Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
No século XVII os holandeses invadiram o Nordeste brasileiro em busca de açúcar e território - entre outros interesses. A administração do príncipe holandês Maurício de Nassau destacou-se em um setor que os portugueses não incentivavam muito: as artes. Anos depois, após combates com os lusitanos, os holandeses foram expulsos. Agora eles voltaram, porém o motivo não é domínio econômico, mas intercâmbio artístico. Há três semanas cinco holandeses estão em Recife (PE) e doze em São Paulo, desenvolvendo um projeto de troca de experiências com comunidades de artesãos.
Por iniciativa da organização não-governamental e museu virtual A Casa, alunos do último ano da Academia de Design de Eindhoven estão trabalhando e convivendo com jovens da Associação Monte Azul na capital paulista e artesãos da Fundação Padre João Câncio, em Pernambuco. O nome do projeto, desenvolvido desde 1999, é “Design Solidário” e tem como objetivo potencializar o uso da renda das comunidades através de sua introdução em novos meios. É a primeira vez que a Academia, uma das mais conceituadas escolas de design da Europa, sai do Velho Continente para realizar um projeto desse tipo.
A Monte Azul possui cinco oficinas semi-profissionalizantes para adolescentes de três comunidadades carentes paulistas: Peinha, Monte Azul e Jardim Horizonte Azul. Há também duas oficinas produtivas de marcenaria que empregam jovens e adultos para trabalharem com objetos de madeira, papel reciclado e brinquedos educativos. O intuito da Associação é proporcionar não só educação profisionalizante aos jovens como também realizar um trabalho de cidadania. Por isso realizam cursos com estrangeiros. Segundo o coordenador Iran, “o objetivo é fazer uma troca de técnicas entre os brasileiros e os holandeses. A interação nos beneficia no sentido de que os alunos acabam se interessando mais pela teoria e procuram se aprofundar nela. Por outro lado, os estrangeiros, com mais escolaridade e formação teórica, se interessam pela técnica brasileira de artesanato”. Segundo Renata Mellão, presidente da A Casa, o objetivo é fazer peças diferentes e baratas. “Os holandeses já vieram para cá imaginando utilizar materiais baratos como os que são utlizados na Monte Azul. Muitos são doados por fábricas”, diz ela.
Na Fundação João Câncio os holandeses irão trabalhar com produtos feitos de couro, como roupas e calçados. De acordo com Renata, a intenção é explorar o lado mais tradicional da região.”Em Recife os artesãos fizeram amostras de seus trabalhos e a partir daí os holandeses os ajudaram a fazer novos projetos”.
Em ambas as localidades, os estrangeiros, além de trabalhar com os brasileiros, estão morando com eles nas comunidades onde vivem. Essa interação faz com que os dois lados absorvam e compreendam mais a cultura um do outro e formem amizades. “Alguns deles até já arrumaram namorada”, diz Renata.
A possibilidade de realização do caminho inverso, ou seja, artesãos brasileiros irem para o exterior se aprofundar seria interessante, mas difícil. Segundo Iran, “seria maravilhoso os alunos irem para fora fazer cursos, mas o problema são os recursos”. Porém, Renata Mellão afirma que a intenção da A Casa é realizar o aprofundamento da profissão aqui mesmo. A próxima faculdade a colaborar é Faculdade de Belas Artes de São Paulo, que deve realizar um trabalho semelhante ao dos holandeses. O resultado da interação entre brasileiros e holandeses será exposto no Museu de Arte Moderna de Higienópolis - que participa cedendo o espaço, a montagem e o catálogo da exposição - em São Paulo, de 30 de novembro a 9 de janeiro. De lá a exposição segue para a capital pernambucana e depois para a Holanda. Os produtos serão vendidos posteriormente com ajuda do Sebrae, mas Renata afirma que o que mais interessa não é o dinheiro arrecadado, mas o processo de integração e troca de idéias, benéfico a todos”.
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer