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FSM retoma debate por um novo mundo

Autor original: Fausto Rêgo

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

Ao levar à Africa do Sul uma das delegações mais numerosas, com cerca de 500 integrantes, entre representantes do governo e de organizações da sociedade civil, o Brasil mostrou a expressividade do movimento negro e seu anseio por mudanças estruturais significativas. O caminho iniciado em Durban está pavimentado em direção a Porto Alegre, quando as reivindicações dos afro-descendentes se farão ouvir novamente no Fórum Social Mundial, em fevereiro do próximo ano.

"O que precisamos agora é de um grande debate", afirma Nilza Iraci, do Geledés. "Estamos trabalhando, nesse momento, com o objetivo de incluir essas discussões no Fórum Social Mundial 2002, na perspectiva de uma maior capilarização dessas questões e na certeza de que um mundo melhor só será possível quando temas como discriminação racial e preconceitos de qualquer natureza fizerem parte da agenda global dos movimentos sociais que acreditam na convivência com as diferenças sem privilégios".

Nilza observa, porém, que o movimento negro não deve se perder em falsas questões. "Devemos, sim, abrir um grande debate com a sociedade sobre o significado dessas políticas, sobre a melhor maneira de implementá-las. Essa medida é urgente, pois setores conservadores da sociedade vêm operando no sentido de confundir o debate, inclusive em relação ao pagamento de indenizações, quem pagaria e quem seriam os beneficiários".

Márcio Alexandre, da FASE, acredita ser inócuo falar em valores financeiros, diante da quase impossibilidade de fazer um cálculo preciso. Mas considera que o investimento social, independentemente do montante a ser aplicado, é essencial para reverter o quadro de extrema desigualdade. "A gente pode falar em recursos, mas o mais importante é a vontade de mudar, é aquela velha expressão chamada ‘vontade política’. O problema é que o Brasil foi fundamentado na lógica da perpetuação das elites. Quebrar isso é muito difícil".

A despeito das aparências, Nilza Iraci acha que um grande passo para contornar essa dificuldade foi dado em Durban, quando a ONU reconheceu – "pela primeira vez na história" – que os negros têm sido vítimas de discriminação. A questão econômica, no entanto, teria barrado uma conquista ainda maior. "O reconhecimento da escravidão e do tráfico transatlântico de escravos como crimes contra a humanidade implicaria reparações e, em última análise, a discussão sobre quem pagaria a conta".

A melhor síntese da Conferência talvez tenha sido feita por Átila Roque, coordenador de Políticas Públicas e Globalização do Ibase, em artigo publicado no Observatório da Cidadania: "Os seus resultados talvez ainda sejam tímidos e limitados diante da enormidade dos problemas a serem enfrentados. Mas, sem dúvida, a agenda que se desdobra nos deixa diante de escolhas cruciais para o futuro dos povos. Uma bússola, ainda que frágil e contraditória, para nos levar a um mundo em que atos de desprezo absoluto com relação à vida humana, como o que presenciamos em Nova Iorque [nos atentados terroristas de 11 de setembro], não sejam possíveis".

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