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A energia após 11 de setembro

Autor original: Fausto Rêgo

Seção original: Artigos de opinião

* Seth Dunn

Os trágicos ataques terroristas ao World Trade Center e ao Pentágono, e a reação militar subseqüente, suscitam questões espinhosas sobre a política energética dos Estados Unidos. Como se enquadra a dependência de importações de petróleo na presença militar dos Estados Unidos na Arábia Saudita – um dos principais fatores de indignação dos fundamentalistas radicais islâmicos? Como poderá a alta e contínua dependência do petróleo importado do Oriente Médio complicar os esforços americanos para erradicar o terrorismo da região? Serão as usinas nucleares alvos potenciais de futuros ataques terroristas?

Embora não existam respostas fáceis para questões como estas, é evidente que a atual infra-estrutura energética dos Estados Unidos apresenta várias vulnerabilidades. Estas incluem o risco de interrupção do suprimento de petróleo de regiões politicamente voláteis, o perigo de apagões, caso usinas sejam atingidas, e o risco de exposição a acidentes em usinas nucleares.

A boa notícia é que duas tendências de longo prazo, em andamento nos sistemas mundiais de eletricidade e energia – em direção à microenergia e ao hidrogênio – poderão ajudar a minimizar essas vulnerabilidades.

A microenergia, ou geração distribuída, limita o risco de interrupções no suprimento. Os terroristas enfrentariam sérias dificuldades para atingir centenas de células combustíveis ou painéis solares dispersos em porões, quintais e telhados. O hidrogênio, o elemento mais leve e abundante do universo, é visto cada vez mais pela indústria como o supremo condutor de energia.

A tecnologia que viabilizará o hidrogênio é a célula combustível que combina hidrogênio com oxigênio para produzir eletricidade e água. As células combustíveis estão sendo hoje desenvolvidas intensamente como sucessoras das baterias, das usinas elétricas e do motor de combustão interna. Derivado inicialmente do gás natural e posteriormente da energia renovável, o hidrogênio é um prenúncio de uma fonte de energia limpa e doméstica, que poderá minimizar a dependência do petróleo.

Embora a tendência em direção à microenergia e ao hidrogênio já estivesse em andamento antes de 11 de setembro, estes eventos – e as dificuldades enfrentadas na reação aos mesmos – ilustram as conseqüências do não-engajamento num esforço mais concentrado de ação política para acelerar a introdução destas soluções energéticas promissoras. Na realidade, tais eventos reforçam o argumento para um esforço, numa escala igual ao programa Apollo, para o desenvolvimento de uma infra-estrutura para produção, fornecimento e uso do hidrogênio. Embora haja custos na construção de uma economia de hidrogênio, devem ser colocados na balança em contraposição ao risco de se continuar a depender das importações de petróleo do Oriente Médio – que detém mais de 65 por cento das reservas petrolíferas mundiais.

Além da melhoria da segurança energética, um sistema de microenergia e hidrogênio poderá proporcionar eletricidade aos 1,8 bilhões de pobres em todo o mundo que não dispõem de acesso à energia moderna – uma fonte comum de inquietação social em muitas regiões. Poderá também aliviar os problemas da poluição atmosférica urbana e preparar o terreno para uma economia energética de baixo-carbono, benigna ao clima. E um sistema de microenergia e hidrogênio oferece oportunidades econômicas gigantescas para empresas e países arrojados que percebem a vantagem estratégica da mudança para novas fontes energéticas – como Winston Churchill percebeu, quando mudou o combustível da Marinha Britânica, durante a II Guerra Mundial, do carvão para o petróleo.

* Seth Dunn é pesquisador associado do WWI

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