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São Martinho comemora aniversário e aposta no futuro

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Crianças e adolescentes de todos os projetos da São Martinho fizeram apresentações culturais na festa de aniversário da instituição, realizada este mês no Parque das Ruínas, no Rio de Janeiro. Numa passarela, meninos e meninas desfilaram sua criatividade e auto-estima, com roupas produzidas nas oficinas de arte da instituição. As roupas foram confeccionadas com material reaproveitado, arrecadado com a colaboração dos funcionários. A organização da festa também teve o apoio de voluntários que ajudaram a maquiar e pentear as crianças. Estiveram presentes cerca de 400 pessoas, entre as quais representantes de diversas ONGs parceiras e amigos.


O cenário, as atrações, os convidados: parece que nada foi escolhido por acaso. A festa que comemorou os 17 anos da Associação Beneficente São Martinho foi um reflexo do processo de reestruturação pelo qual a instituição tem passado. A difusão da cultura da reciclagem entre crianças, adolescentes e funcionários, e uma maior aproximação em relação a outras ONGs são apenas algumas das transformações que ocorrem na instituição. “A São Martinho está procurando fazer uma profunda avaliação interna e repensar o seu trabalho metodológico para se adequar aos novos tempos”, conta Lucimar Corrêa, que faz parte da equipe do Centro de Formação e coordena as oficinas de arte da instituição.


A Associação Beneficente São Martinho atende crianças e jovens de 5 a 18 anos, em situação de risco social. No ano passado, a organização prestou assistência a 3.629 meninos e meninas, um número 245% maior do que o número de atendimentos em 1996. Com tamanho crescimento de suas atividades, a São Martinho prioriza agora, mais do que nunca, o cuidado em relação à qualidade do seu trabalho, que abrange diversos projetos, divididos em quatro linhas de atendimento. A linha emergencial, desenvolvida no Centro Sócio-Educativo e em seis casas-residência, nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, atende crianças e adolescentes que vivem nas ruas. A linha preventiva é desenvolvida através de núcleos comunitários e do projeto Mundo do Trabalho, com o objetivo de evitar que crianças e adolescentes de comunidades carentes busquem nas ruas uma falsa liberdade. Essa linha aposta no fortalecimento do vínculo familiar e na formação profissional dos jovens. O Centro de Defesa é responsável pela assistência jurídica e pela garantia dos direitos contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente. A linha de formação fica a cargo do Centro de Formação, que promove a capacitação e atualização dos profissionais da instituição. Os projetos são viabilizados através do financiamento de instituições nacionais e internacionais, doações de sócio-contribuintes, trabalho voluntário, convênios com empresas, parcerias e apoio dos governos municipal e estadual.


Todas as mudanças que estão sendo realizadas visam, acima de tudo, a reforçar a identidade da instituição e realizar o seu principal objetivo, que é o de evitar que crianças e jovens sem assistência vivam em situação de rua, oferecendo-lhes meios para que desenvolvam a sua cidadania e a oportunidade de ter uma vida digna.


Através do Centro de Defesa, a São Martinho tem buscado uma maior participação política para discutir as decisões que envolvem a área da infância e da adolescência. A instituição integra, atualmente, duas redes sociais: a Rede Criança Baixada e a Rede Criança Rio. A primeira pretende fortalecer os conselhos tutelares e as redes de atendimento em Duque de Caxias. Com a constatação de que grande parte das crianças atendidas no Centro Sócio-Educativo vem da Baixada Fluminense, a São Martinho, numa articulação com a Fase e com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, pretende intensificar a atuação nas comunidades de origem dessas crianças. O objetivo é evitar que elas venham para o Centro do Rio, na ilusão de encontrar melhores condições de vida, e acabem vivendo em situação de rua. A Rede Criança Rio já está realizando uma pesquisa qualitativa com as crianças em situação de rua da cidade para, no futuro, estar definindo políticas públicas para essa área. Fazem parte da rede várias instituições que trabalham com crianças de rua no Rio. Márcia Oliveira, gerente de projetos da São Martinho, destaca a necessidade de realização de parcerias para fortalecer o atendimento nessa área: “No Rio, não existe ainda muita articulação entre as instituições. O menino passa por vários centros de atendimento sem que haja nenhuma mudança nas suas condições de vida”, afirma. O trabalho em rede é uma tentativa de resolver  problemas articuladamente, de maneira efetiva.


O projeto No Mundo da Rua, voltado para adolescentes que estejam cumprindo medida socioeducativa de liberdade assistida, está passando por um grande processo de reformulação. Com o apoio do Unicef, esse processo teve início com um curso de extensão - realizado este ano na Universidade do Estado do Rio de Janeiro - para os profissionais que devem atuar no projeto. Para verificarem a prática do que aprenderam nas aulas, esses profissionais visitaram instituições com trabalho reconhecido no atendimento a jovens envolvidos em atos infracionais, em São Paulo. Os próximos passos já estão programados: um encontro para consultar os adolescentes sobre as atividades que eles gostariam de desenvolver no projeto e uma oficina de planejamento com os profissionais envolvidos, para a elaboração das atividades. Falta ainda buscar recursos e parcerias para a implementação do projeto reformulado, que está prevista para o segundo semestre de 2002.


Como na maioria das organizações sem fins lucrativos no Brasil, a captação de recursos é uma das maiores dificuldades da São Martinho. “As agências internacionais estão mais voltadas para a África e o Leste Europeu”, comenta Márcia. Para a São Martinho, essa dificuldade ainda é maior dentro do próprio país. “As empresas apóiam instituições por uma estratégia de marketing, para ter visibilidade. Por isso, preferem ter os seus nomes associados a projetos de arte e cultura aos de meninos de rua”, diz. Márcia lembra que a idéia que deveria prevalecer na nossa sociedade, entretanto, é a de que a solução dos problemas sociais mais urgentes é essencial para o desenvolvimento da arte e da cultura de um país.


Para saber mais informações sobre a São Martinho, os interessados podem entrar em contato com Mauro Gaspar Filho, assessor de comunicação, pelo correio eletrônico saomartinho@saomartinho.org.br, pelos telefones (21) 2252-7049/2242-2238, ou visitar o endereço www.saomartinho.org.br.

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