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Um mundo sem guerras é possível

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

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No verão de 2002 os participantes do II Fórum Social Mundial terão acesso a uma discussão que não esteve na pauta da primeira edição do evento mas que, infelizmente, não poderá faltar no segundo: o seminário internacional "Um mundo sem guerras é possível". A iniciativa pretende reunir movimentos e personalidades que lutam pela paz em regiões de conflitos como Oriente Médio, Colômbia, Coréias do Norte e do Sul, Caxemira, País Basco, entre outros. Simultaneamente às discussões dos quatro eixos do Fórum - Produção de Riquezas e a Reprodução Social; O Acesso às Riquezas e a Sustentabilidade; A Afirmação da Sociedade Civil e dos Espaços Públicos; Poder Político e Ética na Nova Sociedade - , no seminário serão apresentadas soluções políticas para a resolução pacífica das disputas. Também está na pauta o debate sobre propostas para combater alguns dos fatores que mais alimentam os conflitos -- entre eles, a produção maciça de armamentos, concontrada nos países ricos, e a tolerância em relação aos paraísos fiscais.

Conversamos com Maria Luísa Mendonça, membro do Comitê de Organização do Fórum e diretora do Centro de Justiça Global para saber como as organizações da sociedade civil e os movimentos sociais estão se posicionando diante do cenário que se desenha desde o atentado de 11 de setembro e quais são as suas expectativas para o próximo FSM, neste contexto.

Rets - Como a "guerra contra o terrorismo" empreendida pelos Estados Unidos a partir do ataque de 11 de setembro afeta os movimentos sociais e organizações da sociedade civil?

Maria Luísa Mendonça -  A reação do governo norte-americano, baseada em um conceito de vingança e não no direito internacional, é muito perigosa, pois pode gerar um ciclo de violência contra civis, tanto no Oeriente Médio quanto nos Estados Unidos. Os trágicos atentados em Nova York e Washington devem ser duramente condenados e os culpados devem ser punidos de acordo com a lei. O que não se pode justificar são medidas que violam os direitos civis, como o pacote apresentado pelo presidente Bush ao Congresso, que admite confissões sob tortura, permite a prisão de imigrantes sem mandado judicial e libera a interceptação de e-mails e telefones.

Rets - O presidente do GIFE, Marcos Kisil, alerta para a possibilidade de uma crise de financiamentos, alegando que a crise econômica mundial deverá levar os países a voltarem a atenção para si mesmos até que consigam se reorganizar. Como as organizações do terceiro setor poderão superar essa dificuldade e obter recursos para os seus projetos?

Maria Luísa Mendonça - As ONGs e movimentos sociais têm hoje um grande desafio, que é a luta pela paz. Essa deve ser também uma prioridade para algumas agências financiadoras. Mas isso não quer dizer que as organizações da sociedade civil devam deixar de realizar outros tipos de projetos, em defesa de questões como, por exemplo, a luta contra o racismo, a xenofobia, as desigualdades econômicas e sociais.

Rets - Algumas das possibilidades que se apresentam diante do atual cenário político mundial são uma maior limitação às liberdades individuais, controle sobre os meios de comunicação e a Internet e a adoção de medidas de segurança que podem cercear as práticas democráticas em nome da luta contra o terrorismo. Na sua opinião, como a sociedade civil organizada deve se posicionar diante destas possibilidades?

Maria Luísa Mendonça - As violações aos direitos civis e a restrição aos espaços democráticos é inaceitável. Os movimentos sociais e as organizações de direitos humanos nos EUA já estão se organizando contra os projetos de lei apresentados por Bush e, com o passar do tempo, esses movimentos devem ganhar força. O momento agora é delicado porque a sociedade norte-americana está muito chocada, mas acredito que a oposição a essas medidas tende a aumentar.

Rets - As reações iniciais aos atentados apontam para um recrudescimento das tensões raciais e religiosas, fomentando uma situação que já era particularmente delicada em todo o mundo - e que gerou debates duros na recente Conferência Mundial contra o Racismo. Qual será a responsabilidade da sociedade organizada para conter a escalada da intolerância?

Maria Luísa Mendonça - Os atentados ofuscaram algumas questões importantes discutidas em Durban. Um desafio agora para os movimentos contra o racismo é manter a visibilidade de suas reivindicações e de suas propostas. Hoje, questões como o racismo e a xenofobia são cada vez mais importantes e deveriam permanecer em destaque na pauta internacional.

Rets - Como você vê a atuação dos movimentos e organizações que trabalham pela paz após o atentado de 11 de setembro? As ONGs foram ágeis ao se articularem para reagir à possibilidade de uma retaliação norte-americana?

Maria Luísa Mendonça - Creio que sim. Muitos atos pela paz têm sido organizados em todo o mundo, inclusive nos Estados Unidos. O problema é que raramente existe espaço para esse tipo de manifestação na mídia norte-americana. Mas, se procurarmos na internet ou na chamada mídia "alternativa", vamos encontrar declarações contra a guerra de muitas ONGs, movimentos sociais, organizações religiosas, feministas, de direitos humanos, entre outras.

Rets - Diante da crise política mundial que se apresenta, o Fórum Social Mundial toma uma nova dimensão? Como membro do Comitê Organizador, qual é a sua expectativa para o evento, no novo contexto de discussões surgido após o atentado aos EUA?

Maria Luísa Mendonça - A defesa da paz será um ponto central nas discussões do Fórum Social Mundial. Esperamos que esse evento articule movimentos pacifistas de todo o mundo. Ao mesmo tempo, é preciso manter outras questões em pauta, que também determinam a vida e a morte de milhões de pessoas, como a pobreza, a desigualdade, a destruição ambiental, a dívida externa, etc.

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