Autor original: Fausto Rêgo
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
Se a dificuldade dos grupos de ajuda humanitária já é grande, o acesso à informação é ainda mais prejudicado. Saber exatamente o que se passa no Afeganistão é quase impossível. As informações que chegam vindas dos dois lados da guerra são, em geral, contraditórias ou pouco esclarecedoras. A organização Repórteres sem Fronteiras tem uma atuação forte todo o mundo, denunciando abusos cometidos contra profissionais da imprensa, e acompanha de perto o que está acontecendo na cobertura do conflito. No momento, um jornalista francês, Michel Peyrard, permanece detido pelos talibãs, acusado de espionagem. Ele foi capturado quando entrava em território afegão, disfarçado de mulher. Régis Bourgeat, do escritório de Repórteres Sem Fronteiras para as Américas, informa que a entidade enviou uma delegação à cidade de Islamabad, no Paquistão para interceder pela sua libertação. Outros dois jornalistas – um inglês e outro francês – também chegaram a ser presos, mas já foram liberados.
As televisões são impedidas de entrar no Afeganistão, por questões religiosas. “A leitura que eles fazem do Alcorão proíbe qualquer imagem”, diz Bourgeat, “por isso eles tradicionalmente restringem a atividade dos cinegrafistas”. A exceção fica por conta da Al-Jazeera, uma emissora sediada no Catar e dedicada exclusivamente à transmissão de notícias. Assim como a CNN fazia em Bagdá, durante a Guerra do Golfo, a Al-Jazeera monopoliza as transmissões no Afeganistão. Com o início da guerra, é praticamente impossível para um jornalista conseguir permissão para entrar no país.
Mas o controle da informação não parte exclusivamente dos talibãs. A chamada Aliança do Norte, o grupo de oposição local, vigia cuidadosamente a fronteira com o Paquistão e costuma evitar a entrada de repórteres paquistaneses. De outro lado, o governo norte-americano também faz a sua parte para garantir que nenhuma notícia que lhe seja desfavorável venha a ser divulgada. “A censura tem sido praticada tanto pelos talibãs quanto pelos Estados Unidos e seus aliados”, afirma Bourgeat. “O Pentágono, por exemplo, tem comprado todas as imagens tiradas pelo satélite civil Ikonos, de modo a evitar a possibilidade de a imprensa checar as informações oficiais”.
Enquanto isso, longe do front, o foco sobre os veículos de comunicação continua: o governo norte-americano já reuniu-se com representantes das emissoras de televisão do país para solicitar que não divulguem discursos gravados pelo terrorista Osama Bin Laden ou por seus representantes. A justificativa é de que poderiam conter mensagens cifradas para outros terroristas. Mais tarde, a reunião foi com produtores de cinema de Hollywood. O pedido: que se façam filmes com apelo patriótico. Os jogos de guerra, como se vê, não se limitam aos campos de batalha.
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