Lembranças de Betinho

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Foi lançado no último dia 4 pela Editora Garamond, o livro "Estreitos Nós – Lembranças de um Semeador de Utopias", que reúne textos e depoimentos sobre o sociólogo Herbert de Souza - o Betinho. As lembranças estão registradas num texto do próprio Betinho e nos relatos dos amigos, que deram grande apoio a Maria Nakano, viúva de Betinho, e Ari Roitman, editor da Garamond, na organização do livro. Recordações de amigos e companheiros como o jornalista Zuenir Ventura, o vereador Chico Alencar, a economista Maria da Conceição Tavares, o escritor Frei Betto e os compositores Aldir Blanc e Chico Buarque de Hollanda ajudam a compor o perfil do sociólogo desde a infância, passando pelas primeiras experiências políticas e chegando à criação da campanha Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Os amigos lembram o militante que participou de milhares de conferências, seminários, cursos, palestras com trabalhadores, camponeses, estudantes, associações de moradores, comunidades de base, sindicatos e igrejas, em todo o país, e criou o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).

As reflexões dos diversos amigos encontram-se no carinho pelo homem público que tinha uma enorme capacidade para aglutinar diversos setores da sociedade em torno de uma ação de solidariedade. Os comentários sobre suas características pessoais misturam-se às histórias de luta social. Nas palavras dos amigos, é inevitável um toque afetivo nos comentários sobre o perfil político e intelectual de Betinho. Embora tenha realizado trabalhos importantes em conjunto com Betinho, criando e mantendo projetos civis, Carlos Alberto Afonso, co-fundador e ex-diretor do Ibase – atualmente responsável pela área de Desenvolvimento Tecnológico da Rits – diz no seu depoimento que sente saudades, principalmente, da convivência pessoal com o amigo: "Era o grande amigo-irmão que eu adorava e de quem sinto mais falta – apesar de o Brasil certamente sentir muito mais falta do militante incansável, da pessoa implacável e decidida na defesa dos direitos elementares do ser humano, daquele sujeito que não temia os poderosos e tinha coragem de ter opinião própria e manifestá-la em qualquer circunstância". As histórias revelam várias facetas de um homem que viveu intensamente. Tinha um ótimo senso de humor e adorava um bate-papo com os amigos, música e uma cervejinha gelada.

O texto comovente escrito por Betinho poucos meses antes de sua morte é uma declaração de amor para sua mulher, Maria Nakano, que o acompanhou em todos os momentos. Além dos textos, o livro é composto de cartuns e ilustrações de Betinho doados pelo Ibase.

"Estreitos nós" é um registro da determinação de Betinho em momentos importantes do país, sempre defendendo os direitos humanos; do homem público que deixou grandes exemplos e idéias. Betinho convocou todos os brasileiros a participar de uma caminhada solidária, ética e justa. Sonhava com uma sociedade onde prevalecesse o respeito pela vida e a consciência de direito à cidadania. Ari Roitman acredita que uma das características mais impressionantes de Betinho era, sem dúvida, a sua capacidade permanente de indignação e revolta contra a injustiça, a desigualdade e a exclusão social. Nem mesmo a Aids fez Betinho desistir de sua luta. "Betinho demonstrou uma extraordinária força de vontade de viver, ao enfrentar a doença com coragem e dignidade", diz Ari. Os textos revelam uma enorme lucidez do "semeador de utopias", uma inspiração e um exemplo de luta constante pela transformação e pela vida.

"Estreitos Nós – Lembranças de um Semeador de Utopias". Editora Garamond. Org.: Maria Nakano e Ari Roitman. 14 x 21 cm. 160 páginas. 18 caricaturas. R$20,00.