caráter mais propositivo ao encontro".


Há toda uma preocupação em escolher representantes de redes, organizações e movimentos internacionais, para não “abrasileirar” demais o encontro, como explicou Cândido Grzybowski: “Por ser sediado no Brasil, é inevitável que a maioria dos participantes do Fórum sejam brasileiros. Por isso, queremos internacionalizar ao máximo o encontro. A maioria do puxadores serão estrangeiros.”


Consolidar cada vez mais o Fórum Social Mundial como um evento plural e diversificado é uma prioridade. Com a instauração do Conselho Internacional, uma espécie de "caixa de ressonância", como denominou Cândido, a tendência é cada vez mais as organizações internacionais atuarem na preparação e na formatação do encontro. A idéia é que o Fórum de 2003 seja realizado fora do Brasil, provavelmente no continente asiático.


Grandes desafios


Se no primeiro Fórum o objetivo era criar uma agenda que garantisse uma adesão mundial e fosse capaz de ser uma alternativa à hegemonia do neoliberalismo, o desafio da segunda edição será muito maior. Para Cândido, a responsabilidade será proporcionar a orquestração das propostas e idéias e tornar essa diversidade operativa, e não anárquica. Segundo ele, "muitas propostas estão sendo feitas entre as redes que participam do Fórum, mas é preciso evidenciá-las e criar uma estrutura básica propositiva.”


Apesar de episódios como o relativo fracasso da III Conferência Mundial contra o Racismo e o ataque terrorista aos EUA, o membro do Comitê de Organização Nacional acredita que ainda é possível discutir uma cidadania global. “É preciso organizar toda a energia pluralista, através de temas de interesse comum.” Com relação ao atentado nos EUA, Cândido - que definiu o Fórum Social Mundial como a Universidade Aberta da Cidadania Mundial - acredita que o evento "pode ser uma luz para tentar resolver os conflitos" .

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