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Saúde pede socorro

Autor original: Felipe Frisch

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor

Cerca de 6 mil pessoas podem deixar de receber atendimento de saúde reprodutiva na Reserva Extrativista do Alto Juruá, no Acre. Isso se a Associação Saúde Sem Limites, coordenadora do projeto na região desde 1991, não encontrar a tempo um novo financiador para a iniciativa, que desde 96 é patrocinada pela Fundação MacArthur. A fundação, no entanto, vai manter o financiamento somente até março do ano que vem.

"Normalmente a Fundação MacArthur, assim como várias agências de cooperação internacional, não tem a prática de realizar dois financiamentos consecutivos para um mesmo projeto", constata não com rancor, mas com orgulho, o médico e coordenador do projeto da SSL, Hélio Barbin, lembrando que o apoio vigente já é fruto da renovação de um primeiro, que venceu em 99. "Trabalhar com eles [a Fundação] foi um grande aprendizado, tanto em termos da relação interinstitucional como no aporte técnico referente à saúde reprodutiva".

A grande dificuldade do atendimento no Alto Juruá, além da ausência de infra-estrutura médica, é o transporte da equipe da SSL para o local e para casos mais sérios, que precisam ser encaminhados a Rio Branco ou Cruzeiro do Sul (três dias de barco). Os custos com pessoal são baixos, revela Hélio. “A previsão do orçamento para a continuidade do projeto por um período de três anos é de US$ 300 mil”, ele calcula.

No local, a SSL atua em parceria com a Associação dos Seringueiros e Agricultores da Reserva Extrativista do Alto Juruá (Asareaj). Entre as atividades, Hélio destaca o treinamento de parteiras tradicionais – respeitando a cultura local – e de agentes em saúde reprodutiva e DST/Aids. Todos escolhidos entre membros da comunidade e remunerados em parceria com o Programa de Agentes Comunitários em Saúde (Pacs) da Secretaria Municipal de Saúde de Marechal Thaumaturgo, financiado pelo Ministério da Saúde.

O coordenador enumera os resultados do trabalho: "Temos capacitados 20 agentes em atenção primária à saúde, 70 parteiras tradicionais e oito postos de saúde construídos nas proximidades. Além disso, na última campanha de prevenção de câncer de colo de útero e de mama [que inclui o diagnóstico e a procura de tratamento], tivemos a adesão de 250 mulheres, enquanto na primeira campanha o número não chegava a 100", contabiliza.

Se, por um lado, os resultados são bons, do outro as referências que a MacArthur dá são excelentes, com atenção especial para a instalação dos programas de supervisão do pré-natal, do parto e do pós-parto e para o oferecimento de métodos de planejamento familiar – pílula anticoncepcional e preservativo masculino, especialmente.

“A Saúde Sem Limites tem tradição em penetração nessas áreas de difícil acesso na Amazônia, onde a saúde é precária”, reconhece a coordenadora nacional da MacArthur, Magali Marques. O motivo para não renovar o convênio faz parte de uma reestruturação pela qual a fundação está passando, mudando suas prioridades e prenunciando sua saída do Brasil até 2005, ela revela.

"O momento é de deixar que outros financiadores ajudem também. A MacArthur, já há 11 anos aqui, está numa postura de eliminação de apoio ao Brasil, e o nosso foco, agora, é no impacto que o investimento feito pode causar. Concentrando, você causa mais impacto", diz. "Estamos focando a incidência sobre o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas. A nossa intenção, agora, é deslocar as atividades para a África".

Organizações interessadas em financiar o projeto da Saúde Sem Limites podem entrar em contato com o escritório central da entidade, pelo telefone da Saúde Sem Limites: (11) 5539-3803 ou (11) 5539-2968.

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