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Paraíso preservado

Autor original: Daniela Muzi

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor








No encontro dos rios Solimões, Japurá e Auati-Paraná, próximo à cidade de Tefé, no Amazonas, se localiza a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Um paraíso ecológico que abriga mais de 400 espécies de aves, mais de 300 espécies de peixes e cerca de 45 espécies de mamíferos distribuídos em 1.124 hectares – quase a metade do estado de Sergipe. Um região de várzea (florestas alagadas por rios), Mamirauá também possui algumas das espécies mais importantes das madeiras tropicais. Diante de tanta riqueza, "era absolutamente necessário preservar esta região", justifica José Márcio Ayres, coordenador geral do Projeto Mamirauá - que atua na preservação da região.


Tudo teve início em 1983, quando José Márcio propôs ao governo do Amazonas a implementação da Reserva de Mamirauá. Ele, que vinha trabalhando na Amazônia desde 1977, percebeu a importância da preservação da área que possui várias espécies endêmicas, algumas inclusive ameaçadas de extinção. Em 1990, foi criada a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, e junto com ela, o Projeto Mamirauá, administrado pela ONG Sociedade Civil Mamirauá. O projeto recebe ajuda de 27 instituições, entre elas o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Comissão Européia (CE) e World Conservation Society (WCS). Devido a e este apoio multilateral a defesa do bioma de Mamirauá foi possível.


O projeto é formado por cerca de 20 pesquisadores que atuam nas áreas de meio ambiente, ciências sociais e de manejo dos recursos naturais; aproximadamente 20 extensionistas que atuam nos setores de saúde e nutrição, educação ambiental, extensão rural e desenvolvimento comunitário e mais 50 funcionários diretamente envolvidos com o projeto. Os pesquisadores se encarregam de realizar um levantamento da fauna e flora de Mamirauá, aprofundando-se nos recursos naturais utilizados pela população ribeirinha – peixes, mamíferos, répteis e árvores madeireiras – e no subsídio ao uso sustentado desses recursos pela população local.

Fiscais da natureza


Não são apenas os recursos naturais que são visados pelo projeto: a comunidade de Mamirauá também é. José Márcio explica que os moradores da região também fazem parte do bioma e que não adiantaria preservar se a população não participasse do processo. "Os moradores atuam como fiscais voluntários; participam da tomada de decisões do manejo, estão a par das novas atividades da região. São na verdade verdadeiros fiscais da natureza", elogia José Márcio.O envolvimento com a questão da preservação é tão forte que os próprios moradores conseguiram expulsar da região todos os grandes pescadores, contou José Márcio. Quando a população não consegue afastar os "exploradores", na "base da conversa" o Ibama entra em ação e endossa a iniciativa dos moradores.


Toda essa dedicação tem trazido bons resultados. O coordenador do projeto diz que mesmo sendo uma área de grande diversidade de fauna e flora, há poucos casos de traficantes de animais, pesca ilegal e exploradores de madeira. "Por haver uma participação tão ativa da comunidade local, ações desse tipo tem pouco espaço em Mamirauá", comemora José Márcio.


Bons resultados


Durante os seus 11 anos de exisxtência o Projeto Mamirauá fez grandes conquistas. Já foram realizadas mais de 50 pesquisas no local. O número árvores exploradas caiu de oito mil para mil por ano. A pesca ilegal na região foi extinta.


Espécies até então ameaçadas, conseguiram diminuir o risco de extinção, como por exemplo o jacaré-açu, que teve um aumento de 580% na sua espécie. O peixe Pirarucu, espécie típica da Amazônia, aumentou em 10 vezes o seu número na região.


Além disso, para a população de Mamirauá há outras conquistas. O projeto tem sido responsável pela melhoria da qualidade de vida dos ribeirinhos. "Se não fosse o projeto, programas governamentais não chegariam até Mamirauá. Programas de saúde e de energia estão chegando lá agora e estão melhorando as condições das comunidades. Devido ao projeto, o governo passou a olhar mais para a região", finaliza José Márcio.


Como ajudar


Mesmo de longe é possível ajudar Mamirauá. No site do projeto os interessados podem fazer doações ou levar para casa um macaco ucari-branco, um peixe-boi ou um pedacinho da mata. Mas não precisa se preocupar: isso não irá prejudicar nem um pouco o ecossistema de Mamirauá. São bichinhos de pelúcia, chaveiros, camisas e cartões postais sobre a sua fauna e flora. Tudo ecologicamente correto para lembrar que o lugar dos animais e dos espécimes vegetais é em seu próprio habitat.


A renda arrecadada pelas doações e pela venda dos artigos é encaminhada para uma caderneta de poupança e ajuda os moradores voluntários que fiscalizam a reserva.

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