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Care no Brasil. Ou melhor: Care Brasil

Autor original: Felipe Frisch

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

A organização internacional Care está no Brasil. Oficialmente, isso já tem mais de um ano, e pouca gente sabe disso. Mas tudo bem: a instituição quer provar do que é capaz na hora em que for mostrar sua cara (o que deve acontecer para a grande mídia em abril de 2002). E foi para começar a definir essa e outras estratégias que o seu Conselho Deliberativo e sua Diretoria Executiva (todos brasileiros, nos dois casos) estiveram reunidos com cerca de 40 representantes da sociedade civil nos últimos dias 14 e 15.

Até o momento, a Care Brasil – formalizada em outubro de 2000 - está atuando apenas na região cacaueira do sul da Bahia, em um projeto de fortalecimento do desenvolvimento local e agrícola de 210 famílias em cinco comunidades. Nem pretende parar por aí, nem está com foco definido ainda. A organização conta com o suporte de 55 anos de experiência da federação que começou suas atividades dando apoio aos refugiados da Segunda Guerra. Hoje, a Care Internacional atua em 70 países na erradicação da pobreza, seu tema central.

Desses lugares, 11 são apenas sedes da instituição, onde não há projeto social local em andamento. Ou seja - são apenas usados para captar recursos, dentro da lógica da “distribuição mundial de riquezas” que a Care considera primordial, como destaca o Secretário Executivo para o Brasil, Marcos Athias Neto. A distribuição, aliás, é uma especificidade do caso brasileiro:

- A diferença entre se tratar da pobreza no Brasil e em outros lugares do mundo é que não somos um país pobre. Isso tanto é verdade que, diferente do que acontece em qualquer um dos países em que atua, a Care vai captar recursos aqui e usá-los aqui mesmo – Marcos identifica. Ele lembra que, em números absolutos, o país tem mais pobres do que o resto da América Latina inteira, fora o México.

Não à toa, a grande dificuldade da Care para chegar ao Brasil até o momento era identificá-lo como pobre. “Apesar de ter mais de 50 anos de existência, a Care não conhece o Brasil”, explica. Outra questão particular brasileira foi - durante um longo período - a instabilidade econômica, que não inviabilizava somente cálculos e financiamentos a longo prazo.

- Fica mais fácil de entender um país sem as desigualdades abafadas pelo imposto inflacionário. Cada um passa a ter o seu papel original. Bancos passam a ser bancos e cobrar pelos serviços, ao invés de apenas lucrar com a inflação. A estabilidade traz à tona a situação social real do país – constata o Secretário. - Até então, na dúvida entre colocar dinheiro em um país com problemas internos ou em Ruanda, colocava-se em Ruanda.

Na sexta-feira e no sábado em que aconteceu o Seminário “Erradicar a Pobreza: Compartilhar o Desafio”, o grupo presente era bastante heterogêneo, e reunia: governo (o IPEA, representado pelo Diretor de Estudos Sociais, Ricardo Paes de Barros, por exemplo), setor privado (a Diretora de Relações Comunitárias das Organizações Globo, Margarida Ramos), além de diversos representantes da sociedade civil, já parceiros da Care Brasil na Bahia, e outros apoiadores mais ideológicos do que formais.

- Essas pessoas exemplificam as 3 pernas que dão suporte à sociedade. Eu acredito que funcione como um banquinho, em que uma depende do outra. No Brasil, se dá um valor maior ao Estado do que aos outros setores, e aí não funciona, porque uma perna está maior do que as outras – ilustra o Secretário Executivo, para explicar que a palavra de ordem da Care Brasil não é apenas criar projetos, mas estabelecer parcerias.

Além do suporte voluntário que recebe de empresas de comunicação (a agência McCann-Erickson e a assessoria de imprensa Porta-Voz), a Care Brasil conta com a participação ativa da população pobre na liderança dos projetos que apóia. A Care considera que, na maior parte das sociedades, a camada pobre tem por tradição se organizar e construir saídas para a sua condição, especialmente em movimentos comunitários ou sociais. Por fim, Marcos não deixa dúvidas sobre a filosofia da nova ONG. “A Care Brasil não é a Care no Brasil, é a expressão brasileira da Care”, conclui.

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