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Imagens da juventude verde e rosa

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Novidades do Terceiro Setor






Os jovens alunos das oficinas de fotografia, vídeo e texto, da Casa das Artes da Mangueira lançaram e autografaram, no dia 13 de dezembro, o livro "Coração do Morro – Histórias da Mangueira", produzido integralmente por eles. No Núcleo de Cultura Audiovisual do projeto, 120 adolescentes da comunidade mangueirense desenvolveram, ao longo de dez meses, um trabalho cujo resultado está documentado no livro e em três vídeos.


O projeto da Casa das Artes, que começou a ser desenvolvido no ano passado, em caráter experimental, foi elaborado em conjunto com a própria comunidade. Nesse processo, os moradores manifestaram interesse em desenvolver atividades que abordassem, principalmente, linguagens artísticas e as histórias da comunidade. "Concluímos que a comunidade tem um grande desejo de trabalhar a "identidade mangueirense", conta a idealizadora do projeto, a arte-educadora Sueli de Lima, que conta com a colaboração de uma equipe de 11 profissionais.


Patrocinada pela Xerox do Brasil, a Casa das Artes foi inaugurada em março deste ano, com a proposta de oferecer aos adolescentes da comunidade da Mangueira uma formação artística abrangente, como meio de estimular e valorizar a arte local e o intercâmbio cultural. Para fazerem parte da Casa das Artes, os adolescentes têm que estar matriculados em escola formal.


Entusiasmados com a proposta, 270 jovens do morro participam do projeto que, além do Núcleo de Cultura Audiovisual, inclui o Núcleo de Pesquisa Artística, onde os alunos participam de oficinas de linguagens visual, musical e corporal.


No Núcleo de Cultura Audiovisual, os jovens mangueirenses, através das três oficinas - texto/reportagem, vídeo, fotografia - , têm a possibilidade de recuperar a memória sócio-cultural do morro sob o ponto de vista deles. "O jovem precisa de espaço para se expressar", diz Sueli. "Através do trabalho com linguagens contemporâneas, damos voz a essas crianças e adolescentes."


Com a orientação do jornalista Alexandre Medeiros, do fotógrafo Vantoen Pereira Júnior e da videomaker Marilisse Navarro, os alunos realizaram ao longo do ano pesquisas, entrevistas de campo, técnicas de redação e manejo de equipamentos fotográficos e de vídeo. Com esses instrumentos, os adolescentes puderam confrontar discursos de antigos e novos moradores, cumprindo, deste modo, a proposta de resgatar a cultura da comunidade. A resposta desses jovens foi tão boa, que eles chegaram a cobrir interessantes furos jornalísticos. "Um desses furos foi a descoberta de uma outra versão da história da escolha das cores verde e rosa da Mangueira", conta Sueli.


"Coração do Morro – Histórias da Mangueira" reúne textos, crônicas, entrevistas e fotos, que abordam temas que representam os interesses desses jovens. Os assuntos pesquisados foram escolhidos pelos próprios adolescentes e organizados no livro em quatro temas principais: educação, família, saúde e arte. Dentro desses temas, foram enfocadas manifestações culturais presentes na comunidade - como música, artesanato e dança - e assuntos polêmicos como gravidez na adolescência, violência familiar, crianças fora da escola, discriminação racial, trabalho infantil, desemprego e alcoolismo. Os vídeos também retratam o universo dos adolescentes da comunidade. Três documentários – "Sambapagodefunk", "Entre fraldas e batons", sobre mães adolescentes, e "Qual é a sua cor?", sobre discriminação racial – foram produzidos no morro e editados pelos alunos da oficina de vídeo na PUC, graças a uma parceria entre a coordenação da Casa das Artes e a universidade.


Em 2002, a Casa das Artes dará continuidade às oficinas do núcleo audiovisual e, através de um esquema de rodízio, os alunos terão a oportunidade de trabalhar com todas as linguagens desenvolvidas no projeto.


Para Sueli, a escolha dos temas mostra que não se deve pensar as questões sociais do jovem morador do morro de uma forma diferenciada das questões daquele que vive no asfalto. "Os temas escolhidos pelos jovens mangueirenses são temas universais dos jovens. Eles não querem discutir o tráfico no morro. Querem discutir as questões que envolvem a família que, para eles, é o tema principal, de onde surgem todas as outras questões", diz. Ela acredita que as soluções para os problemas do cidadão jovem que habita a cidade do Rio de Janeiro devem ser elaboradas a partir de uma visão mais integrada da cidade, sem a dicotomia entre morro e cidade.


A Casa das Artes da Mangueira funciona num sobrado pintado de verde e rosa, na Rua Visconde de Niterói, 1.168, loja A, próximo ao Palácio do Samba. Mais informações pelo telefone (21) 2567-6283.

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