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Prêmio Empreendedores Sociais

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

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No próximo dia 27 de novembro vai ser entregue o prêmio Empreendedores Sociais, uma iniciativa da Ashoka Empreendedores Sociais em parceria com a McKinsey - uma das maiores empresas de consultoria do Brasil. A premiação beneficiará organizações da sociedade civil que mostrem soluções criativas para problemas sociais e usem o plano de negócio como ferramenta fundamental para a implementação de seus projetos. Neste ano, participam 230 organizações e 350 estudantes de todo o país que procuram desenvolver um plano de negócios para seus projetos. O primeiro colocado recebe R$ 30 mil. Nesta entrevista, Viviane Naigeboin, coordenadora do Centro de Competência para Empreendedores Sociais da Ashoka, fala sobre a premiação e a profissionalização do terceiro setor e a evolução dos trabalhos das organizações sociais.


Rets: Quais são os objetivos da Ashoka com a promoção do Prêmio Empreendedores Sociais?


Viviane Naigeboin: O objetivo é capacitar e profissionalizar organizações sociais para realizar um plano de negócios eficiente. O Plano de Negócios é uma ferramenta típica da iniciativa privada, mas que pode perfeitamente ser usada em organizações sociais. Para isso fizemos uma parceria com a McKinsey, uma das maiores empresas de consultoria do País, para adaptar os planos de negócio às organizações sociais. Além disso, o prêmio visa a sensibilizar estudantes universitários, colocá-los em contato com o terceiro setor e capacitá-los para trabalhar nessa área. Isso porque são selecionados 80 estudantes para trabalhar com as organizações durante seis meses, tempo em que é desenvolvido o plano de negócios definitivo de cada uma delas.


Rets: Quais foram os projetos vencedores na primeira edição do prêmio e como a premiação refletiu no andamento destes projetos?


Viviane: O primeiro colocado foi o projeto Quixote, que é uma agência de grafitagem para jovens de rua. Hoje em dia o projeto virou uma agência que oferece serviços de pintura e artes plásticas, desde maio. Isso gera renda para a organização e insere jovens grafiteiros no mercado de trabalho. A premiação ajuda no sentido financeiro, pois o primeiro colocado recebe R$ 30 mil, o segundo R$ 20 mil e o terceiro R$ 10 mil. Esse é um recurso inicial bastante bom para organizações sociais. Os primeiros colocados recebem consultoria gratuita da McKinsey por dois meses. É a única possibilidade de organizações contarem com esse tipo de serviço, que é muito caro.


Rets: Como foi a participação das organizações nesta segunda edição? Houve mais inscritos do que no ano passado?


Viviane: Em 2000, foram 170 organizações sociais e 180 estudantes inscritos de todo o país. Este ano são 230 organizações e 350 estudantes concorrendo ao prêmio. Foi um aumento significativo, mas o que mais nos deixa felizes é perceber que não só o número de inscritos aumentou. A qualidade dos projetos cresceu bastante.


Rets: A que se deve esse crescimento?

Viviane: O crescimento com certeza é fruto da profissionalização do terceiro setor. Várias organizações estão utlizando metodologias de trabalho cada vez mais profissionais e isso traz resultados.


Rets: Que tipo de projeto tem prevalecido entre os inscritos?


Viviane: Na verdade houve uma mudança do ano passado para este. Em 2000, prevaleceram projetos ligados a produtos como artesanatos, produção de bonecas, materiais a partir de papel reciclado. Em 2001, foram inscritos mais projetos ligados a serviços. Um exemplo é o Physis, um dos finalistas. É um projeto de habitação popular que capacita jovens e adultos de Recife não só para trabalhar como mão-de-obra na construção civil mas também para ter noções de estética. Dessa forma a organização oferece para a Prefeitura recuperação dos espaços públicos a preços mais baixos e com qualidade.


Rets: Que área de atuação tem sido mais frequente (ambientalismo, direitos humanos, educação)?


Viviane: Quanto a área de atuação, é difícil dizer qual é mais frequente, pois os temas são muito variados. Os mais comuns são sobre saúde, habitação popular, reciclagem e meio-ambiente, sempre ligados a serviços.


É importante ressaltar que damos preferência a projetos ligados à missão da organização. Se uma organização que cuida de crianças decidir fazer pão, com certeza, não será selecionada por nós.


Rets: Quais são as razões dessa migração de produtos para serviços?


Viviane: As organizações perceberam que sua força está no serviço, que é algo que pode ser disponibilizado mais facilmente. A inserção de produtos é mais difícil, pois a concorrência é muito forte e não é especialidade de organizações sociais.


Rets: No evento de entrega do Prêmio, também será lançado o livro "Empreendimentos Sociais Sustentáveis - como elaborar planos de negócio para organizações sociais". Segundo a Ashoka, é a primeira publicação no Brasil que traz a metodologia de elaboração de planos de negócio aplicada e adaptada à área social. Como as organizações tem utilizado esta metodologia do Plano de Negócios, até o momento?


Viviane: Nosso treinamento possui três etapas, onde procuramos capacitar as organizações de acordo com os princiapis projetos, os produtos, a organização da equipe, o mercado de atuação. O livro traz tudo condensado e isso ajuda, pois a linguagem de negócios é complicada. A maiores dificuldades estão na área de pesquisa de mercado, financiamentos, expressar a organização e seus objetivos em documentos oficiais de maneira objetiva etc. É importante deixar claro que o plano de negócios é uma ferramenta administrativa e não a solução para todos os problemas.


Rets: Na sua opinião, projetos sociais podem ser tratados como negócios? Como o terceiro setor pode se apropriar de práticas típicas do setor empresarial, sem perder de vista seus conceitos e objetivos originais - como o da não-lucratividade e o caráter público?


Viviane: Eles não podem ser tratados como tal e esse não é o objetivo. Quando uma organização planeja gerar renda e isso implica entrar no mercado, deve ficar claro que não se deve buscar a liderança. Os projetos devem gerar renda e não dor de cabeça. Quando forem pensar o público consumidor, seja de produtos ou de serviços, a visão é outra, deve sempre visar melhorar a qualidade de vida e não gerar lucro. O grande desafio é estar sempre focando a missão original e não confundir as coisas. O setor social deve pensar no social e não o setor privado pensar no social.

A tendência das organizações sociais é a profissionalização de todas as áreas, desde o atendimento até a administração. Elas devem buscar alternativas de geração de renda para não depender somente de contribuições externas.

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