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Estado de alerta

Autor original: Fausto Rêgo

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

Um projeto de autoria do então senador Itamar Franco propondo normas para a estocagem de resíduos nucleares tramita há mais de onze anos no Congresso Nacional. Sem regulamentação, o lixo atômico é estocado provisoriamente em tambores dentro da própria usina. Angra 1 gera 17 toneladas de rejeitos por ano. Em Angra 2, a quantidade é ainda maior: 35 toneladas por ano. Elementos químicos como o plutônio utilizado nas usinas levam cerca de 24 mil anos para terem sua radioatividade reduzida à metade.


O projeto de lei nº 294, de 1989, que “dispõe sobre a seleção de locais, a construção, o licenciamento, a operação, a fiscalização, os custos, a remuneração, a responsabilidade civil, as garantias dos depósitos de rejeitos radioativos”, estabelece – entre outras providências – que os municípios que concordarem em abrigar depósitos de resíduos nucleares recebam compensações financeiras. No momento, o projeto – já aprovado pela Câmara dos Deputados – está na Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal. Para o professor Luiz Pinguelli Rosa, vice-diretor da Coppe (Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e especialista em energia nuclear, essa situação é “um desmazelo”. Embora exima a Eletronuclear de culpa, Pinguelli lamenta que os resíduos se acumulem sem um destino certo. A empresa, porém, garante que o lixo atômico é acondicionado em total segurança.


As falhas ocorridas em Angra 1 nos últimos meses não surpreendem o professor. No ano passado, Pinguelli criou polêmica ao apontar uma série de problemas na usina. “Venho acompanhando há muito tempo. Foi um projeto errado. Em 1999, o reator parou várias vezes por questões de segurança. Por causa disso, eu entrei em conflito com o ministro, mas depois verificou-se que eu tinha razão”, afirma. “Acho que há muitas coisas a serem corrigidas”, alerta, “e é preciso parar para consertá-las”.


Em relação a Angra 2, o professor diz que as fundações eram inadequadas, mas acredita que o problema já tenha sido resolvido. O custo da usina, no entanto, acabou ficando muito alto. Agora, diante da perspectiva de criação de Angra 3, Pinguelli vê novos elementos para a discussão, muito além do simples “passivo ambiental” legado pelos projetos anteriores: a ameaça terrorista em todo o mundo, que provoca temores até então incomuns. Se aviões foram atirados contra as torres do World Trade Center, em Nova York, por que não pensar no que poderia acontecer com Angra?


“Angra 2 não suporta um choque desse tipo, eu fiz os cálculos. Angra 1 talvez resista. Quanto a Angra 3, isso tem que ser debatido amplamente, com a participação da sociedade. É preciso discutir, por exemplo, se deve ser feito um reforço na estrutura do reator”, sugere.


Na hipótese de um acidente mais sério, o panorama não é dos mais animadores. O Plano de Emergência é muito deficiente. “Na verdade, o plano interno, para os funcionários, é bom. Mas o externo é péssimo”, analisa. Pinguelli lembra que as Forças Armadas desistiram de participar por não receberem os recursos necessários para a compra de equipamentos e roupas especiais. Resultado: a evacuação da cidade em caso de acidentes ficou entregue à Defesa Civil e ao Corpo de Bombeiros. O esquema montado prevê que a população de Angra dos Reis deixe o município em vários ônibus pela única via existente: a sinuosa BR-101.


Na última simulação realizada, a sirene de alerta falhou.

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