Autor original: Felipe Frisch
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Médicos podem ajudar crianças a receberem escolaridade, e sindicatos também servem para atuar além do umbigo de seus interesses corporativos. Esse é o espírito do voluntariado e essas são as palavras de ordem no Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), que lançou, no último dia 26, a campanha Médico Cidadão, que está pedindo à classe doações – financeiras, para fornecer bolsa-escola para pelo menos 100 crianças no próximo ano, e humanas, para atender voluntariamente essas crianças, por enquanto apenas no município de Santo André.
O projeto segue o ritmo do Ano Internacional do Voluntariado, mas a idéia nasceu de uma lamentável constatação do Simesp: 48,8% de seus médicos já sofreram algum tipo de violência em seu local de trabalho. A partir dessa queixa, os dirigentes pararam para pensar no que poderiam fazer para diminuir as diferenças sociais, que, para eles, são fatores imediatos da agressão – física ou mesmo verbal.
"Nós tínhamos duas saídas: bater nas portas das Secretarias de Saúde e de Segurança Pública ou ajudar a combater as causas. Os governos sozinhos não vão conseguir resolver essa questão, seja ela de 40 ou de 55 milhões de excluídos", analisa o presidente do sindicato, José Erivalder Guimarães, para quem o simples fato de serem dezenas de milhões de pessoas em situação de “pobreza absoluta” já desmerece qualquer discussão sobre as formas como esse número é contabilizado.
Para patrocinar uma bolsa, o valor solicitado é de R$ 116,50 mensais, dos quais R$ 70 irão líquidos para cada família cadastrada. A “mensalidade” não é obrigatoriamente individual, ou seja, poderá ser dividida por um grupo de médicos, e será bem-vinda de qualquer parte do país. Os primeiros beneficiados serão os jovens atendidos pelo Centro Comunitário Dom Jorge, de Santo André, que já recebe 50 bolsas da Missão Criança. O Simesp espera ter o volume de bolsas suficiente para enviar em janeiro à Missão Criança, organização não-governamental que administra o programa.
Ao se cadastrar para doar o benefício, o médico pode informar sobre a sua disponibilidade para atender gratuitamente, o que não é obrigatório. Após o período de cadastramento, ainda sem prazo definido, o próprio Sindicato fará o agendamento das consultas ou exames em todo o estado, mas na expectativa de levar o projeto para todas as representações da classe pelo país, conta Erivalder, que também é presidente da Confederação Médica Brasileira e pretende levar a idéia para o próximo congresso, a partir do dia 14, em Belém.
"Nós não vamos ficar esperando uma solução [do governo], enclausurados em nossas casas. Quem pensa assim tem que ir embora do país. Não existe coisa pior do que ter que desviar de pessoas dormindo na calçada".
Mais uma missão
No total, são 60 mil médicos sindicalizados em São Paulo e “uma receptividade muito boa”, segundo Erivalder. Para a Missão Criança, o apoio vem em boa hora, com o ano terminando e alguns convênios também. Atualmente, 1.173 famílias no Brasil recebem a bolsa da Missão. Quem se orgulha do número é o secretário executivo da ONG, Marcelo Aguiar, que comemora a nova conquista.
"Esse patrocínio é muito importante, porque envolve toda a categoria e mostra que os sindicatos podem exercer outra atividade que não apenas a exigência de seus direitos corporativos e promover de fato a cidadania", elogia.
A alegria de Marcelo tem explicação: a organização foi uma das indicadas pelo Unicef como entidade com a qual o sindicato poderia manter parceria, quando o Simesp resolveu procurar projetos para apoiar. Para Marcelo, isso é uma das provas de que a iniciativa é inclusora e não assistencialista, pois dá ainda uma série de apoios – como microcrédito e capacitação profissional para os pais – para que as famílias, aos poucos, não precisem mais da bolsa. Ou seja, o seu objetivo é cada vez ser menos necessária.
Serviço
Para se cadastrar no Simesp, o telefone é (11) 3105-9147.
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