Autor original: Felipe Frisch
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
Meninos em situação de risco ainda têm muito a aprender, certo? Verdade, mas se levarmos em conta o exemplo de um grupo de 120 jovens entre 14 e 17 anos de Juazeiro do Norte (CE), eles também têm muito a ensinar. 20 deles já estão dando lições de “ecocidadania” à população local. Dos 120 garotos, cerca de 25 também fazem parte do Projeto Integrado de Liberdade Assistida da ONG Juriti, ou seja: são menores infratores que foram encaminhados pelo juizado de menores à organização, que é responsável pelos dois projetos – de Liberdade Assistida e de Ecocidadania. Na Juriti, os meninos são preparados para ensinar à população como separar seu lixo, possibilitando no futuro o reaproveitamento e a reciclagem.
Para isso, eles recebem uma capacitação constante, que acontece duas vezes por semana com aulas teóricas e aulas de informática, na sede da ONG e no Pólo de Atendimento João Cabral, na cidade. O objetivo, segundo a Secretária Executiva da Juriti, Cristina Diôgo, é recuperar não apenas o lixo, mas também os jovens, que – em diversos projetos propostos por outras entidades – ficam limitados ao aprendizado de profissões que são tradicionalmente mal remuneradas. Esse foi o diferencial que fez o projeto de liberdade assistida ser escolhido e abraçado pela Unicef entre os que se candidataram ao patrocínio oferecido para esse ano.
A iniciativa é nova, mas a organização está envolvida em frentes de defesa do meio ambiente e cidadania desde 1988, no município que abriga a estátua do Padre Cícero. “O impacto ambiental é muito grande em função das romarias, que acontecem em fevereiro, setembro e novembro, quando a cidade (que já é superpovoada com 210 mil habitantes em 317km2) atrai 1,5 milhão de pessoas para a Coluna do Horto, local onde se localiza a imagem de Pe. Cícero”, relata Cristina.
A grande experiência dos Agentes de Ecocidadania aconteceu na última Expocrato, a exposição agropecuária da cidade do Crato, que recebeu cerca de 300 mil pessoas durante oito dias, numa área reservada de 15 hectares. Ali, 11 agentes abordaram as pessoas pelas ruas orientando-as sobre como contribuir para a campanha Me Dê Seu Lixo, que hoje funciona no bairro de João Cabral, onde vivem aproximadamente 30 mil pessoas.
Uma barreira que a Juriti tenta vencer, além do preconceito que a sociedade tem em relação aos jovens, é a da elitização do discurso ecológico. “Por que só menino rico pode ouvir falar de meio ambiente?”, ela se pergunta. Na Juriti, já foram treinados cerca de 220 adolescentes, entre jovens infratores, seus amigos e ainda alunos de cinco escolas estaduais com as quais a ONG mantém convênio: nas cidades de Juazeiro, Barbalha, Caririaçu, Granjeiro e Farias Brito.
Cristina exibe com orgulho os resultados que ela atribui à atividade da Juriti. Segundo dados do Juizado de Menores de Juazeiro, de janeiro a agosto de 2000 foram registrados casos de 360 adolescentes envolvidos em infrações, o que chegou a rotular a cidade como a de maior número de meninos infratores do estado. Do começo deste ano até julho, foram 138 jovens. Ela lembra que uma boa razão para se orgulhar é que o projeto não atende apenas os que já cometeram a infração, mas os que vivem em situação de risco como eles, muitos deles vizinhos e amigos, que pedem para participar do projeto.
Fazem parte dos planos da organização oferecer, até o final do ano, uma bolsa de meio salário mínimo para os agentes - que vão participar de oficinas de material artesanal a partir de material reaproveitado, além de estarem presentes em eventos culturais da região, ensinando e apresentando seu teatro educativo. Para receberem o benefício, os jovens têm que se comprometer a voltar para a escola. Segundo Cristina, a Secretária da Ouvidoria Geral e Meio Ambiente, Fabíola Alencar, já se comprometeu a financiar a iniciativa.
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