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Rios que trazem saúde

Autor original: Marcelo Medeiros

Seção original: Novidades do Terceiro Setor







A saúde não pode ir por água abaixo: isso é consenso. Ou será que pode? Para a população ribeirinha do Amazonas, do Rio Negro e do Solimões, a resposta é positiva. A organização não-governamental Visão Mundial acaba de inaugurar o segundo barco-hospital da região, o Manfred Grellert, para atender as comunidades que vivem nas margens dos principais rios do Amazonas e à margem do sistema público de saúde. Organização cristã fundada em 1950 pelo jornalista Bob Pierce, a Visão Mundial chegou ao Brasil em 1975 e tem atuado nas áreas de saúde preventiva, nutrição, educação infantil e acompanhamento escolar em diversas regiões – e, naturalmente, nesse projeto inovador.




Duas vezes por mês, as embarcações saem de Manaus e navegam rio abaixo para atingir áreas cujo acesso por terra é muito difícil ou até mesmo impossível. Cada barco tem capacidade para atender a uma média de 500 pessoas por mês, mas, por enquanto, o Grellert só atende 250. O primeiro barco-hospital surgiu em 1991, fruto de uma idéia anterior. Caio Fábio, morador de uma comunidade ribeirinha do Amazonas, ao vir para a capital, começou a sonhar com um projeto que pudesse levar à sua região o mesmo atendimento médico recebido por ele em Manaus. A necessidade, portanto, foi o motor da iniciativa, pois o local onde morava era inalcançável por terra. Assim, Caio começou a procurar parceiros que pudessem levar sua idéia adiante. Em 1991, a Visão Mundial se interessou pelo projeto e financiou a construção do barco-hospital, como ficou conhecida a primeira embarcação. Dez anos depois, era inaugurado o segundo, em convênio com a Igreja Presbiteriana.




Dos 12 tripulantes de cada barco, cinco são profissionais de saúde - entre médicos, dentistas, enfermeiros e laboratoristas voluntários, que procuraram a Visão Mundial interessados em participar do projeto. No total, cerca de 15 médicos se revezam nas viagens pelos rios – algumas vezes feitas em botes, quando as grandes embarcações não podem avançar, devido à profundidade. Em viagens de quatro a oito dias, realizadas duas vezes por mês, atendem 21 comunidades, chegando até mesmo a passar a noite na casa dos pacientes. A vantagem do novo barco é a diminuição dos intervalos de visita dos profissionais às comunidades carentes.




O custo do projeto é de R$ 15 mil por mês, gastos em medicamentos, combustível, ancoragem e manutenção das máquinas e do pessoal. Tudo é viabilizado pela Visão Mundial. Só em remédios, são gastos R$ 1.500 no mesmo período. No entanto alguns laboratórios farmacêuticos doam parte de sua produção para o projeto.




Hoje em dia, segundo a coordenadora da iniciativa em Manaus, Sueli Almeida, "quando a população vê o barco chegando, já sabe que terá atenção e atendimento de bons médicos". Os resultados dos exames feitos em laboratório, que só eram entregues na visita seguinte, agora ficam prontos na hora, facilitando a medicação dos doentes. Os casos mais comuns dos ribeirinhos são a malária, problemas de pele, ginecológicos e pediátricos.




"A intenção é fazer com que o trabalho se torne mais preventivo do que curativo", diz Sueli. Isso diminuiria os custos e aumentaria mais a abrangência, pois agentes de saúde estão sendo formados nas localidades. Entretanto, ainda não há meios de os profissionais permanecerem por mais tempo nas localidades e faltam voluntários.




Outros projetos



Na mesma região, outros projetos utilizando barcos estão sendo estudados. Mais duas embarcações, maiores do que as atuais, já estão em construção e devem virar hospitais, além de levarem outras ações às comunidades - como trabalhos educativos, que serão aplicados segundo as características das comunidades. A expectativa da coordenadora de Comunicação da Visão Mundial, Ana Paula Guerra, é de que até o fim deste ano – ou, no máximo, em meados de 2002 – novos projetos estejam definidos.




"A idéia é utilizar e potencializar a cultura da região, fazer algo como Paulo Freire idealizou para a educação", afirma Guerra. Uma das propostas é mostrar como utilizar melhor os restos de comida – como a casca de batata, altamente nutritiva, mas desperdiçada. Outra, é promover a reciclagem nessas áreas, fazendo inclusive um trabalho de conscientização ecológica com as famílias, atividade já realizada com o barco-hospital, que taz ótimos resultados.

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