Autor original: Fausto Rêgo
Seção original: Artigos de opinião
* Michael Renner
A economia ambientalmente sustentável já criou aproximadamente 14 milhões de empregos em todo o mundo, com a perspectiva de outros milhões no século XXI, informa um estudo do WWI-Worldwatch Institute, em Washington.
Muitas novas oportunidades de criação de empregos estão surgindo, desde a reciclagem e refabricação de produtos até a maior eficiência energética e de materiais e o desenvolvimento de fontes renováveis de energia. A energia eólica já está gerando empregos em ritmo acelerado, inclusive para as funções de meteorologistas eólicos, engenheiros estruturais, metalúrgicos, mecânicos e operadores de computador.
"Os empregos estarão mais ameaçados onde os padrões ambientais são baixos e onde falta agilidade para inovações em prol de tecnologias mais limpas”, declarou Michael Renner, autor de “Working for the Environment: A Growing Source of Jobs”. "Nossa pesquisa revela um potencial imenso para criação de empregos fora das indústrias extrativas, empregos que não dependem do processamento gigantesco de matérias-primas em uma só direção e da transformação de recursos naturais em montanhas de lixo. O desafio para a sociedade é proporcionar uma transição justa para os trabalhadores que perderão seus empregos nos setores de combustíveis fósseis e da mineração."
Parte do crescimento mais acelerado de empregos está ocorrendo no desenvolvimento da eletricidade eólica, dos fotovoltáicos solares e da expansão da reciclagem e da refabricação. ”Em 1999, existiam cerca de 86 mil empregos em todo o mundo na fabricação e instalação de turbinas eólicas, um número que duplicou nos últimos dois anos. Até 2020, a energia eólica poderá representar 10% de toda a geração de eletricidade e emprego para aproximadamente 1,7 milhões de pessoas.
"A indústria fotovoltáica norte-americana, hoje, emprega diretamente quase 20 mil pessoas. As empresas européias de energia térmica solar empregam mais de 10 mil pessoas, um número que poderá aumentar em pelo menos 70 mil durante a próxima década, alcançando, talvez, 250 mil com forte apoio governamental. "O setor mundial de reciclagem hoje processa mais de 600 milhões de toneladas de materiais anualmente, fatura US$ 160 bilhões por ano e emprega mais de 1,5 milhões de pessoas. "Nos Estados Unidos, a refabricação já representa US$ 53 bilhões anuais, proporcionando cerca de 480.000 empregos diretos - o dobro do número de empregos da indústria norte-americana do aço.
"O investimento em energia renovável, o uso mais eficiente de energia e materiais e o desenvolvimento de produtos mais duráveis e reparáveis criarão mais empregos do que a continuação de investimentos em indústrias extrativas e combustíveis fósseis," disse Renner. Embora venham a existir menos empregos no setor extrativista e na indústria manufatureira, quando os produtos não se desgastarem rapidamente, haverá maior oportunidades em reparos, aperfeiçoamento, recuperação e reciclagem. A refabricação de produtos quando sua vida útil estaria normalmente terminada proporciona uma recuperação de 85%, ou mais, do valor agregado – mão-de-obra, energia e materiais incorporados ao produto.
O incremento da eficiência na utilização dos recursos significa que as empresas e as residências economizam uma grande parcela das centenas de bilhões de dólares que, de outra forma, seriam destinados à compra de combustíveis e materiais. O investimento do valor desses custos evitados em setores mais ambientalmente benignos da economia criará mais empregos do que o investimento em indústrias de recursos.
As indústrias que extraem e processam energia e matérias-primas estão entre as principais atividades poluidoras do ser humano e proporcionam apenas um pequeno e declinante número de empregos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a mineração, os serviços públicos e quatro setores industriais (processamento de metais primários, papel, refino de petróleo e produtos químicos) representam, conjuntamente, 84% de todos os poluentes tóxicos liberados. Em comparação, sua força de trabalho representa menos de 3% de todos os empregos do setor privado.
A maioria dos empregos na mineração e extração de madeira está ameaçada, mesmo sem leis ambientais mais rigorosas. O incremento da mecanização e automação reduziu a oferta de empregos - em alguns casos, até com aumento contínuo da produção. Por exemplo, de 1980 a 1999, a extração de carvão nos Estados Unidos aumentou em 32%, porém o nível de emprego caiu 66%. Na indústria química da União Européia, a produção cresceu 25% de 1990 a 1998, enquanto os empregos declinaram em 14%.
A criação de empregos é de importância fundamental no mundo em desenvolvimento, onde ocorrerá quase todo o crescimento populacional das décadas futuras. "O problema é que o trabalho humano é muito caro, enquanto os insumos energéticos e de matérias-primas têm um custo ínfimo," diz Renner. "As empresas há muito buscam a competitividade através da economia de mão-de-obra. Para se construir uma economia sustentável, precisamos economizar, sim, mas em energia e materiais".
A política fiscal pode ser um instrumento poderoso para aumentar a produtividade da energia e dos materiais. Os sistemas fiscais atuais incentivam o alto uso de recursos e desencorajam a criação de empregos. Uma reforma fiscal, ecologicamente dirigida, reduziria os impostos sobre salários enquanto, simultaneamente, elevaria os impostos sobre o uso de recursos e a poluição. Este tipo de deslocamento fiscal já se tornou realidade na década de 90, em vários países europeus, incluindo a Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Suécia e Reino Unido.
"A perda do emprego devido a regulamentos ambientais tem sido extremamente baixa – menos de 0,1% de todas as demissões nos Estados Unidos," disse Renner. "Porém, para construir uma coalizão efetiva com a mão-de-obra, os ambientalistas devem reconhecer que os trabalhadores afetados – principalmente aqueles nos setores de mineração, extração de madeira, combustíveis fósseis e indústrias de chaminé – precisarão de ajuda para se enquadrarem nas novas especializações, tecnologias e meios de vida. "Uma política de transição justa envolve o estabelecimento de um fundo para proporcionar renda e benefícios para trabalhadores deslocados que buscam uma nova profissão, apoio educacional para pagar programas vocacionais e de treinamento, serviços de orientação vocacional e colocação, assistência na procura de novo emprego e medidas para ajudar as comunidades e regiões a diversificarem sua base econômica.
* Michael Renner é pesquisador do WWI
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