Autor original: Fausto Rêgo
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
![]() ![]() Foto: Cristina Lima ![]() | ![]() |
Falta pouco, agora. A quase um mês do seu início, o Fórum Social Mundial 2002 – em Porto Alegre, de 31 de janeiro a 5 de fevereiro – já desperta enorme interesse e equivalente expectativa. O número de participantes, entre delegados, platéia e imprensa, pode chegar a 50 mil. Até o momento, existem mais de 19 mil pré-inscritos – no ano passado foram 4.700 inscrições – e 3.507 organizações de 108 países oficializaram seu interesse em participar. Com o cenário que se desenhou a partir dos atentados terroristas de 11 de setembro, nos Estados Unidos, o Comitê Organizador decidiu dar destaque às discussões sobre a paz. Organizações internacionais de direitos humanos – algumas do Oriente Médio, onde hoje se desenrolam os mais graves conflitos – foram convidadas. Além disso, personalidades como o arquiteto argentino Perez Esquivel e a ativista guatemalteca Rigoberta Menchu (ambos vencedores do Prêmio Nobel da Paz) estarão presentes para reforçar o apelo pelo ideal de confraternização entre os povos.
Também confirmaram presença o professor e lingüista Noam Chomsky, dissidente político norte-americano que tem vários livros publicados sobre o intervencionismo dos Estados Unidos no terceiro mundo; o escritor português José Saramago (Prêmio Nobel de Literatura); o sociólogo e também português Boaventura dos Santos Souza (que vai falar sobre democracia participativa); a ativista indonésia Dita Sari (uma das líderes do movimento pela independência do Timor Leste, ela fala sobre perspectivas do movimento global da sociedade civil); a pesquisadora Vandana Shiva, da Índia (que aborda o tema da sustentabilidade ambiental); o escritor paquistanês Tariq Ali (que fala sobre combate à discriminação e à intolerância); e o teólogo brasileiro Leonardo Boff, entre outros.
Programação
As cerimônias de abertura e encerramento serão realizadas no ginásio Gigantinho e a Pontifícia Universidade Católica vai abrigar as principais atividades. A grade de conferências já está praticamente pronta e pode ser consultada no site oficial do evento. Pela manhã serão realizadas as conferências; à tarde, as oficinas e os seminários; e no fim do dia, os testemunhos, em que ativistas e personalidades falam sobre suas experiências.
Geraldo Fontes, do Movimento dos Sem Terra – uma das oito entidades que compõem o Comitê Organizador –, acredita que o Fórum é um espaço para intercâmbio de experiências. "Nem todo mundo endossa as mesmas posições. A gente não pretende ter um documento único, mas um resumo das discussões, expondo o consenso, quando houver, ou relatando as posições divergentes, quando ocorrerem", explica. Como membro da organização Via Campesina, que coordena movimentos camponeses em todo o mundo, o MST pretende realizar uma mobilização contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e estará participando do Tribunal da Dívida Externa, organizado pela campanha "Jubileu Sul – por um milênio sem dívidas".
Fátima Mello, que também integra o Comitê Organizador, representando a Abong, acha que o Fórum Social Mundial é um espelho da diversidade da sociedade civil internacional. "Por isso, assim como aconteceu no ano passado, não pretendemos tirar um documento único. O importante é que estamos mantendo a polarização com o Fórum Econômico Mundial (realizado anualmente – e simultaneamente – em Davos, na Suíça). Além disso, vamos lidar com a grande questão da paz, o que transcende Davos. É uma afirmação de uma outra agenda, ligada à paz e à justiça", comenta. "A gente quer que em todos os eventos do Fórum perpasse a discussão sobre a paz no mundo".
De fato, o cenário mundial, hoje, é bem diferente do ano passado, quando da realização do primeiro Fórum Social Mundial. Para Antônio Martins, outro membro do Comitê Organizador, pela Attac (Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos), o desafio é fazer com que o evento, além de um sucesso de público, tenha êxito político. "A situação, agora, é muito mais complicada: guerra, ataques às liberdades civis, violação de direitos dos imigrantes, tribunais políticos... isso exige respostas, e o Fórum Social Mundial deve tirar algumas propostas comuns". Martins destaca a divulgação prévia dos documentos das conferências como fator agregador. "Você pode saber o que vai ser debatido, os temas e as idéias que vão ser discutidos lá. Por isso a possibilidade de haver consenso é maior", acredita.
Mas o Fórum vai além das conferências e das oficinas. O Movimento Negro vai criar um quilombo para organizar o seu painel de debates, o Forumzinho dará voz a crianças de todo o mundo e o Acampamento da Juventude, montado no Parque da Cidade, deve reunir cerca de 10 mil pessoas. "Eles vão dar um colorido novo, por serem movimentos sociais de muita força. E é muito importante a presença deles e essa disposição de luta contra o processo de globalização que estamos enfrentando", diz Martins, que crê na possibilidade de transformações a partir do evento. "Acho que isso vai depender da capacidade de construir propostas. Não podemos dizer duas vezes que outro mundo é possível. É preciso demonstrar como. Se não apresentarmos alternativas, o Fórum se esvazia".
A RITS, que integra o Conselho Brasileiro do Fórum Social Mundial, hospeda o site oficial do evento e vai marcar presença entre os expositores. Uma equipe da RETS também estará em Porto Alegre para fazer uma cobertura exclusiva.
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