Autor original: Felipe Frisch
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No dia 25 de novembro, organizações do mundo inteiro se propõem a dar uma lição em homens que violentam mulheres. Uma lição de cidadania, pois é disso que eles precisam. A data marca o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, promovido pela ONU e apoiado, por enquanto, por seis ONGs brasileiras: o Programa Papai, do Recife, o Centro de Educação para a Saúde (CES), de Santo André, a Ecos Comunicação e Sexualidade e o Promulher, de São Paulo, e ainda o Instituto Promundo e o Instituto Noos, do Rio, que trouxeram para o Brasil a Campanha Internacional do Laço Branco, criada no Canadá.
O símbolo da campanha também foi importado, mas adaptado. Ao invés de uma fitinha branca pregada na roupa, como a tradicional canadense (semelhante à vermelha, da Aids), os coordenadores aqui resolveram distribuir fitas (brancas) para serem colocadas no pulso, com uma mensagem de apoio. O objetivo da conscientização é falar não apenas para homens infratores, mas também para aqueles comprometidos com o combate à violência - que podem ajudar a multiplicar a idéia, e assim atuar muito mais na prevenção do que na punição.
– Muito se faz em defesa das vítimas, mas pouco para entender por que a violência acontece. Muitas vezes se cai na relação maniqueísta entre culpado e vítima. Não podemos entrar nesse jogo. É necessário um processo de construção, que inclua as crianças e as famílias – explica Marcos Nascimento, assistente de projetos do Promundo. Ele lembra que muitos jovens assistem a cenas de violência em casa e têm que aprender a trabalhar o assunto.
O que está faltando mesmo é falar de homem para homem
Segundo uma das diretoras da Ecos, Silvani Arruda, “a década de 90 foi marcada por uma grande preocupação com as mulheres, mas as campanhas em geral são feitas pelas próprias mulheres e não se fazia a discussão com os homens. "De pouco tempo para cá, surgiram alguns estudos sobre sexualidade, como os do Programa Papai", ela destaca. “O laço é como uma assinatura, um compromisso”, explica a militante que defende que “a campanha deveria ser feita o ano inteiro”.
A programação tem início nesse final de semana, mas não deve parar por aí. As instituições organizadoras envolvidas estão buscando apoio de quem estiver disposto a aderir à campanha, de diferentes formas: seja produzindo e distribuindo fitas, colocando em suas pautas o assunto, se engajando ou mesmo fortalecendo a criação de redes. No domingo, 25, acontecem caminhadas no Rio e em São Paulo, e no dia seguinte um seminário entre lideranças no hospital Philippe Pinel, no Rio, lança nacionalmente a campanha, com a presença da senadora Marina da Silva.
Uma iniciativa já vencedora, que está na pauta do seminário de segunda, no Hospital Philippe Pinel, é a implementada pelo Instituto Noos, que, em parceria informal com os Juizados Especiais do Rio de Janeiro, desenvolve um trabalho de conscientização de homens autores de violência. Marcos Nascimento quer inserir esse tipo de programa como uma das propostas de alteração da Lei 9.090, de 1995 - que cria os juizados - como modalidade de punição alternativa, mas com maiores chances de resultados do que as atuais, que incluem, por exemplo, a ineficaz doação de cesta básica para uma família carente.
– É uma questão de responsabilização, mas também de dar a oportunidade de esses homens estarem pensando o que é ser homem. Queremos desconstruir esse conceito – ensina Nascimento, dando o exemplo com um projeto do instituto, em Bangu, onde a questão é debatida por jovens indicados por líderes comunitários das favelas Vila Aliança (Bangu) e Nova Holanda (Complexo da Maré).
As caminhadas de domingo saem: em São Paulo, do Parque do Ibirapuera, às 11h; e do Rio, da Praia de Copacabana, com concentração em frente à Rua Figueiredo de Magalhães às 10h, em direção a Ipanema. No Recife, o Programa Papai estará liderando um ato público no dia 9 de dezembro, saindo às 16h da Praça do Palácio das Princesas, em direção ao Marco Zero.
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